Coisas de Mineira 29/12/2019
Lançado em 2019 pela Editora Morro Branco, Os Eternos é o primeiro livro de uma duologia intitulada O Legado, das autoras Amie Kaufman, uma australiana especializada em mediação de conflitos, diplomada em história, literatura e direito e Meagan Spooner, uma americana especializada em roteiros para teatro e amante de viagens. Duas mulheres escrevendo ficção científica, vão explorar questões relativas às consequências do uso desenfreado dos recursos naturais e as escolhas que dois adolescentes vão fazer frente ao desconhecido.
A terra já não é um lugar bom de se viver. A humanidade praticamente acabou com os recursos naturais, e, como era de se esperar, volta seus olhos para o céu. Há alguns anos, foi encontrado um planeta e uma nave tripulada foi coletar informações. Como essa nave nunca mais voltou, a Aliança Internacional se torna mais inflexível com suas leis interplanetárias para evitar que as novas explorações sejam ineficientes e catastróficas como a primeira.
Nesse meio tempo, um conjunto de mensagens codificadas chega à terra, e um grupo de cientistas, liderados pelo Dr. Elliott Addison vão trabalhar com esses códigos – um conjunto de equações matemáticas. Descobrem que quem enviou as mensagens são “Os eternos”, uma civilização que parece extinta há muito tempo, mas que teriam deixado uma nova tecnologia que desperta interesse, pois teria a capacidade de reverter os danos ambientais na Terra. Essa tecnologia muito provavelmente está em Gaia, planeta de onde se origina a mensagem, e se torna um tesouro a ser descoberto.
“Até a transmissão nos levar a Gaia, um planeta com segredos e tecnologias tão poderosos que uma espécie inteira se destruiu na briga por eles.”
A historia em Os Eternos nos é contada em duas perspectivas. A primeira é de Amelia Radcliffe, uma adolescente que se torna saqueadora – uma profissão comum na terra, mas que claramente não é bem vista, sobretudo por parte da comunidade científica da qual Jules Addison faz parte – foi o pai de Jules um dos responsáveis pela tradução da mensagem dos Eternos. Acontece que, depois que começa a decodificação, o Dr. Elliott percebe que ter posse dessa tecnologia antes de estudar arduamente pode ser muito perigoso, mas a Aliança Internacional resolve ignorar o pesquisador, pois acredita que, uma vez que uma célula solar já foi trazida à terra e resolveu o problema de geração de energia de Los Angeles, não haverá perigo em trazer tudo que for encontrado em Gaia.
Amélia vai para Gaia saquear pois, com o lucro da venda do que encontrar ajudará sua irmã, e Jules vai para tentar descobrir mais sobre essa tecnologia. Eles se encontram logo no início, no meio de uma confusão com um grupo de saqueadores, e acabam por formar uma parceria inusitada e relutante – ela acha que ele é um garoto que vive cercado de privilégios e não se dá conta do que se passa com os mais desafortunados, e ele acha que ela é apenas uma aproveitadora, que saqueia apenas visando lucro, sem se preocupar com o que acontece com os outros.
“… o segredo da nossa salvação estava em entender os Eternos, entender por que se destruíram depois de atingir ponto tão altos na civilização.”
Jules propõe que se juntem, uma vez que provavelmente encontrarão uma série de enigmas, e os dois unidos seriam mais eficazes para descobrir as armadilhas que os Eternos deixaram no caminho até essa suposta tecnologia.
Eu participei da leitura coletiva criada pela Editora Morro Branco para Os Eternos. E fui com uma expectativa normal, já que não havia lido nada antes para não me influenciar. Gostei bastante do tamanho dos capítulos, pequenos, e da transição de um personagem para outro, não me perdendo, uma vez que o título já informava quem era o personagem da vez, e havia continuidade entre um e outro. Até cerca de metade do livro, os personagens são apresentados, bem como o passado dos dois e de como a terra chegou no momento atual. Daí em diante, ação frenética!
Preciso dizer que em alguns momentos me vi relembrando Indiana Jones, com seus enigmas e armadilhas deixando sem fôlego. Mesmo porque na mensagem dos Eternos fica claro que somente os dignos poderão aprender com eles – já vimos isso antes, não é mesmo?! Também me lembrei da Lara Croft, principalmente por conta da Mia, que se mostrou muito inteligente e perceptiva, sendo fundamental para uma boa parte dos enigmas.
“Ele está com aquela expressão, a de ‘eu vou salvar o mundo’, como se sua nobreza pesasse mais do que a mochila ridícula.”
Os dois passam por um amadurecimento bem interessante – Mia precisa aprender a confiar, mas se mostra muito leal, e Jules, muito ingênuo, se descobre apaixonado… sim, temos dois jovens, e claramente teremos romance. Embora muitos não tenham gostado, eu achei que aconteceu devagar, e se tornou forte mesmo no terço final do livro. Sei que a história de um casal de adolescentes, desacreditados por adultos que se juntam para salvar a humanidade e acabam se apaixonando não é necessariamente uma novidade, mas eles estão em um planeta cheio de armadilhas e trazem a bagagem das diferenças sociais, o que acrescenta discussões ao velho clichê.
As autoras fazem um bom trabalho descritivo, e conseguia imaginar cada cena, mesmo os quebra-cabeças matemáticos. Também gostei de como desenvolveram a ideia de ganância, através da corrida desenfreada e sem limites por essa tecnologia – vejam bem, mesmo tendo uma aliança internacional controlado as viagens interplanetárias, não significava que procuravam alguma coisa pelo bem dos povos – poucos privilegiados tem acesso a água, comida, educação, moradia. Também vale mencionar uma maior representatividade de etnias, mas que não escapam da reprodução de estereótipos – afinal, temos um chicano chamado Javier, um mercenário.
E, Os Eternos termina com um Cliffhanger que não me passou pela cabeça em momento algum, deixando muitas perguntas para serem respondidas no próximo livro. Os eternos tiveram seus direitos adquiridos e será adaptado para o cinema pela Columbia Film com Doug Liman (Identidade Bourne) na direção, além de Jez e John-Henry Butterworth (007 contra Spectre) na roteirização.
“Eu e meu pai passamos anos sonhando em explorar uma sala como a que vejo à minha frente. Mas agora não tenho o luxo da exploração, porque preciso usar todas as minhas forças para sobreviver.”
Por: Maisa Gonçalves
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