spoiler visualizarmarcilivros 24/06/2013
Amor imerso em cinzas e escombros - sobreviverá?
Pensei em várias pontas para pegar no fio e tecer esta resenha e decidi-me pelas primeiras linhas, as quais deslizavam sem incidentes, contando a vida de Xênia, uma garota prestes a fazer 15 anos, que sonhava com este que seria o grande dia de sua vida.
Eis que, de repente, logo a seguir a este mágico momento, que estava já a ofuscar-se em virtude dos altos brados da Revolução de 1917 na Rússia, pois é de lá que partimos, nossa protagonista é acordada de madrugada por um silêncio estranho e, a seguir, por vidros estilhaçados e gritos. Percebe, então, que sua casa estava sendo invadida pelos revolucionários, pois sua família era considerada, juntamente com uma infinidade de outras, a “moléstia” do país. Observa que quebram objetos e fragilizam o espaço que ela considerava sua fortaleza. quando os invasores decidem-se a ir embora, desce as escadas de sua casa e vai ao escritório do pai e o encontra, esvaindo-se em sangue, já morto.
A partir daí, ela deixa de ser a menina despreocupada e passa a ser a mulher que direcionará a vida daqueles que ficaram sob sua responsabilidade. Sua mãe estava grávida do terceiro filho e este nasce em meio ao caos.
A senhora, já sem grande vitalidade, enfraquece ainda mais, pelas condições em que teve o bebê e pela privação a que estão sendo submetidos todos naqueles tempos. Assim, Xênia entende que de nada adianta permanecerem naquele lugar, onde sua casa era constantemente saqueada no que ainda restava. Com poucos pertences, vai para Paris com sua mãe doente, sua irmã de 9 anos, uma senhora que já era bem idosa e que vivia com a família há anos infindáveis e não tinha para onde ir e o pequeno garotinho a que sua mãe deu à luz.
Assim, temos, no primeiro livro, o relato de como ela e sua família, que manteve-se unida pelas linhas do amor e da força que aquela jovem possuía, conseguiu chegar a Paris e lá sobreviver. Somos tragados pelos ruídos do início da Segunda Guerra e, finalmente, engolfados por ela.
No segundo livro, reencontramos os personagens em espaços que buscam reerguer-se dos escombros e vivemos cenas apocalípticas tão desesperantes quanto no primeiro livro. A autora coloca-me diante de um tema acerca do qual não havia lido quase nada: Berlim ocupada por forças múltiplas que preocupavam-se em mostrar seu poderio enquanto o povo digladiava-se por um naco miserável de pão e morria congelado no rigor do inverno.
Sim, escombros não só dos prédios, mas das vidas, dos sonhos desfeitos, de ideais jogados ao chão e esmagados por outras botas que não a dos soldados nazistas.
Amor sempre visível, em todas as suas nuanças, tempestuoso e calmo, desesperante, temível, sim, a ponto de querer fugir-se dele. Mas será que isto é possível?
E as cicatrizes da alma? Apagam-se? O que sei é que as cinzas da guerra ainda que sejam sopradas por mil ventos, entranham-se nas gerações que a precedem e é preciso aprender com estas memórias.