Lauraa Machado 07/11/2020
Entrega exatamente o que se propõe e com muita competência e sensibilidade
Eu vejo tantas pessoas falando super bem dos livros da Alice Oseman, que já coloquei todos como meta de leitura da vida. Como minha lista de próximos a comprar é sempre enorme, não sabia quando teria a chance de ler um livro dela. Mas aí eu baixei e assinei a Storytel e resolvi aproveitar a chance para ouvir meu primeiro audiobook de um livro que eu queria muito e não sabia quando poderia comprar.
Loveless é sobre uma protagonista se descobrindo aroace. Essa é a proposta dele e, por isso, acho que o livro é ótimo. Acredito realmente que merece cinco estrelas. Ele entrega o que promete e cumpre tudo com muita competência. Eu tenho algumas críticas a fazer, mas o fato é que gostei bastante do livro e estou ainda mais animada para ler/ouvir outros livros da autora.
Minha primeira crítica é que o livro precisava ter sido editado um pouco mais. Não acho que ter mais de 400 páginas seja um problema, pelo contrário, mas as cenas precisam ter relevância para serem incluídas na história e algumas aqui não tinham. Tem várias cenas repetitivas, que acontecem entre os mesmos personagens, com o mesmo propósito e o mesmo resultado. As diferenças só estão em objetos e localização das cenas, então não precisava ter várias assim. Também acho que um dos conflitos da história foi extendido demais e fiquei com a impressão de que estavam enrolando a história com algo que seria resolvido com uma conversa de cinco minutos.
Isso acontece quando o livro passa pelo seu ponto alto e deixa aquela sensação de que só precisa finalizar tudo. Mas aí ainda tinha mais de dez capítulos sobrando, então, para mim, ele acabou perdendo força e impulso. Teria sido melhor editar para acabar logo depois do clímax e ser mais emocionante em geral.
Mas eu amei o livro. Amei principalmente os personagens! Fiquei bem surpresa por todas as pessoas importantes e diferentes aqui! Todas foram muito bem trabalhadas como personagens secundários (já que a protagonista narradora era a Georgia e tinha muito que ela não podia ver e saber). Sunil, Rooney, Ellis, Pip e Jason têm grande importância aqui e foram a minha parte favorita!
Acho que o fato de Sunil não ser uma pessoa binária foi passado meio por cima, e isso realmente poderia ter sido melhorado, mas ainda acho que ele teve um papel tão significativo na história, que não chegou a deixar mesmo a desejar.
Sobre a Georgia se descobrindo aromântica e assexual, algumas partes me pareceram um pouco explicativas demais, mas entendo que fazia parte da proposta do livro e isso não chegou a me incomodar. Aliás, acho que esse livro vai ajudar muita, mas muita gente que ainda pode estar pensando por aí que tem algo de errado com si mesma. Não tem. Acho que, por isso, foi bom o livro ter sido explicativo. Foi bom deixar bem claro que o errado é ficar se forçando a fazer coisas que você não quer só porque outras pessoas não te entendem.
Espero principalmente que pessoas não aroaces percebam como essa cultura de sempre exigir um relacionamento e uma atração sexual de outras pessoas é tóxica e parem de insistir que todos sejam assim. Eu tinha visto algumas resenhas antes de ler que dizem que o livro faz parecer que o único jeito de ser aroace é exatamente como a protagonista é e que a autora mostrou uma personagem pan como sendo alguém que só usa sexo como escape, então fiquei de olho nessas coisas. Para mim, várias vezes durante o livro eu percebi que alguns personagens até diziam que existem infinitos jeitos de ser aromântico e assexual, que não existem regras ou fórmulas. Claro que o foco ainda é na Georgia e na experiência dela, é a história de ela se descobrindo, então ainda tem muito que ela precisa entender, e algumas pessoas podem acabar vendo como se fosse o único jeito de ser aroace. Não é. Se você se identifica de qualquer modo com ela, mas não completamente, procure saber mais sobre ser aromântico e sobre ser assexual. Não tem regras, limitações e nem nada desse tipo. Sua experiência, sua identidade é válida e você não precisa se explicar ou encaixar no que ninguém mais entende como aro ou ace.
Sobre a personagem pan, ela realmente usa sexo como seu jeito de não ter que lidar com sentimentos, mas isso, na minha opinião, não tem nada a ver com ela ser pan, principalmente quando a maior parte dela lidando com seus problemas e os entendendo vem antes de ela se descobrir pan. Outra coisa que eu tinha lido era sobre personagens sendo acefóbicos, ou seja, os amigos e parentes de Georgia não entendendo sua sexualidade e tentando forçar alguma outra para cima dela. Eu achei isso bem necessário mesmo, para que acefobia fosse encarada de frente, questionada e superada (por alguns deles). Afinal, é um livro sobre uma garota ainda se descobrindo aroace.
Foi uma experiência muito boa para mim ler um livro da autora e super quero repetir! Recomendo o livro, recomendo até em audiobook, mas agora quero minha cópia de livro físico!
Sobre o que eu achei do audiobook: achei que a voz da narradora combinou perfeitamente com a Georgia, adorei que o sotaque dela faz sentido para a protagonista! Confesso que depois de um tempo eu me cansei de ficar ouvindo, mas eu ouvi o livro inteiro em dois dias e tinha mais de dez horas de áudio. Com um pouco mais de moderação, deve ser ainda melhor e tenho total intenção de ouvir outro livro da autora!