Thiago Barbosa Santos 27/06/2018
Foi tudo um grande engano
"Os leopardos de Kafka" é um livro da coleção Literatura ou Morte escrito por um autor gaúcho que eu aprecio bastante, o Moacys Scliar. É uma publicação que retrata episódios traumáticos da história mundial de uma forma até bem humorada. Tem Revolução Russa, Regime Militar do Brasil, além de Trotski e Franz Kafka como personagens.
É a história de Benjamin Kantarovitch, um jovem que sai de sua aldeia para atender a um pedido do amigo, que esta prestes a morrer. A tarefa era ir para Praga cumprir uma missão revolucionária designada por ninguém menos que Leon Trotski. O problema é que, apesar das boas intenções de Benjamin, também conhecido como Ratinho por conta da aparência física, ele era um rapaz bastante atrapalhado e se enrolou todo na missão.
Ele perdeu a mochila com os pertences ao chegar em Praga, ficou perdido na missão que tinha a cumprir, e através de informações desencontradas, ele foi procurar o escritor Franz Kafka acreditando que o autor era um comunista. Ele disse a Kafka que era responsável por buscar a "encomenda", acreditando que o autor já conhecia a missão secreta. Por sua vez, Kafka acreditou que Ratinho era o funcionário de uma revista literária que havia lhe encomendado um texto para ser publicado.
"Leopardos irrompem no templo e bebem até o fim o conteúdo dos vasos sacrificiais; isso se repete sempre; finalmente, torna-se previsível e é incorporado ao ritual".
O que significa esse texto? Esta era a pergunta que Ratinho não conseguia responder. Era alguma mensagem cifrada? Um texto oculto? Uma mensagem para despistar os inimigos? Ele tentou, de várias maneiras e sem sucesso, desvendar este enigma, até que, impaciente, foi procurar o próprio Kafka para desfazer o mistério, até que entende que tudo não passou de um grande engano.
Depois de se meter em outras encrencas na tentativa de cumprir a missão, ele volta para casa fracassado e descobre que o amigo morreu no mesmo dia de sua viagem para Praga. Pouco tempo depois, a família de Ratinho se refugia para o Brasil na época do golpe de 1964. O famigerado texto de Kafka vai junto. Ainda com ideais comunistas, ele procura viver uma vida mais tranquila, torna-se alfaiate, porém tempos depois um parente dele é preso acusado de comportamento subversivo. O delegado é um cliente dele. Ratinho faz um terno caprichado para presentear o delegado e pedir clemência. Ainda dá a ele o texto de Kafka, afirmando ser de um grande escritor, uma raridade.
O delegado se sensibiliza com o amigo, resolve liberar o rapaz, mas com o rosto meio danificado, afinal a sessão de tortura já havia começado. Ele ainda rasgou o texto de Kafka, pois acreditou ser uma mensagem subversiva: "É para sua própria segurança, Ratinho".