spoiler visualizarElisaCazorla 07/12/2023
Impossível não ser afetado por essa obra!
Lá vou eu me aventurar nessa empreitada que é escrever uma resenha de Anna Kariênina!
Meu objetivo aqui não é fazer um resumo da obra e nem uma análise crítica literária. Apenas quero registrar minha experiência com essa obra e poder revisitar minhas impressões quando necessário.
Organizei meu raciocínio em três momentos: narrativa, personagens e meu achismo.
Em primeiro lugar, a narrativa é muito agradável e fluida. Na minha experiência, as descrições foram necessárias, agradáveis de ler e capazes de me prender em praticamente toda a obra. Dentre as mais de 800 páginas, encontrei apenas uma única passagem que foi cansativa, mas é muito claro o motivo dessa passagem e sua importância. A parte da eleição pode ter sido chata, mas dá pra ler.
Os personagens são a grandeza do livro! Personagens que saltam das páginas. Personagens vivos e com quem travamos diversos tipos de relacionamentos. Alguns odiamos, outros nos apaixonamos e outros sentimos vontade de convidar para uma conversa na mesa do bar. Acho que a construção do personagem é um dos importantes indicativos para julgarmos, como leitor, o poder do autor. Tólstoi é um excelente contador de histórias porque ele sabe, como ninguém, construir os seus personagens. Tudo neles tem um motivo. Seus personagens são vivos e parecem estar ao nosso lado durante a leitura. Gostaria de falar dos quatro personagens que eu considero serem os principais: Anna, Liévin, Vronski e Aleksei.
Liévin é a voz do autor, é o seu alter ego de Tólstoi por quem temos muita simpatia, entendemos seus anseios e sofremos com ele. Ele é um tipo de herói e é uma delícia acompanhar sua vida. Torcemos para que ele termine bem e consiga terminar com o seu grande amor. Liévin merece ser feliz! Ele poderia roubar toda a cena, mas não consegue porque Anna... já eu falo sobre ela!
Vronski é o tipo macho sedutor que tem um ego muito maior do que a realidade. Ele é um bom vivant e objeto de desejo das mulheres. Eu senti muita antipatia por ele até o final do livro quando, a partir do contexto onde ele está inserido, ele tentava fazer o seu melhor, mas infelizmente era tarde demais. Mesmo assim, seus últimos esforços não o redimiram e, para mim, Vronski não ganhou minha simpatia.
Aleksei é detestável. Nele temos o resumo de tudo o que é desprezível na humanidade. Homem vaidoso, conservador, moralista, vingativo, mesquinho e muito preocupado com as aparências. Personagem gigante mas que nos provoca os piores sentimentos, quando ele entra em cena, nos preparamos para o pior, porque ele é capaz de tudo. É interessante pensar que esse personagem tão moralista é o exemplo do sujeito que tem sérios problemas a resolver com o sexo e a sexualidade. Como um grande crítico da religião, Tólstoi não fez isso à toa.
Finalmente, Anna Kariênina, a nossa grande heroína! É com grande maestria que Tólstoi apresenta essa grande personagem e sempre que ela entra em cena todos os olhos estão nela. Ela rouba a cena! Assim que ela aparece na história, eu lia até mais rápido os capítulos onde ela não aparece para poder estar na sua companhia o mais rápido possível. Queremos Anna conosco o tempo todo. Ela é gigantesca! Anna é complexa, é real, é incrivelmente linda. Nos apaixonamos por ela na primeira cena e é impossível nos saciarmos dela. Que personagem brilhante!
Agora meu achismo: dizem por aí que Tólstoi detestava Anna. Ouso discordar! Não consigo conceber que seja possível o autor criar um personagem que detesta e que, ao mesmo tempo, provoca nos leitores tamanha paixão. Mas, por outro lado, acredito que Tólstoi sentiu ciúmes da grandeza de Anna. Imagino que sua intenção era ter Liévin como o grande personagem de sua obra, e ele é! Mas Anna rouba a cena e, talvez, ele não esperava por isso. Talvez por esse motivo, após a morte de Anna muitas coisas ficam não ditas, ela praticamente some e ficamos órfãos sem muitas explicações importantes.
Aliás, essa é a única crítica negativa que posso fazer desta obra: muitas pontas soltas e vários desfechos que não aconteceram ou ficaram na superficialidade. Se Tolstói estivesse vivo, eu teria uma conversa séria com ele sobre o silêncio de Vronski e de Aleksei sobre a morte de Anna. Ele poderia também ter nos dado alguma dica sobre o destino dos filhos de Anna e, finalmente, nos presenteado com um dolorido destino para o desprezível Aleksei.
Obra de magnitude máxima! Não se sai ilesa depois de ler Anna Kariênina. Atreva-se!