Gabriel Dayan 03/01/2019
Vivemos em um período histórico curioso. Revoluções armadas estão fora de moda, apesar de estarem a ponto de estourarem. Instituições estão relativamente fortes, a religião tem voltado nas universidades como um sistema hermenêutico da própria sociedade. Ideologias políticas tornaram-se Religiões Secularizadas. Os acadêmicos perceberam que a razão foi sepultada quando negaram que a espiritualidade da vida é um fato e sua supressão causa desumanização.
No estudo do Direito, aprendemos que o aspecto jurídico das nossas vidas se conecta de maneira dinâmica com outros aspectos, como o da fé. Quantos líderes religiosos que desempenharam funções com amor e dedicação ficaram mal falados por minúcias legais ou então, no fim de suas vidas não tiveram direito à aposentadoria? Ou qual foi o impacto em uma congregação que quis destituir um pastor adúltero ou como atingir o patrimônio do tesoureiro que pagava suas próprias contas com o caixa da Igreja e fazia besteiras com o CNPJ dela? O que fazer quando alguém envolvido em investigações criminosas oferta uma quantia vultosa de dinheiro para uma Igreja local? Posso, como médico me opor a um procedimento de aborto ou eutanásia que vai contra minhas convicções sem ser responsabilizado?
Se assuntos mais corriqueiros não sejam seu interesse, o preâmbulo constitucional fala do Estado Brasileiro estar “sob a Proteção de Deus” inominado, ou do Deus Judaico-Cristão? Por que Direito Religioso não é o mesmo que Direito Canônico? Quais são os limites da laicidade? Por que o Brasil tem o sistema de laicidade mais avançado do mundo e por que os países socialistas, comunistas e descendentes da Revolução Francesa são os piores? Por que a Constituição de 1937 foi tão contrária à liberdade religiosa?
Todas as perguntas acima e outras foram respondidas no livro. São 519 páginas do - ouso dizer - material mais completo e abrangente sobre Direito Religioso e com modelos ao final que podem servir para o dia-a-dia da Organização Religiosa. A disposição do coração dos autores foi de realmente ajudar Igrejas, Mesquitas, Sinagogas, e muitas outras de poderem organizar-se de maneira a não criar problemas com o poder público. Especialmente voltado para o público Cristão Evangélico, o livro não deixa à desejar no nível técnico-jurídico. Pelo contrário, rega as lições com curiosidades que ajudam a estabelecer o conteúdo. Se não pretender ler toda a obra é crucial tê-la pelo menos como manual de consulta.
É tempo da Igreja desenvolver um testemunho pleno e isso envolve o aspecto jurídico, físico, ético, espiritual, econômico, familiar, psicológico, político, etc. A guerra e o martírio de revoluções ocorrerão nos frios salões universitários e das cortes do Estado. A perseguição poderá ocorrer sob a justificativa de busca da justiça e só poderá ser combatida por aqueles que buscaram ser plenos e técnicos na missão religiosa que vai infinitamente além da Igreja e abrange a totalidade do cosmos.
P.s.: Até que ponto Deus não estaria nos evitando por causa do testemunho da Igreja na hora de pagar suas contas, de prestá-las ao Ministério Público ou de achar que questões naturais podem ser trabalhadas de qualquer jeito? Será que o desapego de questões materiais pela busca de uma suposta espiritualidade não fez o peso da realidade desviar a mente do estudante universitário? E que, ao buscar socorro em sua denominação, apenas viu mais um reflexo da hipocrisia e das previsões certeiras dos professores seculares?