Kelly Oliveira Barbosa 14/07/2017Hamlet, Um Alívio em tempos do politicamente corretoEu li Hamlet, uma peça de teatro de William Shakespeare (1564-1616). Foi o meu primeiro contato com uma obra completa desse tão aclamado escritor, poeta, dramaturgo e ator inglês.
Creio ser quase impossível, no mundo ocidental, alguém nunca ter ouvido falar sobre ele ou suas peças. Todavia, mesmo com tantas frases e alusões já conhecidas, a leitura ainda me surpreendeu muito.
A PEÇA
A tragédia escrita por volta de 1599 e 1601, conta a história do Príncipe Hamlet, filho do recém-falecido rei da Dinamarca, que se encontra indignado pelo evento ocorrido após a morte de seu pai - o casamento apressado de sua mãe viúva, Gertrudes, com Claúdio, irmão do falecido.
A peça abre no cenário de uma noite fria no castelo dinamarquês, em que os sentinelas tentam convencer Horácio (amigo do príncipe), de que viram o fantasma do rei.
E o fantasma estava zanzando por ali mesmo. No desenrolar da peça, em um diálogo para lá de estranho entre ele e o enlutado filho, descobrimos a causa. O rei da Dinamarca não morreu de morte natural como se imaginava, mas foi assassinado.
Para quem não conhece a peça, creio que essa sinopse seja o suficiente para instigar a leitura, acrescentando a isso somente que Hamlet não é só uma boa ficção, mas um super clássico que vem marcando séculos de história.
UM ALÍVIO
Inclusive essa peça já foi muito analisada, estudada, virada de ponta cabeça (rs); por muitos críticos, sem que os mesmos cheguem a uma conclusão quanto a sua interpretação. Coincidência ou não, essa é a característica (a difícil interpretação) da maioria dos clássicos.
Por isso, nem tenho um palpite quanto ao seu significado maior ou menor. Há muitos temas presentes ali – religião, política, filosofia... – o que gera no leitor atento, amplas reflexões e desejo pela releitura também.
O que posso dizer, motivo pelo qual escrevo esse texto, é que Shakespeare, em Hamlet, demonstra ter uma lucidez incrível quanto a natureza humana. Isso fica claro, na personalidade dos seus personagens - a "ingênua" Ofélia, o bajulador Polônio, os fingidos atores, o vingativo Laertes, o traiçoeiro rei Claúdio, a passiva Gertrudes; e outros - nas falas ressentidas e francas do próprio Hamlet; e principalmente nos sentimentos que permeiam todo o enredo - amargura, ira, ódio, inveja, falsidade etc. Ele consegue demonstrar como as dádivas da amizade e do amor das relações, são constantemente contaminadas pelos movimentos do enganoso coração humano.
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer? - Jeremias 17:9
Em tempos do politicamente correto, do ser humano sempre ser tido como “bonzinho”, em face de uma sociedade a cada dia mais violenta, egoísta, indecente, profana etc., etc. Ler Hamlet foi um alívio. Sim! Foi um alívio ler esse texto do final do século 16, de alguém do qual nem temos certeza quanto às suas crenças, que descreve o ser humano tal como ele é, sem floreios.
Recomendo a leitura para todos. Inclusive para aqueles que não suportam mais o politicamente correto - pois do jeito que a carruagem anda, vai ser muito difícil encontrar escritores de literatura contemporânea com tal lucidez. Voltemos aos clássicos!
Eu também sou razoavelmente virtuoso. Ainda assim, posso acusar a mim mesmo de tais coisas que talvez fosse melhor minha mãe não me ter dado à luz. Sou arrogante, vingativo, ambicioso; com mais crimes na consciência do que pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los, tempo para executá-los. Que fazem indivíduos como eu rastejando entre o céu e a terra? Somos todos rematados canalhas, todos! Não acredite em nenhum de nós.
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