Cris 15/10/2017
Na prática se fazer de louco é o que há rs!
"Uma gota de mal,
Muitas vezes estraga a mais nobre substância
E a torna infame"
Ato I, Cena IV.
William Shakespeare é, e sempre será uma figura icônica na literatura e suas vertentes. Suas obras dificilmente serão esquecidas tampouco menosprezadas com o passar do tempo. Tive o prazer de me apaixonar por ele quando li a peça 'Romeu e Julieta' e desde então nutro um amor muito grande por cada pensamento e poesia transpostos em páginas e mais páginas. E se eu pudesse descrever minha última experiência, 'Hamlet', em poucas palavras seria "uma fidedigna viagem ao intelecto humano". Shakespeare conseguiu novamente me envolver e me jogar dentro de uma época totalmente diferente e muito distante da nossa realidade.
A história se passa na Dinamarca e de cara somos surpreendidos com uma aparição fantasmagórica, os soldados da corte que ali faziam a ronda logo se aturdiram e decidiram chamar Hamlet, príncipe e filho do finado rei, com isso, puderam dar ao fantasma a chance de uma conversa mais íntima, particular e quem sabe reveladora. Mas o que eles não sabem é que Hamlet através dessa estranha conversa arquitetará um plano causando a destruição daqueles que tiveram direta ou indiretamente alguma culpa na morte de seu pai.
Falar das obras de Shakespeare e não pensar na palavra tragédia é praticamente impossível, o dramaturgo, escritor e entre outras profissões sempre encontrava uma maneira de causar intrigas, separações e certamente a morte de seus personagens, entretanto, suas críticas sociais e filosóficas sempre estiveram em maior evidência, em 'Hamlet' por exemplo é totalmente entendível o porquê de tantos filósofos se espelharem na obra como cerne de algum questionamento social, psicológico etc.
Deixando de lado a época da história que em muito se difere da nossa, o protagonista em questão tem um perfil bem parecido com o nosso, ele é cheio de dúvidas e anseios ao passo que é estrategista e muito mordaz, quando digo que 'Hamlet' é uma viagem ao centro do intelecto humano me refiro à inteligência e poder que nós temos e por vezes não usamos por várias razões, seja por imaturidade ou medo de se expressar e sofrer alguma represália, o príncipe Hamlet não teve medo de fingir ser louco para provar que seu tio, o atual rei da Dinamarca, havia sim assassinado o próprio irmão em prol da coroa. Ele usou e ousou de todos seus artifícios para incutir uma acusação seríssima sem ao menos usar da força bruta que certamente o atrapalharia e muito nesta missão um tanto vingativa.
Para quem ainda não leu nenhuma obra do escritor ou não tem o costume de ler algo tão arcaico (rs), pode sentir uma certa estranheza e dificuldade quanto a tudo, afinal, o estilo da narrativa é feita em forma de versos e prosas, mas meu conselho é: insista que a trama é bem interessante e questionadora, a leitura realmente nos chama para uma reflexão que se aplica à nossa sociedade atual. Resumindo, leiam! É genial.
"Ser ou não ser, eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias
E, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer, dormir…
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite
e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado,
as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal?
Quem aguentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão, porque o terror de alguma
coisa após a morte -
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante
nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar males que já temos,
A fugirmos para outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação."
Ato III, Cena I.