Dani do Book Galaxy 03/05/2021Às vezes, a gente só precisa de um clichezinho para dar risadas e um casalzinho pelo qual torcer!"Contato de emergência" é aquele livro leve e divertido que flui como água, para ser lido de uma (ou duas) tacada e pronto. Ele não traz nenhum tipo de reflexão profunda, nem irá dissecar suas personagens em um desenvolvimento intenso, mas foi justamente o que eu precisava para intercalar entre duas leituras mais densas. E é exatamente para isso que este livro foi concebido, afinal!
Entendo que a autora não quis se propor a entregar algo marcante, poderoso, profundo. Não - ela trouxe um romance leve, divertido, com personagens com quem conseguimos nos identificar e situações que nos deixam confortáveis, porque já vivemos coisas extremamente parecidas.
É muito difícil, em 2021 (ou mesmo em 2018, quando o livro foi publicado), imaginarmos jovens adultos entrando em algum relacionamento sem que haja uma intensa interação via aplicativos de mensagens. Ora, eu mesma, lá em 2015, quando conheci meu atual marido, conversei com ele apenas por mensagem por quase 3 meses antes de nos vermos pessoalmente pela primeira vez!
O contexto que a autora cria nesta história é muito próximo de nossa vida. Todos já tivemos aquela pessoa com quem nos comunicamos diariamente através de mensagens, de forma que elas ficam extremamente presentes e passam a habitar nossos smartphones - objetos que já deixaram de ser um simples telefone para se tornarem uma extensão nossa, quase um órgão de nosso corpo com o qual não podemos viver sem.
E é isso o que a autora explora aqui. Penny e Sam vivem um flerte praticamente todo no âmbito digital. Sentimentos e sensações são reduzidas a simples balões de diálogo em telas minúsculas, mas ao mesmo tempo, têm um peso extremamente grande na vida das personagens.
E por falar nas personagens, achei Penny e Sam bastante agradáveis de acompanhar. Mesmo a Penny sendo imatura e tendo uma personalidade difícil, ela consegue se fazer empática. Sam foi adorável desde o início, não apenas por ser bonitinho e tudo o mais, mas por ser aquele tipo de pessoa que parece que já conheço há anos.
Mesmo o ponto central do livro sendo este relacionamento água com açúcar entre Penny e Sam, a autora ofereceu um pouco mais para leitores mais sedentos. Temos o relacionamento de Penny com sua mãe, as mágoas que Penny guarda em relação a ela e o modo como a garota se relaciona com todos ao seu redor.
O que mais gostei sobre a vida de Penny é seu desejo de se tornar escritora. Sinto que a autora colocou um pouco de si nesses trechos, principalmente no que envolvia o processo de escrita de Penny e as aulas de escrita criativa que ela tinha na faculdade. Além disso, a autora nos ofereceu uma história dentro de outra, uma vez que acompanhamos Penny escrevendo seu texto como projeto final.
Também temos um pouco do pano de fundo da vida de Sam, que passou por um relacionamento tóxico com uma ex-namorada completamente surtada (aliás; achei ela tão delirante - no sentido ruim da palavra - que só posso acreditar que existem de fato pessoas assim. Tão centradas no próprio umbigo que vivem em uma realidade paralela e completamente descolada do que está ao seu redor). Além dos problemas com Lorraine, Sam enfrenta problemas financeiros e também tem um relacionamento complicado com a mãe, que é alcoólatra e viciada em compras.
Mesmo que todas essas facetas das personagens tenham sido exploradas de forma um pouco rasas, em que a autora apenas pincelou certos assuntos, achei que foi o suficiente para um livro curtinho de 300 páginas cujo tema principal era mesmo o romance.
"Contato de emergência" é um livro que se propõe a ser um romance leve, que traz um quentinho no coração mas, ao mesmo tempo, nos provoca sobre o quão dependentes somos desses pequenos aparelhos - nossos celulares - que acabam representando as pessoas que amamos.
Pensando no que o livro propõe e no que ele de fato entrega, só não dei 5 estrelinhas porque acho que a autora colocou um ou outro assunto ali (principalmente sobre o passado da Penny) claramente só para dar intensidade para a personagem. Ao mesmo tempo, o assunto só foi jogado e… nada mais, como se aquilo não interferisse no presente ou passado da garota. Acho que ela poderia ter cortado essa revelação sobre a Penny e focado mais no relacionamento com a mãe dela.
Outra coisa que poderia ter sido um pouco melhor desenvolvida foi o final, mesmo. Foi fofo, mas foi de repente, e meio…. Ué, mas já? Já que estamos no território dos clichês, acho que a autora poderia ter ido além e colocado algo bem sessão da tarde, mas só ficou meio simples e abrupto.
No geral, foi um livro que gostei muito, com uma capa fofa e que me relembrou meu próprio relacionamento com meu marido, lá no comecinho. É bem leiturinha de conforto!