urchon 27/08/2022
Considerando a tão pouca idade da autora ao escrever "O Quinze", chega a ser surpreendente a maestria com a qual desenvolve a trama. Rachel de Queiroz toma seu tempo, não se acalorando com termos líricos e mostrando a seca de forma pura, tornando-a humana e viva ao se entrelaçar na vida das personagens de variadas formas, conectando suas tramas particulares.
Justamente ao possuir mais de um núcleo, a narrativa mostra diversas faces da escassez das chuvas, desde a posição mais "confortável" de Conceição, observando as condições precárias daqueles a sua volta ? e também trazendo questões sobre a complexidade de ser uma mulher ?, até a miséria extrema de Chico Bento e sua família, expondo o mais doloroso aspecto da seca através das pobreza, fome e morte, tudo em torno de uma vulnerabilidade angustiante.
Ao avançar na leitura fica cada vez mais explícita a razão da tamanha influência causada pela obra e sua fama até os dias atuais. "O Quinze" é atemporal e não-espacial, atravessando as fronteiras do Ceará e de seu século.