Resenhas - Tranny: Confissões da Anarquista mais Infame e Vendida do Punk Rock

Larissa 21/05/2020

Tranny é a terceira autobiografia escrita por um músico LGBT que li nessa quarentena. Baseado nos diários que Laura Jane Grace manteve desde a juventude, vemos dentro do panorama da história de sua banda, Against Me!, sua jornada de aceitação.

A raiz da ideologia punk deveria permitir que a cena fosse um espaço seguro e livre para as pessoas se expressarem, enquanto elas representassem seus princípios e se mantivessem longe das grandes corporações. Na prática, em muitas cenas, a roupa errada, o cabelo longo demais ou um som que não se encaixe no que as outras bandas estão fazendo é o suficiente para excluir alguém.

O Against Me! nasceu dessas ideias e por anos foi um representante exemplar do DIY, usando sua música como uma manifestação política. Todo esse respeito conquistado não sobreviveu ao momento em que eles assinaram com uma grande gravadora, sendo tachados como traidores. Daí seguiram inúmeros boicotes, vaias e confusões nos shows, até brigas de bar que acabaram em tribunal.

Mas dentro dessa cena dominada pelo masculino, se escondia um conflito maior do que o crédito punk da banda: a disforia de gênero de sua vocalista. Presente desde memórias remotas da infância, Laura Jane Grace tentou reprimir esses pensamentos com álcool, drogas e excessos, exorcizando a dor nas músicas e revelando fragmentos secretos de si em suas letras. Na superfície, se obrigava a rir junto enquanto os companheiros de banda faziam comentários transfóbicos. Por dentro, sentia o imenso desconforto de saber que poderia um dia ser alvo da mesma discriminação.

O que os fãs iriam pensar? O que a banda vai pensar? Sua esposa? Sua filha? Gradativamente percebeu que a transição não se tratava de uma escolha. E que ia custar muito.

Foi uma decisão que quase dissolveu a banda, mas que trouxe seu disco mais aclamado pela crítica. Corroeu o casamento com o amor de sua vida, enquanto a representatividade de uma pessoa trans na frente de uma banda punk trouxe toda uma nova leva de fãs inspirados por sua história dentro e fora da cena.

Esse livro funciona como uma libertação tanto quanto o álbum Transgender Dysphoria Blues, onde pela primeira vez sua identidade não esteve escondida nas entrelinhas. Laura Jane Grace pode finalmente ser ela mesma.

Arthur Vaz 28/07/2020

Obrigatório para os fãs de Against Me! e da Laura.
Against Me! está entre as minhas bandas da vida e eu sempre fiquei instigado por suas letras.

Nesta biografia, Laura nos apresenta sua história (que é a história do AM!) de uma maneira sincera e bastante crua.
Não tem meias palavras e nem censura. Está tudo aqui: a infância, problemas com a polícia, abuso de drogas, brigas com punks que a xingavam de vendida, brigas com outras bandas, com sua própria banda, com a gravadora, depressão, paranoia, etc.

O livro é composto de diversos trechos dos diários que Laura escreveu durante os anos. Algo que ajuda ao leitor sentir o que ela sentia no momento dos acontecimentos.

Também entendemos o contexto de diversas músicas do AM!, como "You Look Like I Need I Drink", "How Low", "Tonight We're Going to Give it 35%", "Cavalier Eternel" e várias outras. Músicas que pareciam ser sobre situações fictícias mas são praticamente transcrições de situações reais.

Este livro te faz pensar em quantos artistas aparentam estar bem e felizes enquanto na verdade estão num ciclo de depressão e drogas.
Com certeza nunca mais verei a banda e nem suas letras com os mesmos olhos.

Recomendado para todos os fãs de punk rock.

Essencial para todos os fãs do Against Me!

fantanauser 27/11/2020

acho que a melhor autobiografia que já li! é tão boa que faltam palavras para explicar. a história não é nem um pouco embelezada, e a crueza com que as situações são contadas criam um pseudovínculo de amizade com a Laura Jane, é incrível.
uma questão muito abordada, e que dá o subtítulo do livro, é a de ser uma pessoa "vendida". o movimento punk vê com maus olhos quem consegue fazer sucesso a partir de contratos e de bandas que viram reféns da indústria da música, perdendo sua essência revolucionária. isso claramente não foi o caso, mas que teve um peso nas ações que o against me! tomou em alguns momentos, afinal de contas, não dá para agradar a todos os fãs sempre.
o ápice do livro é a aceitação das questões de gênero que ela teve mal resolvidas por muito tempo em sua vida, e que foram de certa forma abafadas pelos vícios e outras coisas ditas como prioridades. chega um ponto em que não dá mais pra fugir e aí a disforia que foi tanto tempo um fardo, acaba sendo um turning point na vida dela. realmente muito emocionante, as respostas sobre o assumir a si mesma como uma mulher, ninguém estava pronto para isso, nem ela mesma!
como pessoa trans, eu vejo esse material não só como um livro que traz a questão da identidade de gênero como uma parte da vida de algumas pessoas, de como é difícil conviver sem se entender, e achar que tem algo errado, mas é também um relato de esperança para quem ainda acha que "não chegou lá". é muito importante ter essa representação em uma biografia, e principalmente no campo da música, que ainda é majoritariamente cisgênero e machista.
esse livro permeia tanta coisa que é difícil imaginar alguém que não deva lê-lo, é simplesmente incrível.

arantxa 24/02/2022

who's gonna take you home?
eu enrolei pra ler esse livro, mas foi uma experiência gostosa e agradável ? ou talvez não exatamente agradável, mas me deu a sensação de estar lendo alguém que eu entendo e que me entende em algum nível... e isso nem falando só sobre gênero, mas também sobre buscar uma motivação, um sentido pra cada dia, a urgência por ter ideais e seguir neles, de se orgulhar de quem você é e como se apresenta pro mundo. terminei a leitura disposta a escrever uma carta pra laura, com esperanças de um dia conversar com ela, mesmo que por palavras escritas, à distância; pra mim, não tem forma melhor de terminar um livro do que essa!

Lucas.Araujo 01/12/2018

Sensacional
Relato sincero sobre a vida dessa mulher incrível! Com uma escrita simples e verdadeira, o livro emociona e inspira. Passamos a entender melhor a experiência de pessoas trans em meio a uma sociedade tão atrasada nesse quesito.