spoiler visualizarPrissy021 14/02/2024
Uma narração impecável que não permitiu que eu me perdesse nos acontecimentos, é uma coisa levando a outra. Abordando temas como a traição e a vingança, deixou tudo mais interessante com a intensidade presente em cada palavra, além do final ter sido bom demais.
Trechos:
Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia.
HAMLET: Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
HAMLET: Vai prum convento. Ou preferes ser geratriz de pecadores? Eu também sou razoavelmente virtuoso. Ainda assim, posso acusar a mim mesmo de tais coisas que talvez fosse melhor minha mãe não me ter dado à luz. Sou arrogante, vingativo, ambicioso; com mais crimes na consciência do que pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los, tempo para executá-los. Que fazem indivíduos como eu rastejando entre o céu e a terra? Somos todos rematados canalhas, todos! Não acredite em nenhum de nós. Vai, segue pro convento.
REI (Ator): Você crê no que diz, mas sejamos serenos,
É comum falarmos mais e fazermos menos;
A intenção é apenas escrava da memória,
Violenta ao nascer, mas transitória;
Enquanto fruto verde só nos dá trabalho,
E assim que madura cai do galho.
É muito natural que nunca nos lembremos
De pagar a nós, o que nós nos devemos;
O que a nós na paixão foi por nós prometido
Terminada a paixão perde todo o sentido.
O sangue quente da dor e da alegria
Já trazem consigo a própria hemorragia;
Onde a alegria mais canta e a dor mais deplora,
Num instante a dor canta e a alegria chora.
O mundo não é eterno e tudo tem um prazo
Nossas vontades mudam nas viradas do acaso;
Pois esta é uma questão ainda não resolvida:
A vida faz o amor, ou este faz a vida?
Se o poderoso cai, somem até favoritos;
Se o pobre sobe surgem amigos irrestritos.
E até aqui o amor segue a Fortuna, eu digo;
A quem não precisa nunca falta um amigo.
Mas quem, precisado, prova um falso amigo
Descobre, oculto nele, um inimigo antigo.
Voltando ao começo de tudo que converso –
Desejos e fatos correm em sentido inverso.
Por isso nossos planos nunca atingem a meta,
O pensamento é nosso, não o que projeta.
HAMLET (...)Por mais que as minhas palavras transbordem em desacatos Não permita, meu coração, que eu as transforme em atos!
É possível ser perdoado retendo os bens do crime?
Nas correntes corruptas deste mundo
As mãos douradas do delito podem afastar a justiça –
Como tanto se vê – o próprio lucro do malfeito
Comprando a lei. Mas não é assim lá em cima;
Ali não há trapaças. Lá a ação se mostra tal qual foi,
E nós, nós mesmos, somos compelidos a prestar testemunho,
Olhando nossas culpas no dente e no olho.
RAINHA: Oh, Hamlet, você partiu meu coração em dois.
HAMLET: Pois joga fora a pior parte dele,
E vive mais pura com a outra metade.
Boa-noite. Mas não vá pra cama de meu tio;
Simula uma virtude, já que não a possui.
Nós engordamos todos os outros seres pra que nos engordem; e engordamos pra engordar as larvas. O rei obeso e o mendigo esquálido são apenas variações de um menu – dois pratos, mas na mesma mesa; isso é tudo.
O que é um homem cujo principal uso e melhor aproveitamento
Do seu tempo é comer e dormir? Apenas um animal.
É evidente que esse que nos criou com tanto entendimento,
Capazes de olhar o passado e conceber o futuro, não nos deu
Essa capacidade e essa razão divina
Para mofar em nós, sem uso.
OFÉLIA: (...)Senhor, nós sabemos o que somos, mas não o que seremos.
A natureza é sutil no amor e, nessa sutileza,
Sacrifica um pedaço precioso de si própria
Àquele a quem ama.
A mãe de Hamlet Vive praticamente por seus olhos. E quanto a mim –
Virtude ou maldição, seja o que for –
Ela está em tal conjunção com minha alma e minha vida,
Que, como uma estrela presa à sua órbita,
Eu só sei me mover em torno dela.
PRIMEIRO COVEIRO: Quem é que constrói mais forte do que o pedreiro, o engenheiro e o carpinteiro?
Não maltrata mais teu cérebro, pois um burro burro não fica esperto com pancada. Quando te fizerem essa pergunta uma outra vez, responde logo: “O coveiro”. As casas que ele constrói duram até o Juízo Final.
(Desenterra outro crânio.)
HAMLET: Mais um! Talvez o crânio de um advogado! Onde foram parar os seus sofismas, suas cavilações, seus mandatos e chicanas? Por que permite agora que um patife estúpido lhe arrebente a caveira com essa pá imunda e não o denuncia por lesões corporais? Hum! No seu tempo esse sujeito talvez tenha sido um grande comprador de terras, com suas escrituras, fianças, termos, hipotecas, retomadas de posse. Será isso a retomada final de nossas posses?
A vida de um homem é só o tempo de se contar “um”.
HAMLET: Em absoluto; desafio os augúrios. Existe uma providência especial até na queda de um pássaro. Se é agora, não vai ser depois; se não for depois, será agora; se não for agora, será a qualquer hora. Estar preparado é tudo. Se ninguém é dono de nada do que deixa, que importa a hora de deixá-lo? Seja lá o que for!