Paulo 14/07/2020
A premissa do mangá Atelier of Witch Hat, contado sob o ponto de vista de uma estudante de magia, é bem simples, e a ideia de que existe um mundo em que a magia é algo natural e de quem não nasceu com poderes não pode vir a utilizá-la não é nenhuma novidade. Mas longe de ser só mais do mesmo, Atelier of Witch Hat é uma história singela e pura, que nos remete às grandes obras de Hayao Miyazaki pela riqueza de detalhes dos desenhos, a personalidade ingênua dos personagens e o universo mágico que nos é apresentado. E apesar da referência às obras dos estúdios Ghibli por si só provar que não é necessário a estrutura mais complexa do mundo para contar uma boa história, esta obra encanta pelo universo mágico que nos é apresentado, com suas criaturas mágicas, cidades encantadas, utensílios mágicos, classes, profissões, e um sistema de magia próprio, cheio de regras e limitações, essencial para compreendermos este universo. Nós leitores somos como a Coco, não entendemos nada desse mundo mágico, não sabemos quais as regras para lançar um feitiço bem feito, nem como são feitos os rituais mágicos ou como é a política dos bruxos. Descobrimos, aprendemos e estudamos junto da protagonista. E é isso que torna este mangá uma obra-prima: o prazer de saber mais sobre um mundo tão ricamente construído e aprender sobre como funciona esse sistema de magia tão complexo (trata-se de um “hard magic system”).
E apesar de a princípio a história parecer bobinha e super convencional, sem nada a oferecer (além do já citado prazer de aprender mais sobre esse universo mágico junto da protagonista), há um interessante mistério envolvendo um bruxo pertencente a uma Ordem misteriosa que por algum motivo vendeu um livro de magia para Coco quando ela era pequena e que aparentemente possui alguma ligação com o professor de Coco. Essa trama vai sendo construída aos poucos, sempre deixando mais perguntas do que respostas, e é o suficiente para motivar a leitura dos próximos volumes. Principalmente porque, apesar dessa premissa mais infanto-juvenil, este mangá é publicado numa revista seinen, voltada para o público adulto, o que indica que essa história pode ser mais sombria e complexa do que apontam os primeiros volumes.
Enfim, Atelier of Witch Hat é uma obra muito gostosa de ler, despretensiosa, com protagonistas carismáticos e um universo fascinante e muito criativo, recomendadíssima para os fãs de fantasia e de histórias de magia com aquela pegada singela dos filmes do Studio Ghibli e dos primeiros livros de Harry Potter, e principalmente para aqueles que gostam de universos mágicos ricamente construídos, com complexos sistemas mágicos, onde você aprende junto do protagonista. Mas fique ligado, que a trama principal envolvendo a Ordem dos Bruxos de chapéu com aba pode ser mais do que aparenta e Atelier of Witch Hat pode ser mais do que os olho vêem. Esse é apenas o primeiro volume, mas já apresenta logo de cara tudo o que a obra tem a oferecer.
PS: A arte é incrível e dispensa comentários. A mangaká coloca bastante detalhe nos seus desenhos, principalmente nos cenários, em um traço que beira o realismo. E é impossível não amar toda a criatividade por trás dos conceitos visuais das criaturas e utensílios mágicos deste mundo.