Victoria 12/07/2022
Os atos de uma pessoa tornam-se a sua vida, tornam-se o seu destino. Tal é a lei da nossa vida.
"Uma pessoa arrogante se considera perfeita. Este é o principal dano da arrogância. Isso interfere na principal tarefa de uma pessoa na vida - tornar-se uma pessoa melhor."
"Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência."
Poderia resumir esse excepcional calhamaço nessas duas frases acima. Mas esse livro é tão incrível e me marcou de tantas formas que eu tenho a necessidade de falar um pouco mais.
Preciso iniciar dizendo que antes de me aventurar nessa leitura eu busquei por muitas resenhas e encontrei quase uma unanimidade no que diz respeito a essência dos personagens.
É dito que os personagens são tão complexamente humanos que seria difícil (ou impossível) defini-los como sendo vilões ou heróis (criando dois núcleos onde um é bom e o outro é mau). Acredito que em partes isso é verdade. Todos os personagens são realmente tão humanos que ao longo da história nós conseguimos nos enxergar em várias atitudes, pensamentos, sentimentos e defeitos descritos por Tolstói. Mas isso não nos impede de analisar os sentimentos e atitudes dos personagens e definir isso como sendo boas ou ruins, afinal, é justamente o exercício de olhar para nós mesmos e identificar o que existe de mal que conduz a nossa mudança e nos torna um pouco melhores hoje do que éramos ontem (característica que você encontrará em Liévin, mas não encontrará na Anna).
Acredito que a intenção do Tolstói foi criar justamente esses dois polos (baseado nos conceitos de amor propostos por Platão), onde Anna representa o amor ilusório, que busca seus próprios interesses e vontades, que é egoísta, erótico e centrado em si mesmo. Enquanto, Liévin, é a representação do amor sincero, prudente, virtuoso, e que não pensa somente em si e em suas necessidades, mas no outro (afinal, ao casar, dois se tornam um).
Não posso falar muito sobre a Anna sem dar spoilers (isso porque a maneira como o Tolstói desenvolve os personagens é tão incrível que você começa achando uma coisa e a cada capítulo você percebe que se enganou completamente. E a culpa foi sua, porque a verdade estava nas entrelinhas o tempo todo e você não percebeu). O que posso dizer é que ela é, para mim, o arquétipo da mulher fatal. Um completo caos e destruição por onde passa.
Citando ela: "Mas não sou culpada. E quem é culpado? O que significa ser culpado? Acaso poderia ter sido de outro modo?". Essa é a Anna. Tem a imensa capacidade de olhar para todos, identificar seus defeitos e pecados e os condenar, enquanto é incapaz de olhar para si mesma.
Já o Liévin... seu desenvolvimento é um deleite de acompanhar. Sempre nas entrelinhas...
Ele é uma alma questionadora, com sede de conhecimento de si e do mundo que o cerca. Ele não se contenta em ser hoje o mesmo que era ontem. Uma inspiração.
Mas não pense que os demais personagens ficam atrás, todos são muito bem desenvolvidos, tem inúmeras camadas e a sensação é de que você está convivendo com eles enquanto lê sobre eles. É sensacional. Além, é claro, das discussões sobre política, religião, filosofia, críticas certeiras e uma dose constante de sutil ironia.
Somente leia! Vale cada página.