Carous 14/12/2019Parece aqueles bolos bonitos por fora, mas massudos e sem gosto por dentroHá mais de um ano eu aguardo o lançamento deste livro; anunciado como uma releitura feminista das lendas arturianas focadas em Guinevere.
Embora eu não caia mais no conto das editoras de taxarem qualquer livro de"feminista com mocinha emponderada e forte" só porque foi escrito por uma mulher sobre uma personagem feminina que luta, cavalga ou qualquer coisa mais "masculina", eu acreditei que The Guinevere Deception era uma releitura emocionante sobre O Rei Arthur.
Então, além de decepcionada com o que o livro é, estou um pouco furiosa. Este foi o único livro da minha vida em que eu fiquei ansiosa pela publicação e não correspondeu minhas expectativas. E, lamentavelmente, não foi minha culpa.
Guinevere é uma personagem com grande potencial que se apaga no decorrer da história. De bruxa espiã que "casou" com o rei para protegê-lo de um inimigo feiticeiro sob a ordem de Merlin, ela vira apenas uma peça que Merlin e Arthur usam para seus propósitos particulares. Eles jamais falam quais são esses propósitos e não passa pela cabeça de Guinevere questionar.
E o tempo todo somos lembrados pela própria que ela só assumiu esse disfarce porque seu mentor, Merlin, não pode ir à Camelot exercer a função uma vez que foi banido de lá.
Ou seja, Guinevere é descartável. Nem Arthur nem Merlin escondem que não a veem como um ser humano e sim como algo a recorrer quando precisam e que deve ser obedecido.
Lógico que eu não esperava uma personagem feminista foda, que lutasse e gritasse: "Abaixo ao patriarcado e morte ao pênis*!" em pleno século 5, mas também não esperava uma mocinha tão apática.
Além do mais, apesar do contexto histórico, Guinevere teve contato com mulheres guerreiras e inteligentes em que ela podia se espelhar. Mas preferiu seguir o exemplo da mãe de Arthur que não deve domínio algum sobre sua vida.
(* isso é transfóbico)
Guinevere passa seus dias perguntando o paradeiro de Arthur para os empregados, cumprindo seu falso dever de rainha por meio de umas tarefas fúteis e inúteis demais para um rei, mas não para uma mulher - mesmo que essa mulher seja a rainha, e conhecendo Camelot.
Para fingir que o enredo principal não foi completamente deixado de lado, vez ou outra ela suspeita de uma pessoa, algo estranhamente mágico a ataca, mas a ameaça é logo neutralizada.
Arthur nunca está no castelo. Apesar de dizerem que Camelot está em paz, ele está sempre nas fronteiras do reino ou na casa de algum possível invasor negociando que Camelot não seja invadida. Pouco estranho para um lugar que vive seus dias de tranquilidade e prosperidade.
Óbvio que apesar de ser constantemente deixada de lado pelo marido, logo ela se apaixona por ele. Um cara tão bondoso e amado por seus súbitos. Lindo, alto, com ombros largos, belo sorriso, loiro e olhos azuis. De vez em quando ele até lembra que é casado e sorri para a esposa, beija suas mãos ou sua testa (acontece sempre quando eles estão em público para mostrar ao reino como o casal vive em lua de mel ou quando ela fica insegura e pensa em ir embora do castelo) Quem poderia pedir mais? O que, outra vez, levanta a questão: se Arthur não fosse tão padrão e bem mais velho, será que Guinevere se apaixonaria por ele ou ficaria mais confortável em ser sua amiga, cumprir sua missão e meter o pé?
Sobre a escrita de White: foi minha primeira experiência e até 50% do livro nada se destacou nem para criticar nem para elogiar. Isso porque ainda havia esperança em mim de que a história iria para algum lugar. Depois da metade do livro eu admiti que o livro era isso mesmo: vários nadas acontecendo em meio a trechos repetitivos sobre algo que Guinevere já havia nos informado em todos os capítulos anteriores (como se o leitor e não a escritora que sofressede problema de memória).
White começou a história muito bem. O primeiro capítulo é cativante, mas dali pra frente é só enrolação.
Apesar da desilusão, eu lerei os demais livros dessa trilogia. Mas só porque algum deles deve mostrar a intenção que Kiersten White teve quando começou a escrever sua nova série.
Por enquanto The Guinevere Deception é só um livro com um título preciso, uma capa linda de morrer cheio de folhas de árvores que foram assassinadas à toa. Optem pelo ebook e poupem as árvores