Ana Júlia Coelho 16/05/2024Bryan é um advogado que decidiu atuar defendendo presos do corredor da morte dos quais os julgamentos tenham apresentado alguma falha; seja uma assistência jurídica fraca, provas de inocência deixadas de lado, racismo na hora da escolha do júri. Acompanhamos os relatos dele de como é cansativo esse tipo de trabalho, de viver lutando contra um sistema que condena qualquer um à perpétua ou à morte, mas recompensador quando consegue provar a inocência de algum de seus clientes.
O livro intercala capítulos narrando a vida e defesa de Walter com alguns casos mais rápidos, mas chocantes da mesma forma. Walter teve sua condenação armada, baseada em falso testemunho, em ameaças das autoridades, o puro suco da maldade. Não entendo como alguém pode dormir em paz ao saber que condenou um inocente à morte. Mesmo com tanta ruindade no mundo, Walter e Bryan se tornaram ótimos amigos durante esse longo caminho de provar a inocência do condenado, com tantos recursos e indeferimentos.
Os casos mais curtos também me deixaram chocadas. Se o leitor ainda tinha dúvidas do excesso de rigor em algumas sentenças, quando Bryan começa a defender crianças (10-13 anos) essa dúvida deixa de existir. Nessas partes ele acaba dando uma militada, concordo que é realmente um absurdo um tipo de sentença dessas para crianças, mas algumas delas têm noção do que estão fazendo e deveriam, sim, serem tratadas como adultos quando seus crimes são pesados ou geram vítimas fatais.
Em vários momentos me vi torcendo para que o resultado dos recursos fosse positivo para as vítimas de condenações erradas, mas isso não é ficção, nem tudo fica bem no final. Nos deparamos, sim, com casos em que a justiça preferiu enviar um inocente pra cadeira elétrica ao invés de voltar atrás e confessar que errou. É nojento ver tantas provas inocentando alguns dos condenados e juízes e promotores fingindo que não tá acontecendo nada, tudo pra manter a fachada de que a justiça funciona, porque imagina, que horror, admitir que enviou um inocente pro corredor da morte e que ele sofre lá há anos.
Não é um livro fácil de ler, muitas coisas são extremamente revoltantes, mas me aquece o coração saber que tem gente como Bryan que está de olho e protegendo inocentes que são condenados injustamente. É um trabalho pesado e cansativo, que nunca tem fim, mas cada vida salva desse destino é uma grande vitória (e para quem é culpado de verdade, injeção letal é pouco).
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