spoiler visualizarMatheus.Correa 07/04/2024
Maravilhoso
Despertar é um daqueles livros maravilhosos que trazem uma abordagem orgânica e crítica para uma situação que ao depararmos com a nossa realidade podemos tocar em cada detalhe da tangibilidade da obra. Apanhamos Lillith, uma humana, que após ficar em um sono profundo por mais de 250 anos, se depara com uma figura um tanto quanto grotesca. Ela não sabe ao certo onde está, o que houve ou porque foi levada até lá, mas a sua reação de repulsa ao se deparar com o desconhecido em sua frente, reflete bem a estética e o absurdo medo questionável que transcende ao humano.
Amei esse livro de uma maneira que não consigo achar adjetivos suficientemente bons para elencar a precisão da construção da narrativa, dos extraterrestres, a sua altivez e atitude ambígua que me cativaram a entrar ainda mais de cabeça para aquela nave gigantesca, com partes biológicas e orgânicas, que mudavam de lugar, que eram moldadas ao toque.
A forma civil, gentil e de observador, traz um polo daquilo que é bom e manso que não está nos humanos, que conforme foram despertando, buscavam aquilo que os aliviaria de todo medo e caos mental que pudesse os afligir. Existiram ali pessoas desprezíveis como Curt e Peter, além de Gabriel (chato e fraco) mas a necessidade de ter personagens assim, traz ainda mais verossimilhança com aquilo que vemos hoje. Ser egoísta estava escorrendo até para o grupo que estava ao lado de nossa protagonista. A incerteza do futuro, faz com que não consiga ser contemplado o presente e os humanos, tão acostumados a matar e a sofrer, projetam isso ao longo do livro. Se livrando das responsabilidades de terem matado por tão pouco e distribuindo essa culpa, para aqueles que o haviam resgatado.
O livro é sobre conflito ao diferente, percepção, corrupção e falso moralismo. Ele indica uma direção tortuosa da crítica e o ataque ao romantizar a individualidade por fins que fazem com que você esqueça a quem deve se unir, tornando os personagens aqui tão profundos, mesmo que sem tantas descrições.
A mulher que tem nojo dessa espécie alienígena agora é a cabra que dá a direção ao futuro da humanidade, o arquétipo de grande Mãe de Jung, explicitado por Joseph Campbell ataca novamente, mas sem as linhas da "jornada do herói" a narrativa é despretensiosa e não se cataliza em nada formulaico, ela é contagiosamente apaixonante.
Leiam, se surpreendam e venerem a Grande Dama da Ficção científica, Octávia Butler.