Carina 11/09/2013
O preço único do instante
Um livro de um grande poeta, fazendo um dos balanços finais da sua obra e de sua própria existência. E sempre com os olhos voltados para o valor das coisas mínimas. Tão belo, tão Quintana.
Trechos:
em sua pobre eternidade, os deuses
desconhecem o preço único do instante...
***
O descobridor
Ah, essa gente que me encomenda
um poema
com tema...
Como eu vou saber, pobre arqueólogo do futuro,
o que inquietamente procuro
em minhas escavações do ar?
Nesse futuro,
tão imperfeito,
vão dar,
desde o mais inocente nascituro,
suntuosas princesas mortas há milênios,
palavras desconhecidas mas com todas as letras
[misteriosamente acesas
palavras quotidianas
enfim libertas de qualquer objeto
E os objetos...
Os atônitos objetos que não sabem mais o que são
no terror delicioso
da Transfiguração!
***
Parece um sonho...
"Parece um sonho que ela tenha morrido!"
diziam todos... Sua viva imagem
tinha carne!... E ouvia-se, na aragem,
passar o frêmito do seu vestido...
E era como se ela houvesse partido
e logo fosse regressar da viagem...
- até que em nosso coração dorido
a Dor cravava o seu punhal selvagem!
Mas tua imagem, nosso amor, é agora
menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora...
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
"Parece um sonho que ela tenha vivido!"
(1953)
***
Invitation au voyage
Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão -
Se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
Faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo
[mesmo!
- inclusive o amor e outras novidades.