rxvenants 13/04/2019"Se não existisse esse muro entre mim e ela, você e eu ainda estaríamos juntos?"AVISOS DE GATILHO: ABUSO PSICOLÓGICO/FÍSICO, DEPRESSÃO, TENTATIVA DE SUICÍDIO E ESTUPRO.
Romance Tóxico é o tipo de livro que pega fundo nas feridas. Que rasga e cutuca.
Logo que comecei a ler, fiz uma associação imediata com Por Isso a Gente Acabou, de Daniel Handler. Ambas Grace e Min amam cinema e artes e ambas passam por relacionamento tóxico. Até mesmo as escritas são parecidas: nos dois livros, as protagonistas parecem estar conversando com aquele que destroçou parte delas.
É claro que Por Isso a Gente Acabou é bem mais leve e não trata tão abertamente do abuso psicólogo quanto Romance Tóxico, mas como é um dos meus livros favoritos, não consegui parar de pensar nos paralelos.
É muito difícil achar algum livro que trate tão abertamente desse tipo de abuso e o condene tão claramente.
Muitas vezes, ele é deixado de lado por não ser considerado tão "importante" quanto marcas na pele e roxos no corpo.
É muito difícil, muito mesmo, ver uma personagem contando sobre como sua luz apagou e como é complicado tentar reconquistá-la. Também é difícil ler ela se perguntar toda hora como a mãe, uma de suas maiores companheiras, se tornou tão negligente com a filha. Eu só queria proteger a Grace de todo mal ao redor dela.
Achei muito pertinente a forma como a autora colocou abusos psicológicos dentro da casa de Grace para explicar como ela colocou toda a sua esperança em Gavin para que pudesse fugir de uma mãe com transtornos, um padrasto abusivo e um pai alcoólatra e drogado (achei interessantíssimo como ela colocou estresse pós traumático como a justificativa do pai).
Romance Tóxico é muito bem construído, difícil de largar, os personagens são muito carismáticos e tudo é muito fluido (li em um dia!). A cada capítulo, você se sente mais tenso, se perguntando se Gavin partiria para o ataque físico (e todos sabemos que ele seria sim capaz de espacar Grace ou qualquer outro cara com o taco de baseball).
O quão baixo ele é por usar o suicídio como forma de manter as garotas por perto? O quão baixo é jogar essa responsabilidade nas costas de outra pessoa?
Verme maldito.
Duas coisas me incomodaram no livro: 1) Gideon. Não achei que ele foi necessário e acho que o atributo de usá-lo como forma de mostrar como Gavin poderia ser fisicamente perigoso foi meio barato. Até mesmo o namoro de Gideon com Susan foi do nada. Não gostei.
2) A facilidade com que o conflito entre Grace e sua família foi resolvido. Ela fala algumas vezes que sua única salvação seria a faculdade, mas fica na casa da amiga durante as férias, quando o padrasto não a quer mais em casa.
Se ela tinha essa opção, por quê não saiu antes?
Mesmo assim, esse é um livro ótimo para aqueles que não entendem como o abuso psicólogo acontece e como ele pode afetar seriamente uma pessoa.
O final é importantíssimo. Extremamente lindo como Grace se apoia nas amigas e tira um tempo para si mesma. Ela tem que vir em primeiro lugar e é ela quem ela deve escolher no final.
Um lindo tributo e luz no fim do túnel para todos aqueles que passam ou já passaram por situações parecidas e se sentiram como Grace: retraídos e obrigados a se desconectar de seus próprios instintos e desejos.
Como Demetrios diz em sua nota: Quem quer que você seja, saiba que as coisas ficam melhores. Só é necessário dar o prineiro passo. Você consegue.
P.S.: A cena de estupro de Grace foi terrível de ler. Terrível mesmo.