Corações ruidosos em queda livre

Corações ruidosos em queda livre Alex Sens




Resenhas - Corções Ruidosos em Queda Livre


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Vevelyn 10/05/2020

Legalzinho
Por mais que seja uma leitura curta, ela é bem interessante de ler. Curti bastante e me prendeu muito
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Krishnamurti 09/02/2019

Corações ruidosos em queda livre
Recentemente escrevi em um Prefácio para obra em processo de publicação: “Uma satisfação voltarmos a encontrar o conto em seu formato tradicional. Não entramos no mérito da exata estrutura da história curta ou conto literário, mas há de se considerar certa desestruturação por que tem passado o gênero (nem sempre com resultados positivos), que o tem impregnado de outros formatos, incluindo o sketch teatral, o ensaísmo e descambando até para meros aforismos de algumas poucas linhas”. Aos cultores da arte literária, sempre é gratificante ler obras semelhantes em formatação, àquelas que nos legaram os precursores do gênero conto, pois lhes deram substância narrativa. Narrativas com início, miolo e fim bem elaborados de forma a causar o ‘singular efeito único’ a que Edgar Allan Poe se referia, ou decorrente de uma epifania (como praticou Maupassant) ou ainda o tom intimista e nutrido de silêncios a maneira de Tchekhov ou Graciliano Ramos.
O jovem escritor Alex Sens, já com alguns títulos publicados e prêmios recebidos, apresenta-nos “Corações ruidosos em queda livre”, que em suma, nada mais é do que a reunião de três contos longos: “Corações ruidosos”, “Em queda”, e finalmente, “livre”, daí o título da obra. Muito bom o enredo de cada um dos contos, e cada um deles, por sua vez, enlaçam-se num sentido mais amplo que afinal é o objetivo maior do livro. Chegaremos lá. A primeira narrativa na qual aflora uma criatividade digna de nota, reúne 12 passageiros em uma pequena e misteriosa viagem entre duas cidades.
Essa trama nos faz lembrar de outra bem conhecida. O “Oriente-Expresso”, aquela novela thriller do escritor inglês Henry Graham Greene, de 1932. Trata-se esta última, de um obra onde as histórias das personagens, passageiros de um trem, cruzam-se, sem um foco específico. Embora possa-se dizer que a história, como um todo, gira em torno de certas personagens, na realidade a personagem central da história é o próprio trem em direção a Istambul. Pois; o conto do senhor Alex Sens se é mais modesto no veículo escolhido (um ônibus), não o é na densidade humana dos homens de nosso tempo, e nos traz ainda uma mensagem final digna daquele ‘singular efeito único’ de Edgar Allan Poe a que nos referimos. Espetacular. Muito bem; entre os personagens de Sens estão, um passageiro com saudades de terras européias, e que tem plena consciência de que “Nunca encontrarei nada parecido por aqui”, uma mulher chorosa pela morte recente de um filho, um homossexual que viajava ao encontro do namorado, um escritor que se entretém em observar: “Cada passageiro dentro do ônibus era uma história única, portanto um universo que podia explorar sem que soubessem”, uma cozinheira que odiava os desmandos da patroa, uma noiva também em direção ao que ela pensava ser o amor de sua vida, um suicida em dúvida, um padre com a libido na estratosfera, outra mulher aliviada (?) pela morte recente do pai de quem herdara fibromialgia e loucura, e o próprio motorista do ônibus dentre outros passageiros sem nome. Não há individualidades batizadas, o que aflora com força é a realidade de cada um deles que aflora durante o transcurso da viagem. Interessante notar que a falta de identificação mais positiva das individualidades das personagens permitem ao autor compor uma narrativa em que as dores, aflições, temores, destinos, egoísmos e incertezas humanas se condensam de tal forma que a estrada que temos à frente daquele ônibus, nada mais é do que o viver humano completamente desequilibrado da atualidade. Que destino terá afinal aquele ônibus onde se reúnem doze “corações ruidosos” e suas angustiantes realidades? Vale a pena conferir.
O conto “Em queda” parece ser um retorno a um veio que o autor costuma explorar, o do realismo mágico. O realismo mágico ou realismo fantástico, onde o conteúdo de elementos mágicos ou fantásticos (alguns sem explicação e/ou improváveis de acontecer) são percebidos como parte da "normalidade" pelos personagens. Em outras palavras, e alargando o fulcro que o autor Alex Sens explora, uma preocupação estilística que participa de uma visão estética da vida que não exclui, contudo a experiência do real. Sejamos mais claros: O conto nos traz o cenário de uma galeria de arte em que são expostos quadros de pintores como Edvard Munch (autor do célebre quadro “o grito”) que tinha a morte como perspectiva constante em sua arte. Mas essa perspectiva da morte natural ou decorrente do próprio existir parece afastada pelos acontecimentos que se sucedem no interior do prédio/galeria de arte. A arquitetura do lugar é caracterizada por um edifício circular de 7 andares com um grande fosso ao centro, onde há um átrio. Ali se realizam apresentações de um pianista. De modo tal que, o público pode postar-se nos parapeitos dos diversos andares e dali assistir as apresentações. Que bonitinho! Isto nos faz lembrar de alguma forma o panóptipo de Michel Foucault - para quem não sabe o que é, pense aí em um estrutura arquitetônica construída pelo poder político e econômico para nos controlar sem que possamos perceber.
Pois; a coisa começa a tomar ares de terror quando a cada apresentação, ocorre paralelamente um suicídio de alguém que resolve se atirar lá de cima do sétimo andar no meio do átrio. A coisa toma ares de espetáculo, com direito a imprensa cativa, fotografias de selfies, lugar marcado, platéia animada para assistir a desgraceira, cobrança de ingressos e tudo quanto o mundo do espetáculo da miséria alheia permite. “O suicídio é uma obra de arte viva!” Falamos acima de uma “visão estética da vida”. Melhor seria caracterizar no caso específico deste conto aterrorizante que é “Em queda” a “visão estética da não vida”, ou da pura e simples negação da existência que é a única coisa que verdadeiramente possuímos. A completa negação por meio do suicídio, sem qualquer razão plausível. Como se fosse possível que exista uma. E não deixemos ainda de referir um personagem – Lucas -, que ao tempo em que narra por intermédio de um diário, a série de suicídios que vão se tornando rotineiros, sente um desejo irresistível de escrever cartas a alguém.
Parece maluquice do autor? Não é, basta olharmos os números dos suicídios ocorridos nessa belezura de mundo que vamos construímos. De 2007 a 2016, foram registrados 106.374 mortes por suicídio no Brasil. Apreciem o talento narrativo do senhor Alex, e sobretudo, meditemos muito sobre aquilo que pensamos que ‘não nos diz respeito’. O suicídio alheio.
Em “livre”, outro conto muito bem urdido, temos em verdade uma série de cartas que uma mulher – Leonor – escreve a várias pessoas. O marido, um desses homens que passam a vida a construir a imagem de homem viril, bem dotado e bem sucedido, acaba esmagado por uma carreta. Leonor é uma escritora que tem câncer de pulmão, e essa proximidade da morte a faz escrever livremente para quem bem entende. A proximidade da morte faz revelações surpreendentes. E assim seguem diversas cartas. Para uma possível amante de seu marido chamada Júlia, uma bicha enrustida – Daniel-, que receitava chás para o tal marido, outra carta para a agente literária, outras tantas cartas, e uma última, mais surpreendente ainda em revelações. Todas as cartas girando em torno da vida e da morte. Morte brutais então? Até o limite da chacina.
Nosso tempo está sinistro pra caralho! Um tempo em que cada um se põe a amar com amores egoístas, ou tornamo-nos tão ciumentos de nossa própria personalidade, que fazemos um esforço tremendo para humilhar e rebaixar por todos os meios a dos outros. Onde a lei é o hedonismo desenfreado e a volúpia deve ser buscada a qualquer preço em meio ao espetáculo constante. Onde nos dividimos nos grupinhos que nos são convenientes. Cada vez mais, e não temos perspectivas de futuro, nenhum ideal, nada; só gozo por cima de gozo, e fala mais alto o tudo ou o nada. Para adquirir esse tudo, recorre-se à ferocidade e, isto não resolvendo, há quem apele para o suicídio. O culto da não-existência e da destruição de si mesmo levando a maior fé, em um repouso eterno no seio do nada. Mundo triste esse nosso no qual tantos e tantos acreditam piamente que o mal é a condição normal dos homens. Triste e triste está o mundo... E não nos damos conta de que a consciência da vida é superior à vida. Não há escapatória. Enquanto certas verdades não vêm à tona para todos, assistimos perplexos aos “corações ruidosos em queda livre”.

Livro: “Corações ruidosos em queda livre”, Contos de Alex Sens. Editora Penalux, Guaratinguetá - SP, 2018, 132p. - ISBN 978-85-5833-457-0
teapacks18 09/02/2019minha estante
Resenha que sabe como guiar o desconhecimento do leitor em direção à descoberta da obra! Parabéns, Krishnamurti. Que venham outros textos seus, pois é agradável lê-los. Um abraço!




Carol 24/01/2019

Corações ruidosos em queda livre
Antes de falar sobre os três contos, preciso dizer que adoro todos os títulos que o Alex Sens arruma para seus livros. O frágil toque dos mutilados. Coração ruidosos em queda livre. A silenciosa inclinação das águas. Sério, só o título já aguça a curiosidade do leitor.

Corações ruidosos: uma viagem de ônibus é espaço de tempo suficiente para que seus 12 ocupantes divaguem sobre a vida e escolhas, sobre o que se passou ou o que poderia ter ocorrido. Um fluxo de consciência múltiplo. Digno de uma Virgínia Woolf.

"Todo mundo quer a janela. Bobagem. Há mais para se ver aqui dentro, ao menos eu acho."

Em queda: um quê de distopia, um quê de retrato de uma época. Da sociedade do espetáculo. Da banalização da morte. Uma galeria de arte cujas obras são relegadas a um segundo plano, por conta do Fato. Como atesta o narrador: "O fato é que o Fato é a nova arte".

Livre: foi o conto que me arrebatou. Aquela sensação de que estou lendo um livro bom. Enviando cartas a seus desafetos, Leonor se desnuda. Uma escritora direta, fria, cruel. Um desbunde. Uma personagem de tirar o fôlego.

Ler Alex Sens é imergir numa escrita elegante, sinestésica. Corações ruidosos em queda livre é cheio de referências a músicas, artistas, lugares, bebidas. Um livro de muito bom gosto.
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