Explosão feminista

Explosão feminista Heloisa Buarque de Hollanda
Maria Isabel Iorio




Resenhas -


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Carolcali 21/12/2023

Uma leitura diversa
Eu gostei bastante do livro por ele trazer relatos e textos de feministas de diversas áreas, principalmente feministas falando a respeito das artes nas suas mais variadas formas. Eu considero um pouco difícil encontrar literatura sobre este tema, então este livro foi uma grata surpresa. Acho que vale muito a pena a leitura porque é possível encontrar pontos de vistas diversos a respeito do feminismo. Chamou muito a minha atenção o capítulo que fala sobre as feministas e a religião evangélica.
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Brunífero 01/03/2022

Os prismas sob as chamas ardentes
É difícil taxar esse ou aquele livro como O representante de um assunto X. Por melhor que seja As Vantagens de Ser Invisível, por exemplo, ele definitivamente não é o suprassumo da experiência jovem, múltipla (por mais que o senso comum queira nos convencer do contrário). Sob essa ótica, como abordar um assunto tão amplo quanto o feminismo, tão em voga na década que acaba de terminar? A historiadora Heloísa Buarque de Hollanda pensou numa boa solução: simplesmente ser um curador.
A bem da verdade, essa não é a primeira vez que Heloísa se presta a esse papel. Ela já organizou antologias de pensamento feminista (em especial para a independente Bazar do Tempo) e de poetas, tendo colaborado para a edição de "26 poetas hoje", que revelou nomes como Waly Salomão, Chacal e Ana Cristina César, dentre outros escritores que formariam a chamada "geração mimeógrafo" de poetas brasileiros. Em 2018, Heloísa retornou à condição de pesquisadora vanguardista quase que simultaneamente, com as concepções de "As 29 poetas hoje" e o título dessa página, "Explosão feminista", o que me faz pensar seriamente que tipo de dom os Buarque de Hollanda devem ter - junto do Sérgio, do Aurélio e do Chico! Apesar que chegar à essa conclusão me faz ter muita pena do que devem passar os primos dessa família e os membros não-famosos *-*
De qualquer maneira, o trabalho de Heloísa como organizadora vai além da concepção; a seleção de textos e autoras para a coleção é realmente primoroso. O texto está dividido em 4 partes, junto da introdução e das notas finais. A primeira parte discute as formas contemporâneas de atuação do feminismo: a rua, a rede e a política representativa. Na 2ª parte, são apresentados os palcos culturais do feminismo, no caso, as artes, a poesia, o cinema, o teatro, a música e o ensino superior. A 3ª parte, a mais crucial na minha opinião, vem para discutir as interseções do feminismo; não há um bloco monolítico aqui, e sim uma série de frentes com vivências e teorias diferentes, mas que se unem pelos objetivos em comum. Por fim, a parte final traz depoimentos de mulheres e ativistas já experientes, meio que como um trabalho de preservação da memória, que possibilita o surgimento de novos ativistas.
O resultado final é magnífico. Logo de cara, a formatação descrita acima já estrutura o campo do feminismo como um grande mosaico de significados, ao mesmo tempo que há grande rigor nas análises propostas. Há hipóteses, metodologias e, paradoxalmente, uma ausência de dogmas, o que faz sentido, porque só quem tem dogmas é a religião. A multiplicidade de pontos de vistas e as autoras escolhidas, todas de excelente nível, contribuem para alimentar o debate e a esclarecer muitos aspectos de nossa realidade. Não posso dizer que conhecia todas as autoras da coletânea, mas nenhuma deixa a desejar nos objetivos de sua análise. Até por isso, o livro pode funcionar como uma porta de entrada para muitas pessoas nos estudos de gênero pelo seu excelente aspecto introdutório. Consigo imaginar alguém alheio a esse campo de estudos pegando esse livro e raciocinando: como assim existem feminismo asiático e protestante? Esses dois exemplos realmente não são muito mainstream (ainda), mas faz sentido essas duas correntes existirem e não são reclamações vazias. Apesar da acessibilidade teórica e até do projeto gráfico mais pop, o livro não tem uma pegada muito comercial, o que não é ruim. De certa maneira, é uma escrita acessível, porém com um foco ainda bastante acadêmico.
Todavia, a despeito da grande qualidade das 3 primeiras partes, me decepcionei com a última - no caso, o depoimento das veteranas. Os textos por si só não são ruins, mas me incomodou a concentração sudestina das mulheres escolhidas. Nos depoimentos-memoriais, todas as entrevistadas estudaram em São Paulo ou no Rio de Janeiro em realidades de classe média - minto, uma estudou nos EUA e outra em Paris! Somente uma, Maria Betânia Ávila, é fora do eixo sudestino e somente uma, Sueli Carneiro, não é branca. Essa disparidade regional e até social também é válida para o resto do livro, porém ela acentua ainda mais no fim, já que não há a imposição de uma diversidade de visões. Não estou querendo dizer com isso que faria um trabalho melhor nesse sentido; organizar uma antologia não é fácil e fazê-la ter coerência qualitativa de ponta a ponta é ainda mais difícil - quem já viu coletânea de contos feitas por terceiros sabe do que eu estou falando. Sem contar que ninguém é obrigado a saber tudo sobre tudo (tanto que mencionei a falta que faz algumas correntes, como o feminismo marxista). Mas se os quadros mais antigos do feminismo não são tão diversos como hoje, pelo menos que se questione isso também! E mesmo isso não é verdade, já que estão excluídas nomes como as professoras Zélia Amador de Deus e Edna Castro, e as cineastas Jorane Castro e Tizuka Yamazaki, isso pra ficar só nos nomes que conheço. Não ter dado espaço para outras veteranas é nada menos que indefensável.
Ainda assim, a despeito dessa escorregada no fim, a obra como está é extremamente bem feita, um verdadeiro tour de force. Diria até que a obra já é indispensável para entender uma geração, ou pelo menos o final dos anos 2010 e o começo dos anos 2020. Falo isso da perspectiva do historiador, e também de observador casual. Não diria que existe um cânone para entender um movimento x ou um grupo y, mas acho que há grandes referências que podemos usar para entender melhor certos pontos de vista. Esse livro é um deles. Mas ele só vai funcionar se quem o(a) lê estiver de mente e coração abertos.
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Janaína 26/04/2021

A luta é de todes.
Neste livro, Heloísa reconhece seus privilégios e ao invés de falar do feminismo por todas as as mulheres cede espaço para que intelectuais não privilegiadas possam estar presentes neste debate. O feminismo aqui é tratado por várias perspectivas e a partir da experiência e lugar de conhecimento de cada feminista.
Recomendo a leitura.
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Gabi 03/06/2020

Explosão feminista
Explosão feminista - Arte, cultura, política e universidade é um compilado de capítulos escritos por diversas mulheres, trechos de depoimentos e entrevistas, bem como textos próprios da Heloisa Buarque de Hollanda fundamentados no seu contato com essas outras personalidades. Com o propósito de explorar diversas áreas de desenvolvimento do feminismo nos últimos anos, a autora divide o livro em quatro partes, compostas por capítulos destinados a segmentos específicos e, assim, consegue abordar uma vasta gama de tópicos relevantes acerca do pensamento feminista atual.

site: https://frases-perdidas.blogspot.com/2020/04/explosao-feminista-de-heloisa-buarque.html
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Delirium Nerd 03/04/2019

Um ensaio sobre a pluralidade do feminismo brasileiro
“Este é um livro-ocupação”. A primeira frase na orelha de “Explosão Feminista – arte, cultura, política e universidade” não poderia ser mais certeira. Ao reunir tantos relatos de mulheres diferentes em suas origens, áreas de atuação e até gerações, Heloisa Buarque de Hollanda conta a história da quarta onda feminista no Brasil, sem deixar de revisitar o passado do feminismo.

A obra, publicada pela Companhia das Letras, convida a leitora a repensar o significado do movimento de mulheres e olhar para suas nuances com outra perspectiva, pois o feminismo que conhecemos está longe de ser único – ou uno. É um feminismo plural, com as dimensões de um país como o Brasil. E a cada página de “Explosão Feminista”, somos instigadas também a refletir sobre nosso dever de ampliar as vozes destas diferentes mulheres que lutam por direitos há muito tempo, cotidianamente, ainda que tão silenciadas por nossa sociedade.

A nova geração política

A primeira parte de “Explosão Feminista” traz um panorama sobre a quarta onda do feminismo no Brasil, que a partir de 2013 tomou conta das ruas, das redes e da política. E emociona logo no primeiro depoimento, da estudante secundarista Isabella Dias:

“Eu vejo muita gente hoje negligenciando a importância das jornadas de junho de 2013. Acho que todas essas pessoas que foram pra rua, de todos os posicionamentos políticos, descobriram uma força incrível que antes não conheciam. Para os movimentos das minorias isso é muito importante. O feminismo teve um boom depois de 2013, o movimento negro também. Eu vejo que a nossa juventude está caminhando no sentido de incluir a política nas nossas relações, no dia-a-dia. Então por isso é que sofremos essa guinada conservadora, ela é uma resposta a esse processo de conscientização pelo qual estamos passando.”

Essa juventude que tem feito a diferença de forma tão engajada, além de revigorante é a tônica do capítulo. A obra explicita como a Primavera Feminista tem acontecido nas ruas, onde geram muita visibilidade midiática para as suas pautas, mas também no ambiente virtual. É inegável, hoje, como a internet tem sido um espaço para aglutinar demandas femininas tão diversas. Seja através de hashtags no Twitter, grupos no Facebook ou perfis no Instagram, por exemplo, nestes pontos de encontro mulheres passaram a sentir-se mais seguras para falar e se mobilizar.

“Explosão Feminista” mostra também que, cada vez mais, há mulheres ocupando espaços políticos, antes relegados apenas aos homens. No subcapítulo Política Representativa, é difícil não se emocionar com o retrospecto da história recente de mulheres nas câmaras legislativas, com depoimentos de Manuela D’Ávila, Talíria Petrone e Marielle Franco, covardemente assassinada em 14 de março de 2018. É, de fato, um recorte que escancara a difícil luta diária pela representatividade feminina em instâncias governamentais, mas é também fonte de esperança e inspiração.

Palavra Forte

O segundo capítulo trata do poder das vozes femininas nas artes, na poesia, no cinema, no teatro e na música. “Explosão Feminista” aborda como a produção artística feminina, ainda que sem intenção feminista, acaba vista como ativismo. De fato, a arte não precisa ser militante, mas parece que o fato da mulher assumir a posição de “produtora de arte” é, por si só, uma transgressão.

Independente da mídia usada para a arte florescer e desabrochar, transbordando o que precisa ser dito sobre a luta de artistas tão diversas, são muitas as críticas sobre a produção de mulheres. O denominador comum gira em torno da utilização do corpo feminino como plataforma e do desejo feminino como inspiração, o que apenas reflete como mulheres que não desejam o posto de musas, mas sim de artistas, incomodam o patriarcado.

Um outro tema abordado neste capítulo refere-se ao movimento feminista na academia. “Explosão Feminista” revela que, apesar de sermos a maioria como alunas, professoras e funcionárias, ainda não temos representatividade nem ocupamos cargos de poder no meio acadêmico. Apesar das mobilizações frequentes por mais direitos nas universidades, as pesquisadoras feministas encontraram espaço em ações pontuais, em coletivos de mulheres e em projetos de extensão – mas isso não é, nem de longe, suficiente.

“Como professora, eu já senti muitas vezes a discriminação; por exemplo, agora, quando eu publiquei um livro sobre história do Brasil com a professora Heloisa Starling, Brasil, uma biografia. Não foi um ou dois, foram vários jornalistas que me perguntavam como eu me sentia enquanto mulher escrevendo um livro de interpretação do Brasil. E eu respondi se eles fariam essa mesma pergunta para um homem, como é que um homem se sentiria escrevendo um livro sobre história do Brasil”.

Como sugere este depoimento da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, apesar de maioria e há tanto tempo desenvolvendo um trabalho primoroso, mulheres na ciência continuam silenciadas e esse é somente mais um desafio que precisamos superar no meio acadêmico.

Os feminismos das diferenças

A terceira parte, talvez a mais importante, traz à tona a pluralidade de muitos feminismos, como explica Heloisa Buarque de Hollanda em um trecho na introdução do capítulo:

“Assim, convidamos integrantes dos movimentos feministas de várias cores, crenças e gêneros para assumir seu ‘lugar de fala’ de forma aberta e pessoalizada. Raffaella* foi responsável ainda pelo desenvolvimento do debate levantado pelas feministas entrevistadas, em relação a léxico de exclusão e o eurocentrismo dos discursos acadêmicos, do qual, historicamente, as feministas brancas fazem ou faziam parte.”

Como uma luz nesta empreitada que é pensar um feminismo que dialogue com mulheres tão diferentes, o compilado de relatos pessoais resume a necessidade de uma nova abordagem. Pois a luta da mulher negra não é a de outras “minorias”, como a da mulher indígena, focada no combate à violência contra a mulher em um contexto de demarcação e recuperação de terras indígenas. Ainda é diferente da luta da mulher asiática, contra a xenofobia e a fetichização dos corpos femininos asiáticos. Ou ainda da mulher trans, que não encontra espaço e acolhimento dentro do movimento, que questiona e não legitima o corpo trans. É também diferente do feminismo lésbico, do feminismo protestante e ainda do tão estereotipado feminismo radical. Estas “minorias” não podem continuar silenciadas e invisibilizadas, e “Explosão Feminista” prova que o feminismo como conhecemos, branco, cis, heteronormativo e eurocêntrico, precisa reconhecer e legitimar estas outras demandas.

As veteranas ou um sinal de alerta sobre uma memória não escrita

“Esta parte não fala da explosão feminista, não fala de internet, não fala de formas jovens de militância. Traz apenas o depoimento de algumas veteranas desta história: mulheres militantes e acadêmicas de um movimento vital do feminismo no Brasil, que foi o período de 1975 até a virada do século. Sinaliza uma memória riquíssima ainda só registrada em fragmentos, estudos focais e documentos esparsos. Esta parte é apenas um sinal de alerta.”

O quarto e último capítulo começa com este recado de Heloisa Buarque de Holanda, que além de reiterar a produção colaborativa da obra, alerta sobre o apagamento de nossa história. Mostra também que o feminismo no Brasil não é de hoje, apesar de tão evidente somente agora, e o quanto é importante ampliar a voz destas mulheres que construíram o feminismo brasileiro. Os relatos que compõem este capítulo, e que encerram a obra de forma tão brilhante e emotiva, são de Bila Sorj, Sueli Carneiro, Jacqueline Pitanguy, Malu Heilborn, Schuma Schumaher, Maria Betânia Ávila e Branca Moreira Alves.

“Explosão Feminista – arte, cultura, política e diversidade” é uma aula sobre o atual feminismo brasileiro e também uma visita à história das brasileiras. Perpassa as diferenças que tornam o movimento tão plural e pontua a necessidade constante de diálogo, respeito e visibilidade para pautas alheias, mas igualmente importantes. O slogan “juntas somos mais fortes” continua verdadeiro, mas é preciso entender e se solidarizar com as peculiaridades de cada grupo, praticando assim a tão falada sororidade. “Explosão Feminista” é uma aula, mas também é um sopro de esperança para quem está na estrada há tanto tempo e para quem começa a caminhada agora.

site: https://deliriumnerd.com/2019/03/28/explosao-feminista-heloisa-buarque-de-hollanda-feminismo-brasileiro/
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