Wal - Ig Amor pela Literatura 27/04/2019Prosa poética que grita em nossas almasJá havia lido dois livros do Marco Severo, mas esse título despertou em mim um interesse imenso, sempre gostei de títulos assim, sutilmente poéticos. Quando recebi o livro, deparei-me, na contracapa, com a opinião da “Inês Pedrosa” sobre a obra do autor. Para quem não sabe, a Inês escreveu “Fazes-me falta”, um dos livros mais lindos que já li e que se tornou inesquecível.
Comecei a leitura dos contos com a certeza que iria gostar, mas logo nas primeiras páginas fui surpreendida pela extrema qualidade narrativa que saltava de cada parágrafo. Gostei, sim, dos outros livros do autor, mas é impressionante como ele consegue se superar a cada novo título e esse traz um autor maduro, seguro do seu estilo, dono de uma capacidade de escrever uma prosa poética cheia de delicadeza, mas dona de uma ferocidade pulsante.
O livro fala do amor, em todas as suas formas e possibilidades, mas, quase sempre, fala de um sentimento dolorido, repleto de mágoa e carregado de uma impossibilidade que faz tudo se eternizar no que poderia ter sido – “Se eu te amasse, estas são as coisas que eu te diria” – nada é fácil e simples nesses contos, em cada página deparamos com personagens que são postos à prova diante do amor ou da pessoa que deveria ser amada. Uma das cidades fictícias dos contos é chamada Henakandaya, fazendo alusão a uma espécie de cobra, talvez porque como a cobra, o amor seja bonito, mas também perigoso.
Emocionei-me com as quatorze histórias, mas confesso que chorei com uma. “A ambição que cabe em cada lugar” conta a história de um andarilho chamado Caramba e de um cachorro a quem ele deu o nome de Desencantado. A história mostra a força do amor incondicional do animal na vida daquele homem e de como o ser humano pode ser cruel diante da dor e do sofrimento de outro ser humano.
“Ao seu lado, o cão Desencantado, que de vez em quando olhava para ele como quem sabe que um olhar também é mão que acaricia.” ----- "Não deixava o cachorro passar fome. O que tivesse era antes do cachorro, depois dele. Não se destrata quem nos escolheu para amar, pensava”.
Redundante falar isso depois de tudo que escrevi, mas ainda assim o farei: Esse livro é muito especial, é raro.