Thiago275 03/10/2023
Tocante
"No dia seguinte ninguém morreu". Essa é a frase de abertura desse livro incrível publicado por José Saramago em 2005.
Na trama, a morte pára de matar. Não é que as pessoas saudáveis não morrem mais. Ninguém morre: nem os doentes terminais, nem as vítimas de acidentes de carro, nem os porventura cravejados de balas. Num primeiro momento, tal situação é recebida com festa. Mas em pouco tempo, todos percebem que isso é insustentável, pra não dizer insuportável.
A primeira metade do livro é bastante interessante, onde vemos as consequências da ausência da morte para o governo, a igreja, os hospitais, as funerárias. Porém, qualquer autor criativo poderia tratar disso. Estamos falando de Saramago, no entanto. E ele mostra a sua genialidade na segunda metade do livro.
A Morte "em pessoa" decide escrever uma carta para ser lida em rede nacional dizendo os motivos de sua greve. E ela diz que vai retomar seus trabalhos de um jeito diferente: todos receberão um aviso de sua morte, com uma semana de antecedência, para poderem ajustar suas coisas.
A partir daí acompanhamos a Morte no seu trabalho burocrático de começar a escrever as cartas para as pessoas. Só que uma das cartas insiste em voltar. E a Morte vai investigar quem é essa pessoa que está escapando do seu destino. As consequências dessa relação serão tocantes e surpreendentes.
Como muitas outras obras, esse livro fala da relação da humanidade com a morte. Mas somente este, somente Saramago, fala da relação da Morte com a humanidade. E aí está o toque totalmente original dessa obra imperdível, que nos faz pensar qual seria a nossa reação ao acordar e ver em todos os jornais a manchete: "No dia seguinte ninguém morreu".