Andre.28 05/08/2020
A luta dos trabalhadores no capitalismo latino-americano
A formação social dos países latino-americanos é marcada pela interferência do sistema capitalista implementado por potências hegemônicas ao longo da História. Trazendo reflexões sobre as desigualdades sociais geradas pelo capitalismo em países latino-americanos, este livro é tece uma análise sócio-histórica de como países periféricos da América Latina sofrem com um sistema que atenua a pobreza e as diferenças de classe. Um sociedade composta por uma massa trabalhadora alheada de seus direitos.
Publicado pelo sociólogo brasileiro Florestan Fernandes em 1973, e reeditado em 2009 pela Global Editora, "Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina" é um livro que aborda a condição social da classe trabalhadora e os dilemas enfrentados diante do sistema capitalista que as explora.
A égide do capitalismo monopolista, como modelo contemporâneo, consolida-se na divisão internacional do trabalho onde mundo é repartido, através de uma silenciosa batalha desigual, um sistema de base internacional de mercado, capitalista, que favorece nações imperialistas que detém a primazia das inovações tecnológicas.
As "nações de ponta", de caráter abertamente imperialista, direcionam às nações dominadas dependentes e periféricas para um determinado modelo de desenvolvimento classista. É um ritmo e o tipo do desenvolvimento que lhes cabe para manutenção do imperialismo, favorencendo um monopólio de conhecimento e controle de ações para as nações hegemônicas, principalmente ao capital mercadológico da tecnologia de bens e produtos.
Esses monopólios definem o ritmo da produção e circulação de mercadorias. E o capital financeiro, controlado por uma oligarquia financeira, tem centralidade tanto na esfera da produção quanto da circulação. Também o papel do próprio Estado burguês passará por alterações significativas. Há um o aumento tanto de funções políticas quanto a perspectiva neoliberal do Estado para corresponder à nova fase imperialista do capital, assim como este também assumirá funções econômicas e ampliará sua intervenção nas relações sociais.
Tópicos como; padrões de dominação na América Latina, fases e formas da Dominação Externa, o Novo Imperialismo e a hegemonia dos Estados Unidos, o dilema latino-americano, o capitalismo dependente e sociedade de classes, classe, poder e revolução social, são abordadas pelo autor e dão um quadro político, histórico e sociológico da América Latina.
Os conceitos sociológicos da América Latina são estudados de forma mais aprofundada nos tópicos que se seguem: a sociologia da modernização, autonomia e revolução social; dogmatismo e a explicação sociológica; ciência e modernização autônoma. Florestan ressalta a necessidade dos países latino-americanos em investir em ciência e tecnologia, um programa que propicie o desenvolvimento autônomo da ciência e do avanço tecnológico em países periféricos da América.
Analisando o ambiente social e político da América Latina do final do século XX e início do século XXI, Florestan Fernandes tece um panorama, uma síntese do que se passa na América Latina, dependente, porém rebelde. Uma América Latina da classe trabalhadora, que sofreu diversas interferências em seu processo histórico, que foi destroçada, mas que insiste em não se curvar aos desígnios de forças imperialistas. O pensamento Florestan Fernandes é parte desta América Latina, que apresenta uma compreensão a partir dos referenciais sociais e políticos.
América Latina está inserida numa dinâmica estrutural na qual a dependência e superexploração colocam como possibilidade a não garantia do mínimo de proteção social à grande parte dos trabalhadores. Tem-se um quadro politico latino-americano de subordinação ao imperialismo e o domínio dos interesses burgueses nacionais.
Para a massa trabalhadora latino-americana, uma mudança real no quadro econômico e social tem como futuro ideia que passa por uma necessária mudança estrutural que rompa com os laços de dependência e da dominação imperialista. Nesse contexto imperialismo representa uma luta violenta pela sobrevivência e supremacia do capitalismo em si mesmo e constitui uma realidade autofágica e destrutiva para a América Latina. Para Florestan Fernandes a luta dos trabalhadores por outra sociabilidade não permite mais utopias evolucionistas ou ideais reformistas, mas sim da prática de uma realidade, da vida comum do povo e da massa trabalhadora. É da ideia de ruptura que se pode constituir um futuro. É libertando-se das amarras históricas de dominação que se pode efetivamente andar, ter-se uma ideia de progresso, de futuro.