Jess.Carmo 08/01/2022
O crescimento econômico permanente é impossível
Os autores entendem que o extrativismo é um dos principais conceitos que ajudam a explicar a origem do capitalismo moderno. O extrativismo é a prática de explorar grandes volumes de recursos naturais. Essa prática promove grandes impactos econômicos, sociais e ambientais nos territórios em que esses recursos são retirados.
Um conceito chave da obra é o de modo de vida imperial. Trata-se de ter automóveis, comer carne quase diariamente, possuir imóveis etc. Para os autores, esse modo existe desde a época colonial, porém era restrito às classes mais abastardas. Apenas e meados do século XX esse modo de vida se popularizou no cotidiano das pessoas do Norte global e mais tarde no Sul global.
O problema é que esse modo de vida implica também o aumento de exploração de recursos naturais para financiá-las. Ou seja, implica o aumento de exploração de territórios, exploração de mão de obra barata e descarte de objetos, criando oceanos de lixo. Além disso, existe uma série de incentivos desse modo de vida, já que é ele que passa a sustentar a acumulação do capital.
Entretanto, não se trata de uma crítica ingênua ao aumento do consumo. Não é uma obra que pretende mudar o estilo de vida das pessoas individualmente, até porque esse modo de vida imperial não é uma escolha individual, mas uma imposição do capitalismo. Dessa forma, não estamos falando apenas de um problema ambiental, mas de um problema econômico-social.
Assim, a economia verde não é uma solução, já que continua a reproduzir os padrões de mercado do capital. Portanto, não poderemos resolver a crise ecológica se não questionarmos os padrões produtivos que a provocou. Segundo os autores, "pode parecer paradoxal, mas os rejeitos e o lixo são também objetos de acumulação do capital. Os negócios possibilitados pela reciclagem e pelo reuso de matérias-primas [...] são enormes. Tais negócios se multiplicam, e pouco têm a ver com o aproveitamento sustentável do desperdício. Além disso, frequentemente submetem os seres humanos e os territórios a condições de extremas precariedade" (p. 86).
Os autores entendem que o mundo não é um reservatório inesgotável de recursos naturais e que sem justiça social nunca haverá justiça ecológica, já que não é a natureza que está em crise, mas as formas sociais que organizam como as pessoas se apropriam da natureza. Precisamos entender que a natureza não é externa à sociedade.
Um dos principais motivos que levam a essa crise social é o entendimento de crescimento econômico. Só seria possível crescer gradualmente todo ano se os recursos naturais fossem, de fato, ilimitados. Como não são, para que um país possa crescer é necessário subjugar outro e disputar os recursos naturais. A pressão pela redução dos direitos trabalhistas também se torna fundamental para a sustentação de crescimento econômico.
Precisamos, portanto, reestruturar nossa organização social-econômica. Os autores apostam na ideia de decrescimento, a saber, "um projeto multifacetado que pretende mobilizar apoio para uma mudança de rumos, tanto no nível macro das instituições econômicas e políticas, quanto no nível micro dos valores e das aspirações individuais. Neste caminho, muitas pessoas verão sua renda e suas comodidades materiais diminuírem, mas o objetivo é que não encarem esta redução como uma perda de bem-estar" (p. 117). Para isso, é necessário apostar também em novos "princípios normativos como a cooperação, a reciprocidade, a solidariedade e a justiça social" (ibid). Além disso, também é necessário colocar em xeque o próprio capitalismo.
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