spoiler visualizarMarilda 27/10/2022
Fragmentos e opinião
“(...) salvar alguma coisa das garras do tempo e do esquecimento.” p. 5
“ (...) desejo de dar uma segunda oportunidade àquilo que não terá nunca mais uma segunda oportunidade.” p. 7
“(...) tenho vivido a vida toda uma vida de espião.” p. 7
“Assim é uma história , que com certeza é feita de uma soma de encontros e experiências e atenções.” p. 7
“(...) uma história , que com certeza é feita de uma soma de encontros e experiências e atenções.” p. 8
“(...)quando escrevo um artigo geralmente escrevo porque estou com raiva. A força propulsora principal.” p. 10
“(...) tempo todo, que tudo esteja em seu lugar. Isso amargura a vida da minha família. O tempo todo eu ponho coisas em seu lugar.” p. 11
“(...) que eu mesmo digito com dois dedos neste computador aqui.” p. 17
“Talvez esses escrevedores tenham assistido a muitos filmes e lido pouca literatura.” p. 17
“Escritores são essas pessoas defeituosas que nascem com a cabeça e o pescoço virados para trás.” p. 18
“O tempo passado gramatical é a água em que vive esse peixe chamado literatura.” p. 18
“Ler uma página que você escreveu é como ouvir sua voz numa gravação: é estranho, constrangedor.” p. 21
“(...) desculpe, meu caro, ter escrito uma carta tão longa, simplesmente não tenho tempo para escrever agora uma carta breve.” p. 22
“Se quer que seja queimado, queime você mesmo.” p. 26
“(...) em todo livro há pelo menos três livros: o livro que você leu, o livro que eu escrevi, que tem de ser diferente do livro que você leu, e também um terceiro livro: o livro que eu escreveria se tivesse força o suficiente. Asas o suficiente.” 28
“(...) pode ser que existam no mundo artistas para os quais as coisas saem como querem, que não fazem concessões. Pensei em Bach, talvez ele não fizesse concessões. Que sei eu? Mas no meu caso, sei que sem fazer concessões não é possível terminar nenhum trabalho.” p. 30
“A sexualidade da mulher é para mim muito mais rica e mais complexa do que a do homem(...) sexualidade da mulher leva vantagem do ponto de vista da delicadeza e da sofisticação” p. 38
“(...) talvez haja também campos sensíveis e campos vulneráveis um pouco diferentes entre homens e mulheres.” 40
“O que ela deixou para mim no tocante a mulheres foi talvez um sentimento nebuloso e confuso de que mulher é uma coisa quebradiça e vulnerável, algo no qual se tem de tocar com mais cuidado do que num objeto de vidro, e de que a mulher é algo feito de sonhos, de saudades, de sensibilidade e de dor.” p. 43
“O verbo “dão” me transmite uma distorção profunda e enraizada, talvez uma das mais antigas distorções no mundo. Isso não me agrada, mas reconheço que até hoje não me libertei totalmente deste profundo substrato, de que todas as chaves do prazer estão sempre nas mãos da mulher. E de que a mulher, sozinha, decide — e esta é uma antiga expressão da qual gosto muito — se vai derramar, ou não, sobre mim seus favores.” p. 45
“(...) tudo de que eu dispunha para desarmar esse terror era ódio, medo, hostilidade, desconfiança e amargura.” 47
“(...) mal se manifesta na imposição ou coerção. (...) coerção não começa e termina com a força bruta. Existe todo um arsenal de coerções, existe também chantagem e manipulação e promessas vãs e suborno.” p. 50
“(...) vida é cheia de sofrimento e sempre termina muito mal.” p. 50
“(...) sem se deter no fato de que essa revolução é positiva, obrigatória. E sim, como toda revolução, ela não é bem acabada nem definitiva. Ela às vezes exagera e às vezes é violenta. Um pêndulo não para quieto delicadamente de uma vez no lugar certo, ele se movimenta energicamente entre os polos. Pois assim são as revoluções.” 51
“Tampouco reduziria a diferença que existe entre a mulher e o homem. O que eu reduziria e até mesmo eliminaria é a injustiça que emana dessa diferença.” p. 52
“(...) fato é que na história humana a objetificação dos homens não teve um papel decisivo, ou qualquer papel em geral, no estreitamento do lugar deles no mundo.” 54
“Essa revolução é louvável, mas à sua margem, como em todas as revoluções, há uma sombra de fanatismo.” p. 55
“Penso que a fronteira entre uma corte um tanto áspera e assédio não está nítida e milimetricamente clara. Penso que a fronteira entre jogo erótico excitante e objetificação não está nítida e milimetricamente clara. Penso que a fronteira entre negligência ou desatenção e ofensa e humilhação não está milimetricamente clara. Penso que a fronteira entre um leve toque ocasional ou divertido e a violação da autonomia física do próximo não está nítida e milimetricamente clara. Penso que até mesmo a fronteira entre uma fala desbocada e uma fala que fere os sentimentos do ouvinte ou da ouvinte não está milimetricamente clara. (...) passem exatamente pela linha que demarca o consentimento mútuo. A todos nós é permitido brincar o quanto quisermos com objetificação ou todo tipo de jogos de prêmio e castigo, suborno e retorno, negociação e barganha, domínio e obediência, dar e receber, contanto que o jogo seja de comum acordo.” p. 56
“Minha educação erótica começou com a leitura de livros. p. 62
“(...) prisioneiros dos clichês sobre a relação entre feminilidade e delicadeza ou fragilidade.” p. 63
“A sexualidade humana está ligada a uma história.” 66
“Não sou pessoa de degustações rápidas. Eu era como milhões de homens por aí afora, que adoram sexo mas odeiam as mulheres.” 68
“(...) tinha saído de minha casa em Jerusalém para me desligar de todo esse mundo de livros e de escrita. Quanto a escrever histórias, o ímpeto foi mais forte” p. 74
“(...) muita gente trabalhando além de suas forças, para ganhar mais dinheiro do que realmente precisa, para comprar coisas das quais não tem necessidade, para impressionar pessoas de quem nem mesmo gosta.” 90
“Nem preciso te dizer que o sentimento de culpa é uma invenção judaica. Nossos ancestrais o inventaram aqui no país. Depois vieram os cristãos e fizeram o marketing com um sucesso colossal por todo o mundo. Mas a patente é nossa. Eu, como judeu, tenho sentimentos de culpa terríveis por termos inventado o sentimento de culpa. (...) se eu passar um dia inteiro sem sentimentos de culpa, à noite sentirei culpa por não ter tido sentimentos de culpa o dia inteiro. Quem tem sentimentos de culpa é um sofredor, mas quem não tem sentimentos de culpa é um monstro. Sentimentos de culpa são um pouco como um tempero bom para quase tudo: para a criação, para o sexo, para educar os filhos, para as relações entre os homens. Um pouco de tempero. Mas se nos servirem um prato condimentado demais: socorro!” p. 92
p. 93 “A verdade é que o artista não entende nada de sua obra…” “… seja como for, ele entende mais do que seus críticos.”
p. 111 “Sim, eu rebaixei um pouco a linguagem. Para falar que nem gente. Para não declamar. Para que não fosse uma espécie de ostentação de riqueza.”
p. 114 “Eu pensava, existem coisas que simplesmente não são dignas da literatura.” “Quando você já tiver chorado todas as suas lágrimas e não tiver mais lágrimas para chorar, é sinal que chegou o momento de começar a rir.”
p. 118 “A literatura precisa seduzir leitores. Estou usando a palavra “seduzir” porque sempre acreditei que educação e ensino são uma questão de sedução. Uma questão quase erótica. O professor ou a professora aspira a fazer com que os alunos gostem daquilo de que ele ou ela gostam. Sim. Seduzir. Na verdade, a educação como sedução é uma ideia de Aristóteles. Alguma vez ocorreu a você que o dicionário do Ministério da Educação está cheio de verbos que derivam da área da violência sexual? Introduzir valores, aprofundar conhecimento, radicar o amor a Israel, abrir e instilar e ampliar e semear. Por que não substituir esses verbos por outros que vêm do contexto do namoro, da sedução e do encantamento? (...) Gosto de ensinar. Gosto e sinto prazer nisso. Mas sempre me acompanha a sensação de que estou conduzindo minha classe por um caminho estreito entre abismos.”
p. 131 “Em épocas revolucionárias, em épocas de grandes mudanças, acontece às vezes de grandes segmentos do público estarem atentos às vozes de um pequeno grupo de literatos, poetas ou romancistas ou pensadores. Quando em tempos normais, isso acaba.”
p. 134 “(...) esse fenômeno da influência é para mim um profundo mistério.” p. 137 “É preciso haver outra voz. Outra linguagem. Outra geração.”
p. 141 “(...) acho que só no segundo amor uma pessoa começa a compreender seu primeiro amor.”
p. 143 “(...) meu pessimismo talvez esteja atenuado pelo fato de eu gostar de pessoas e me apegar a elas. Não tenho um pingo de misantropia. (...) principalmente não sou otimista quando vejo, em muitos lugares do mundo, a vitória de uma direita impregnada de ódio e cheia de medos, e em contraposição muita esquerda banal, ingênua, que odeia o regime estabelecido, hostil aos fortes e aos hegemônicos onde quer que esteja.(...) Estou falando de uma metódica infantilização da humanidade. Eu gosto de pessoas porque homens e mulheres me fizeram bem.”
p. 147 “Que nos esperem lá com paciência. Afinal, ainda temos duas ou três coisas para arrumar aqui, e a luz ainda é tão doce para nossos olhos.”