Fabio Shiva 12/07/2023
Uma leitura leve, saborosa e nutritiva, como um bom saquinho de pipocas
Essa foi outra leitura divertida que fiz graças ao Cantinho dos Livros, espaço para doação e troca de livros no Mercado Municipal de Itapuã. “Pipocas” é o volume 2 da série Literatura em Minha Casa, lançada em 2003 e patrocinada pelo Ministério da Educação do primeiro governo Lula. Há poucos meses tive a oportunidade de ler o primeiro volume da série, “Conversa de Poeta” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/03/nada-como-um-bom-bate-papoetico-para.html).
“Pipocas” traz uma mistura de contos e crônicas de três autores: Moacyr Scliar, Rubem Fonseca e Ana Miranda. Eu ainda não conhecia Ana Miranda, mas para estar ao lado desses dois, só pode ser fera! Ela encerra o livro com textos meio na linha do “fluxo de consciência”, pontuados quase que só com vírgulas. Tentei lê-los seguindo o ritmo sugerido pela pontuação. O efeito é curioso: a falta dos pontos causa uma certa vertigem e até mesmo “falta de ar”, pois como não há “pausas para respirar”, a sensação é de que a cadência vai acelerando e ganhando mais urgência. Não sei em que medida isso decorre do estilo do texto ou de minha própria disposição em ler dessa forma, pois nunca senti essa aceleração lendo Saramago, por exemplo, outro célebre escritor que não gosta muito de usar pontos.
Moacyr Scliar é em minha referência pessoal um caso raríssimo, de escritor que comecei a amar na escola. Queria muito lembrar qual foi o conto dele que li em uma antologia que foi passada na escola, com a horrível obrigação de memorizar informações para fazer uma prova. Amei demais essa história do Scliar, e fiquei procurando outros textos dele. Por enquanto só li “Na Noite do Ventre, o Diamante” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2018/05/na-noite-do-ventre-o-diamante-moacyr.html), mas pretendo ler outros.
Já Rubem Fonseca é sem dúvida alguma um de meus autores favoritos (durante algum tempo foi o indisputável número um em minha predileção, posto que hoje é ocupado por Jorge Amado), e foi uma delícia ler textos dele voltados para o público jovem. Principalmente a crônica que dá título ao livro, que me deixou muito feliz em saber que Rubem Fonseca, assim como eu, amava pipocas e detestava fornos de microondas:
“Esse aparelho perverte o gosto do grão, tornando-o mais uma festifude (ainda não existe no dicionário) de gordura hidrogenada.”
Também gostei de saber que a palavra “pipoca” vem do tupi pipóka, que significa “estalando a pele”. E dei risada nessa parte:
“Comer pipoca lendo um livro é também agradável, mas deve ser evitado, pode sujar os dedos e as páginas do volume, um pecado sem perdão. E não encha a boca de grãos, pegue um ou dois e mastigue devagar, pipoca não é mata-fome, é para ser apreciada com requinte epicurista.”
https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/07/uma-leitura-leve-saborosa-e-nutritiva.html
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