yas 31/10/2022O assunto principal de Reparação é a literatura, mas ao decorrer da leitura o leitor percebe que é muito mais. Primeiro, o escritor é um de seus personagens, segundo porque o romance de Ian McEwan cria um mundo onde a subjetividade e a objetividade interferem mutuamente. Os personagens são cheios de vida e a linguagem, ao mesmo tempo elaborada e sutil, não se contorce nem se intromete em si mesma.
A habilidade de McEwan é muito conhecida, mas em Reparação ele chegou onde não havia chegado antes e onde poucos autores vivos conseguiram chegar. A força de sua narrativa vem de seu enredo e de sua magnitude, bem como de sua riqueza e estrutura. A história é forte, mas quem narra não é subserviente à sua hierarquia e ao seu ritmo: é um sujeito que a deixa fluir e, ao mesmo tempo, escolhe os momentos e a forma de revelar as suas partes. O que mais me impressionou nesse sentido é as nuances que o autor cria entre o que é real e o que seria puramente ficção.
Há partes um pouco arrastadas durante a leitura e outras muito bonitas, considerando este fato acho a leitura válida acima de tudo.