Jacques.Bourlegat 06/03/2017
O Legado dos Templários...
Uma ordem religiosa medieval, um segredo milenar...?
Essa afirmação encontra-se na contracapa do livro de Steve Berry, O Legado dos Templários, e já lança as premissas de um tema polêmico e debatido há séculos: o segredo (tesouro) dos Templários.
Os cavaleiros do Templo ou Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, chamados assim por terem ocupado, logo após a primeira cruzada, o monte do Templo como base de atuação, protegiam os peregrinos nos caminhos perigosos da terra santa e rapidamente eles adquiriram uma fortuna imensa principalmente por doações recebidas. A influência dos Templários em toda a Europa era considerável durante os séculos XII e XIII e, com suas atividades financeiras, eram credores de boa parte da nobreza e de alguns monarcas também, incluindo Felipe IV, o Belo, rei da França.
Este, por sua vez, endividado e à mercê desses credores que não estavam submetidos ao seu bom querer (boa parte das propriedades dos Templários se situava no território francês, quase como um reino dentro de um outro reino, pois os cavaleiros só respondiam diante do santo papa), decide acabar com a ordem e acaparar-se de todos os seus bens e riquezas, que na época já eram reputadamente fabulosos. O rei envia então mensagens secretas para todas as capitanias do reino da França e no dia 13 de outubro de 1307 (uma sexta-feira que ficou marcada no coletivo histórico como amaldiçoada) todos os templários são capturados, ou quase.
Daí surge a lenda, pois o rei da França não conseguiu acaparar-se de toda a fortuna dos templários pois ela não está mais lá: algumas propriedades agrícolas e outras terras que após serem vendidas não valhem toda a fortuna que se dizia. Porém, dizem que o último mestre templário, Jacques de Molay, suspeitando ou avisado por seus espiões da ação do rei, já havia retirado todo o tesouro do templo em Paris (principal sede dos templários na europa) e teria enviado cavaleiros fieis para esconder o tesouro em lugares seguros e secretos até a situação se estabilizar. Mas isso nunca aconteceu. Os templários foram exterminados: torturados, julgados e condenados a serem queimados vivos por heresia. Desde então, inúmeros pesquisadores, historiadores e outros amadores de mistérios lançaram-se à procura deste tesouro magnífico mas até hoje não se soube de ninguém que o tenha encontrado.
Passada essa premissa, a história do livro começa quando o ex-agente do governo americano, Cotton Malone, desfrutando de uma aposentadoria tranquila como proprietário de uma livraria de livros raros e antigos na cidade de Copenhague, impede um atentado contra a sua ex-chefe, Stephanie Nelle. Sem entender as razões desse ataque contra Stephanie, Malone descobre mais tarde que ela veio à Europa na trilha do tesouro dos templários. Seguindo pistas deixadas por seu ex-marido, ela e Malone, investigam a história dos templários assim como os fatos misteriosos envolvendo um abade de um pequeno vilarejo no sudoeste da França: Rennes-le-chateau. Este vilarejo ficou mundialmente conhecido por causa de eventos inexplicáveis que fizeram de um simples abade, Bérenger Saunière ( isso mesmo!! Como o personagem assassinado no início do romance O Código Da Vinci ? farei uma resenha sobre este livro explicando a relação) recentemente nomeado, um homem rico e influente na região. Empreendendo reformas na antiga igreja e incrementando detalhes pictóricos e textuais no mínimo curioso para um eclesiasta.
A narrativa é bem dinâmica, com tempos rápidos e muitos acontecimentos que fazem a leitura empolgante. Um jogo de pistas com enigmas e uma corrida contra o tempo num combate contra estranhos personagens bem decididos a encontrar o tesouro antes de Cotton e Stephanie. Há perseguições, combates, debates, questionamentos pessoais dos personagens, algumas reviravoltas e muitos fatos históricos legítimos ambientados em lugares reais. Mas trata-se principalmente de uma ficção onde o autor pode emitir sua versão para fatos que ainda não têm explicação - nesse livro, além da lenda do tesouro dos Templários há também uma teoria sobre o sudário de Turim que não deixa de ser pertinente.
Esse é o primeiro livro de uma série em que Cotton Malone é o protagonista. Aconselho a sua leitura em primeiro lugar para manter uma certa cronologia dos fatos. Os livros seguintes continuam contando a vida de Malone em paralelo à intriga principal. Cada livro segue uma temática histórica e uma investigação no presente com lutas de interesses sejam eles poder, dinheiro ou ideologia. O que é legal também é que, no final, o autor explica um pouco o que é realidade e ficção, assim como as liberdades poéticas (históricas) às quais recorreu para que a trama fosse construída.