Veludo Violento

Veludo Violento Natasha Tinet




Resenhas - Veludo Violento


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Hayana 30/04/2023

Bom primeiramente gostaria de dizer que a nossa literatura (brasileira) deve não só ser reconhecida por livros de romance, ou outros genêros mais "famosos", mas os poemas também fazem parte deste grande universo que a literatura pode nos trazer.
Nesse livro, a autora expressa com dor, com verdade e com um conhecido a tristeza de passados vividos.
Eu acho que não poderia haver um nome melhor do que " veludo violento" para esta obra, pois seus poemas são fortes ao mesmo que tempo que demonstram uma "delicadeza", em seus temas, assim como um veludo violento.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 12/01/2019

Natasha Tinet - Veludo Violento
Natasha Tinet - Veludo Violento - Editora Imprensa Oficial Graciliano Ramos - 102 Páginas - Projeto Gráfico e Diagramação: Roger Ferraz - Lançamento: 12/12/2018.

O livro foi selecionado como um dos vencedores do Edital Para Publicação de Obras Literárias de 2018, promovido pelo Governo de Alagoas. Uma boa oportunidade, portanto, para conhecer novos autores fora do badalado eixo Rio-São Paulo. A antologia de poemas marca a estreia de Natasha Tinet no mercado editorial formal, apesar dela já ter publicado alguns contos e poemas em sites especializados na internet.

A jovem autora vem se juntar a um grupo de poetas que tem alcançado reconhecimento de público e crítica, assim como uma maior visibilidade no mercado editorial, devido aos resultados expressivos obtidos nas premiações literárias nacionais, poetas que, mesmo sendo normalmente publicados apenas em livros de pequenas tiragens, por editoras independentes ou editais de incentivo à cultura, comprovam a existência de demanda por poesia, apesar das crises generalizadas que assolam o país.

E Natasha Tinet não deixa por menos, fazendo seus poemas como devem ser feitos, falando de coisa séria, mas sempre com originalidade, bom humor e, porque não dizer (talvez ela não tenha percebido), também com amor. Na verdade, o humor pode se transformar em ironia ou mesmo sarcasmo, como quando ela faz uma oração inusitada para uma santa muito especial, Nossa Senhora do Foco, de forma a resgatá-la de "tudo que seja de caráter profundo" e que possa ser abençoada com uma existência comum, rasa como um pires, indiferente às barbaridades do noticiário e, de preferência, armada com um bom cartão de crédito.

Oração a Nossa Senhora do Foco

nossa senhora do foco,
não dê minha alma como perdida.
rogai por minha mente inquieta, dai-me sentido na vida.
mate meu talento, já não me importo, quero ser senso comum
ser indiferente a tudo que seja de caráter profundo
quero resolver angústias existenciais com meu cartão de crédito
assistir a noticiários e achar tudo banal.
nossa senhora do foco, fazei de mim um pires:
de porcelana barata, branco, raso e sem dor.

Natasha encontra inspiração poética nas coisas simples do cotidiano que, de outra forma, passariam despercebidas para a maioria das pessoas. Até mesmo aquele inusitado momento de desespero quando a enfermeira inexperiente não consegue achar a sua veia pode se transformar em um poema, quem nunca? A vida fica mais simples quando encontramos "uma enfermeira bem vampira e certeira". A via crucis termina no café com leite e queijo quente da padaria da esquina e uma garçonete oferecendo um sorriso de bom dia.

Enfermeira

Quando a enfermeira aperta o garrote e diz
"ai, que veia fininha", já sei que fodeu.
ei, deus, me abençoa com morfina,
vai rolar carnificina.

ela aperta os olhos de vovó bordadeira,
faz vagonite, ponto cruz, me fura inteira
e ainda reclama, "muito chata a tua veia".
ei, deus, dispensa a morfina, manda a christiane f.
bem drogada e prostituída, ela acerta de primeira.

e quando o contraste não bate e o soro não entra
sempre vem uma carniceira me pedindo a mão.
tá de brincadeira? mandem outra enfermeira
bem vampira e certeira, 20 anos de profissão.
uma agulha ágil conquista meu coração.

aí, sim, voum'embora,
remendada de bandeide,
os braços aquarelados de hematomas
lembro de egon schiele e quase choro na padaria
quando a garçonete traz à mesa café com leite,
queijo quente e um sorriso de bom dia.

O humor passa a ser mais sutil e, de certa forma, necessário, para abordar temas difíceis e, infelizmente, também cotidianos como a violência contra a mulher, principalmente da forma como normalmente ocorre na maioria dos casos, psicológica e doméstica e, na qual, o direito de expressão é sujeitado à prioridade de fala do homem: "deixa eu falar, mulher / depois você fala."

Mulher,
por que reclama?
mulher,
o que te falta?
já conquistaste tantas coisas, mulher
o que mais você quer?
...
espere, não terminei.
deixa eu te explicar por que você
reclama, deixa eu te dizer
o que você tem, o que te falta
e do que precisa
deixa eu falar, mulher
depois você fala.

Natasha Tinet nasceu em 1988 na cidade de Palmeira dos Índios, Alagoas, e mora em Curitiba desde 2014. É graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas e coedita o site Totem e Pagu firma de poesia. Integra o grupo EMA - Escritores Muito Anônimos e coedita também a revista online EMA. Segundo a própria definição no seu blog (https://cadernosquasesecretos.wordpress.com/) é uma doida sensata, artista, feminista, gateira, bipolar e espondilítica. Veludo Violento é seu livro de estreia.
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