Marcone.Procopio 21/06/2020
Uma antologia incrível que traz textos e discursos dos maiores líderes das revoluções africanas e nos mostra como o pensamento marxista pautou os processos de libertação. Tratando de temas como racismo, mentalidade colonial, opressão patriarcal, organização política... destaco aqui (entre dezenas de outras marcações que fiz), um trecho de Frantz Fanon, que não precisa de apresentações, de Amílcar Cabral (o texto que ele fala de Lênin é incrível), de Kwame Nkrumah (li e reli), Samora Machel (sobre militantes e a validação dos ritos de iniciação femininos) e Thomas Sankara. Deste último eu destaco um trecho de uma entrevista onde ele fala sobre os livros e sua ?biblioteca?. É fantástico você conhecer um pouco da vida privada de um dos maiores líderes revolucionários africanos que tinha como premissas para a total libertação de seu povo o empoderamento, a validação da voz e do pensamento feminino e da igualdade de força de luta das mulheres de Burkina Faso. Mas todos os demais textos dos demais líderes revolucionários presentes no livro são tão relevantes quanto os citados. A introdução do Jones Maciel é fundamental para contextualizar a leitura e para a compreensão (e anáslise crítica) do pensamento marxista nestas revoluções.
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Nicoline: Você tem uma biblioteca, eu suponho?
Sankara: Não, absolutamente não. Meus livros estão em cantinas. Uma biblioteca é perigosa, ela trai. Além disso, também não gosto de dizer o que li ou que deixei de ler. Eu nunca anoto nos livros ou destaco passagens. Porque é onde nós revelamos mais. Este pode ser um verdadeiro caderno íntimo.?
Thomas Sankara, Burkina Faso, em entrevista ao semanário Jeune Afrique em Paris, a Elizabeth Nicolini
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Um responsável que organiza o combate contra as tradições que oprimem a mulher e é o primeiro a aceitar que os filhos e filhas sejam submetidos aos ritos de iniciação, na realidade mobiliza as massas para continuarem mergulhadas nas tradições reacionárias.
Samora Machel, Moçambique
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Temos que provar que a grandeza não deve ser medida em estoques de bombas atômicas. Acredito forte e sinceramente que com a sabedoria e dignidade enraizadas, o respeito inato pelas vidas humanas, a humanidade intensa que é nossa herança, a raça africana, unida sob um governo federal, emergirá não apenas como outro bloco mundial a ostentar sua riqueza e força, mas como uma grande potência cuja grandeza é indestrutível porque não é construída sobre o medo, inveja e desconfiança, nem conquistada às custas dos outros, mas fundada na esperança, confiança, amizade e dirigida ao bem de toda a humanidade.?
Kwame Nkrumah, Gana
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Com base no que fica dito, podemos afirmar que a libertação nacional é o fenômeno que consiste em um conjunto socioeconômico negar a negação do seu processo histórico. Em outros termos, a libertação nacional dum povo é a reconquista da personalidade histórica desse povo, é o seu regresso à história, pela destruição da dominação imperialista a que esteve sujeito.
Amilcar Cabral, Guiné e Cabo Verde
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Dizemos mais uma vez que o racismo não é uma descoberta acidental. Não é um elemento escondido, dissimulado. Não se exigem esforços sobre-humanos para o pôr em evidência. O racismo nos encara de frente precisamente porque se insere num tom característico: o da exploração desavergonhada de um grupo de homens por outro que chegou a um estágio de desenvolvimento técnico superior. É por isso que, na maioria das vezes, a opressão militar e econômica precede, possibilita e legitima o racismo. O hábito de considerar o racismo como uma disposição do espírito, como uma falha psicológica, deve ser abandonado.
Frantz Fanon, FLN, Argélia