pedrocipoli 23/03/2019
Raivosamente correto
Eu entendo o sentimento de alguém que estudou o comunismo a fundo. A raiva e a frustração de ver algo tão atroz ainda ser considerado como uma opção viável. Parafraseando Jordan B. Peterson, o comunismo é o Nazismo em escala. Escala em mortes, destruição e no Mal, de uma forma geral. Entendo e compartilho do sentimento em certo sentido, pois levo em consideração o estado emocional de quem leu muito mais do que eu sobre o assunto.
São 15 capítulos que tratam do assunto em "O manual politicamente incorreto do Comunismo", de Paul Kengor devotado ao assunto. Começa e termina com fatos recentes que atestam que a academia (principalmente) e o público em geral não fazem ideia da maldade em estado bruto que é essa ideologia ("Nós não falhamos ao ensinar que o nazismo era mau, que Hitler era um assassino em massa, que o fascismo é ruim. Mas há muito tempo fracassamos quando se trata de comunismo, bolchevismo, da URSS, de Stálin, Mao, Castro, Che, Pol Pot, os Kims e assim por diante", p. 318). Ou seja, obras mais acessíveis como esta têm um papel importantíssimo. E é comum dos Manuais e Guias "Politicamente incorretos" tratarem de assuntos de forma mais leve, além de trabalhar com ironia e sarcasmo.
O problema é quando esta ideia se transforma em raiva. O livro começa com a dedicatória:
"Aos incontáveis milhões de pessoas que sofreram e morreram nas mãos dessa ideologia idiota, insana, ignorante, asinina, mentirosa, conspiratória, criminosa horrenda, destrutiva, desumanizadora, diabólica, sanguinária, brutal, bárbara, ridícula, perniciosa, atroz, infernal, assassina, monstruosa, maliciosa, maligna, demente, impiedosa e sob todos os aspectos estúpida, vil, viciosa, perversa, conhecida como comunismo"
Supondo que alguém que não saiba nada do comunismo - que é de fato tudo o que está escrito acima - e escolha este livro para começar a aprender (como é a sua ideia), não sei se ele o compraria para aprender mais. Há uma diferença entre ser enfático e virulento, de forma que não sei se é o tom adequado para quem aprender sobre o assunto. O tom utilizado por Theodore Dalrymple (Viagens Aos Confins Do Comunismo) e Roger Scruton (Pensadores da Nova Esquerda e Tolos, Fraudes e Militantes) é enfático. Conseguem passar a ideia da monstruosidade de países/ideias comunistas/socialistas/progressistas sem darem a ideia de que estão suando de raiva ao escrever o livro.
O livro é muito bem referenciado, usando fontes importantíssimas como o "Livro Negro do Comunismo", onipresente em obras anticomunistas. Dedica boa parte do conteúdo a tentar desmistificar o grande problema atual, que é a ideia de que o comunismo é bom, mas foi mal implementado. Não: o comunismo é genocida, e há muitos (muitos mesmo) idiotas úteis que acham que estão fazendo bem a alguém em se dizer progressista, ou mesmo socialista.
Deixa claro o que o comunismo é de fato: uma ideologia do mal, que usa as "minorias" como massa de manobra para chegar ao poder. E, como sempre acontece, descarta-as (para ser leve) assim que possível. E como divide a sociedade entre negros/brancos, mulheres/homens, etc apenas para alcançar poder. A verdade é que o comunismo, o socialismo e o "progressismo" em geral não dão a mínima para mulheres, negros, pobres, ninguém: só os utilizam como instrumento do seu totalitarismo. Acredito que o livro poderia ter explorado o marxismo cultural em mais detalhes, assim como falar mais sobre a escola de Frankfurt, para reforçar este ponto.
Há pouca coisa sobre a América Latina, com destaques para Fidel Castro, Che (dois genocidas demais até para os padrões da União Soviética) e Chaves. O Brasil mal é mencionado, o que é estranho, já que Lula está na capa.
É um livro bom? Sim, mas voltado para que não sabe absolutamente nada sobre comunismo e consegue deixar a raiva do autor de lado. A verdade é que precisamos de mais livros (Guias/Manuais) sobre o Brasil, especificamente, já que este se concentra nos EUA (o que é natural, considerando as origens do autor). Não chega a ser raso, mas é bem "introdutório", por assim dizer.
Me incomodou o excesso de referências a obras do próprio autor. Não contei, mas acredito que as obras Paul Kengor é a principal fonte de Paul Kengor. Repetidas vezes, aliás, fechando o livro com uma recomendação de outro livro do próprio autor. Não é algo tão aparente no começo, mas vai aumentando em intensidade até começar a incomodar.
Há também um "padrão Vide Editorial" de erros de formatação, diagramação e até de revisão (ou seja, dezenas), presente em todos os livros que li. Esses são os motivos das 4 estrelas, ainda que reconheça que se trata de uma obra importante que deve ser lida por todos.