Reccanello 17/06/2021Com o passar do tempo, os heróis parecem tolos e ridículos!Dizem que, certa vez, um aluno perguntou a sua professora: "se eu tirar de quem tem mais e doar a quem tem menos estarei praticando um ato de bondade?". E a professora respondeu: "não, você estará praticando um roubo!". E assim, confrontado com a razão, morreu o mito do Robin Hood!
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Esse livro me trouxe emoções dúbias: como objetivista e liberal (para quem os valores de liberdade, propriedade, individualidade, racionalidade e não agressão são sagrados), não existe a mínima possibilidade de aceitar ou compactuar com as ideias e com os atos do personagem principal, que, afinal, não passava de um ladrão e um assassino, pouco importando a desigualdade social e a marginalização sofrida pelo siciliano, nem tampouco sua forçada subordinação à romantizada criminalidade local; o fato de "distribuir junto aos pobres" o produto de seus crimes não minimiza o erro dos roubos praticados muito menos o absurdo das mortes que causou. Por outro lado, fato é que ele apenas replicava as práticas mafiosas já tão comuns à alma do povo siciliano; não que isso justifique seus crimes, mas ao menos os explica de certa forma: uma gente sofrida que há séculos vem sendo vilipendiado por toda sorte de déspotas; que não apenas é ignorante como tem orgulho de se manter nessa ignorância; para quem o perdão não passa de uma fraqueza e uma demonstração de covardia; que tem a "honra" como valor praticamente absoluto; uma população com tais crenças não poderia criar muita coisa diferente de Turi Guiliano, Don Croce, Don Corleone e demais integrantes da escória criminosa que compõe a Máfia. Enfim...
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Quanto ao livro, em si, é uma obra muito boa! A romantização da história real de Salvatore Giuliano (cujas vida e atitudes podem ser explicadas pelo fato de ele ser um grande fã das histórias de Emilio Salgari) é maravilhosa, e aprazível é a forma como o autor nos insere na Sicília e nos faz passear pelas suas localidades e conhecer seu povo, mergulhando na psiquê daquela gente simples, sofrida, mas nem por isso inocente. Para quem é fã de histórias de Máfia e quer ir além de "O poderoso chefão", é um prato cheio.
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