Charlene.Ximenes 16/06/2019
É fundamental compreender que o feminismo é uma urgência no mundo, na América Latina, no Brasil. Entretanto, precisamos nos conscientizar que nem todo feminismo liberta, acolhe e emancipa todas as mulheres. A maioria de nós precisa caber nele, não ignorando muitas das mulheres, sobretudo negras, que se encontram em estado de pobreza. Necessitamos de um feminismo anticapitalista, ecossocialista, que deve articular raça e etnia, gênero e classe. Ou seja, esse manifesto bate de frente com o feminismo liberal.
Reconhecendo a urgência de indagações diversas, é preciso romper com a lógica colonizadora, questionando a concepção universalista da mulher, tendo em vista que esse momento de crise capitalista e de ascensão internacional da extrema direita aprofunda o interesse por um feminismo compromissado com o direito à vida, com o bem viver e com a liberdade.
De acordo com a obra, o capitalismo se encontra na base de todas as crises e, para tal, é preciso utilizar várias formas de enfrentamento. Portanto, todas as relações de poder necessitam ser revistas. O livro apresenta 11 teses que dialogam com essas questões e, além do prefácio de Talita Perrone, possui um posfácio que conceitualiza o capitalismo e suas crises, enquanto sistema econômico e ordem social institucionalizada, bem como discute sobre reprodução social.
O manifesto faz parte de um movimento global que foi lançado em 8 de março desse ano em vários países, como Itália, França, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Argentina e Suécia. A edição que chegou ao Brasil possui um prefácio bem interessante da Talita Perrone, deputada federal e militante feminista negra, tem texto de Noêmia Wapichana, primeira mulher indígena eleita deputada federal, advogada e militante das causas indígenas e dos direitos humanos, no texto da orelha.
Algumas ideias podem parecer óbvias e repetitivas, até dentro do próprio texto. Mas, penso que é uma leitura interessante, didática e esclarecedora para quem busca compreender a lógica capitalista dentro dessa onda feminista atual e da crise profunda que estamos vivendo.