lucas 26/01/2021
Nem excelente, nem péssimo...
"Minha irmã, a serial killer" conta a história de duas irmãs nigerianas, Korede (a mais velha) e Ayoola (a irmã mais nova). E logo de cara a gente já fica sabendo que Ayoola tem uma mania peculiar... Ela mata os seus namorados quando ~enjoa~ deles.
O livro começa exatamente desse ponto, Ayoola matando um desses namorados e ligando pra Korede ajudá-la a acobertar o rolê todo.
Ouvindo isso tudo, vocês devem pensar: “Então é um livro de thriller psicológico, suspense?”... NÃO! Aí que está o primeiro problema desse livro, ele é vendido como um thriller, quando na verdade é um romance, não no sentido romântico da palavra, falo da estrutura da história mesmo.
Em uma entrevista que vi da autora, Oyinkan Braithwaite, ela mesma fala que não gosta de definir um gênero pro livro, ela só queria falar da relação dessas duas mulheres. O que me faz pensar que o erro está em quem cataloga os livros nos gêneros nesses sites de vendas.
E falando sobre um romance, aí a autora acertou em cheio, porque "Minha irmã, a serial killer" é muito mais sobre as questões que envolvem Korede e Ayoola, a ligação entre as duas, do que os crimes que Ayoola comete.
A autora retratou com excelência como uma mulher é vista na sociedade. E quando essa mulher toma consciência disso, ganha um poder gigante! Ayoola é o estereótipo de "mulher gostosa", daquelas que onde passam fica todo mundo olhando. E sabendo disso, ela consegue tudo o que quer. Sai dos crimes impune e sem nenhum peso na consciência quanto a isso.
Korede, em contrapartida, é o estereótipo de "mulher que não é interessante" (visualmente falando) e, pra compensar, se esforça em tudo pra ser A MELHOR. E consegue, ela é uma profissional admirável onde trabalha e se cobra horrores pra ser a filha exemplar e a irmã excepcional, por isso que ela ajuda a irmã mais nova nas merd@s que faz, é até interessante ver esse dilema moral dela em algumas partes: "Eu ajudando no assassinato, também faço parte disso... Isso é errado! Mas ela é minha irmã mais nova, minha família, eu não posso entregar pra polícia... Seria errado também!". E, pra mim, o ponto alto é aqui: quando a gente começa a conhecer mais sobre Korede e entender tudo o que leva a personagem a fazer essas coisas pela irmã, porque elas têm um passado pesado, motivo que a obriga passar esse pano, mesmo odiando fazer isso.
Korede foi construída com maestria, a gente consegue entender as suas motivações quando conhece o seu histórico. Mas o que a autora gastou de tempo pra construí-la, faltou na Ayoola, porque NOSSA.... QUE MENINA CHATA! O único traço de personalidade dela é ser a "mulher gostosa" que mata. Fim. Isso me incomodou um pouco na leitura. Porque ela é uma personagem rasa, sem graça. Então fica meio que desigual, sabe? Nas partes focadas na Ayoola, eu virava tanto meu olho que até via meu cérebro. Os outros personagens do livro pouco importam, a maioria só está lá pra preencher espaço.
E aí chegamos no final... O FINAL... Quando eu terminei de ler, achei uma verdadeira b*sta! HAHAHAHAH mas depois, quando pensava no livro, realmente não teria como ser diferente. Daí que entendi o que a autora queria passar com essa história: o peso de uma família abusiva são marcas que ficam pra sempre! Korede sempre se coloca em segundo plano porque foi ensinada que Ayoola é mais importante do que ela, Korede se envolve nos crimes da irmã pra acobertar a f#dida porque foi ensinada que é responsabilidade dela cuidar da irmã. E é triste ver o quanto que ela se negligencia, o tanto que ela se coloca pra baixo. Então, pensando por esse lado, o final do livro ganhou outro olhar por aqui.
No geral, eu gostei do livro, foi um ponto ou outro que me incomodou na leitura, mas nada que fizesse ser uma obra péssima!
Fora que é um livro escrito por uma mulher nigeriana, que se passa na Nigéria, numa cultura totalmente diferente do que a gente está acostumado. O que me fez pensar em quantos livros bons a gente ignora por já estar moldado a só consumir coisas de norte-americanos. Quantas autoras negras vocês já leram na vida? Quantas autoras de outros países, além dos EUA, vocês já leram na vida? Vale a reflexão. Essa quebra de cultura só tem coisa bacana pra nos oferecer!
"Minha irmã, a serial killer" serviu para algumas reflexões e, principalmente, como entretenimento, pois me mantive curioso pra terminar a leitura, mas falha em alguns pontos de construção de narrativa e superficialidade em personagens. Nem excelente, nem péssimo... Mediano.
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