Laura 15/06/2020this represents Brazil more than soccer and sambaSabe aquele meme this represents Brazil more than soccer and samba? Então, vou usar ele aqui. Esse livro representa o Brasil mais do que futebol e samba. Eu não sei vocês, mas acaba que as minhas leituras vem majoritariamente de outros países, então quando eu pego um livro que representa nossa realidade cotidiana tão bem, dá uma sensação tão gostosa, mesmo que o tema do livro seja pesado, como é o caso.
“O Pior dia de Todos” é sobre o massacre de Realengo, mas nossa personagem principal logo avisa: “quero falar sobre os outros dias, quando Realengo era apenas o nome de um bairro e não de um massacre, e eu era uma menina comum e não uma sobrevivente”. Então o livro se divide em dois: primeiro a simples realidade da Maria Laura e sua família, com suas intrigas familiares, brincadeiras de criança, sonhos sobre o futuro e traumas, e depois essa realidade manchada pelo o que aconteceu na escola.
Esse livro me deixou em frangalhos, primeiro porque bagunçou todo o meu ciclo de sono, já que foi impossível parar de lê-lo uma vez que eu o comecei, e foi assim que ele me deixou chorando, completamente emocionalmente desestabilizada as 5 da madrugada.
A autora foi uma jornalista que atuou na reportagem do que estava acontecendo em Realengo na época, ela conheceu os sobreviventes e suas famílias, ela conversou com as meninas, e quem sabe por isso, foi capaz de representar maravilhosamente bem a vida dessas pessoas nessa obra, pois o livro é intensamente genuíno, verdadeiro, os personagens são tão complexos e bem construídos que você tem certeza que eles vivem no mundo por aí.
Além de tudo, essa foi uma das melhores representações do luto que eu já li, de um jeito sincero e fiel, ela mostra como esse processo é infinito e pesado nos primeiros meses, como ele muda aqueles que ficam, principalmente quando ele deriva de uma surpresa, uma injustiça que levou alguém cedo demais.
No começo desse ano eu li “Columbine”, um livro que fala do primeiro massacre escolar que foi televisionado em tempo real nos Estados Unidos. Naquele livro, focamos no porquê da questão, quem eram os meninos que entraram na escola um dia e começaram a matar seus colegas de classe. Claro, ele também fala sobre as vítimas, mas o foco é os dois garotos. E creio que geralmente é assim que a maioria dos meios de comunicação reagem: focar no assassinos, seus motivos e percurso até chegar ao ponto de assassinar pessoas inocentes, enquanto as vítimas se tornam apenas nomes ao fundo da história do perpetuador.
Por isso livros como esse, embora seja ficção, são importantes. Aqui conhecemos as vítimas, antes de elas terem se tornado isso. Conhecemos sua família, seus sonhos, seus amigos e desejos. As humanizamos. As tornamos protagonistas, literalmente. Daniela Kopsch nos lembra o que elas realmente são: não vítimas/sobreviventes de um massacre, mas adolescentes brasileiras comuns, meninas.
Uma das melhores leituras do ano, até porque é impossível dar menos de cinco estrelas para um livro que consiga me deixar no estado arrasado que eu fiquei depois de terminá-lo. Gostaria de poder distribuir ele por aí para todo mundo. Recomendo demais a leitura.
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