I. de Rohan @izabelderohan 21/10/2021
Suzanne Collins, uau. Que bom que temos essa autora escrevendo para jovens.
Considero esse livro bem mais adulto do que a série Jogos Vorazes, contando com imagens e analogias sobre controle, caos e sociedade que são mais sutis do que os livros anteriores.
Foi muito interessante ler o despertar de um psicopata e como os feitos dele foram sendo distorcidos para o que conhecíamos dele pela narração de Katniss. Snow mata e arma planos, nos faz entender que sempre foi assim, mas, lendo em sua visão, sabemos que não é bem assim. Aconteceram diversos acidentes que ele se aproveitou, até tomar uma atitude dominante sobre esses acidentes, se tornando o Coriolanus Snow que conhecemos em Jogos Vorazes.
Eu metade li e metade escutei esse livro. Li bem mais do que escutei. Gostei da narração, mas acho que o narrador pecou nas vozes dos personagens. Não percebemos a diferença entre a fala de um personagem e a voz do narrador de Collins. Temos que perceber pelo contexto, o que nem sempre funciona, acabamos achando que é um pensamento do personagem principal. Escutei a narração disponível no Scribd.
Gostaria que algumas coisas fossem diferentes. [SPOILER] Acho que, se no Distrito 13, Lucy Grey tivesse tomado uma persona diferente da que Snow se apaixonou, se ela se mostrasse, na verdade, uma aproveitadora seria bem mais interessante, mas poderia ser também mais breve. Acho que quando Lucy aparece no Distrito 13 o livro, que estava em uma vertiginosa crescente, fica mais lento e eu fiquei menos interessada, apesar de ficar muito surpresa com a punição de Snow. A virada final foi apressada, mas eu não gostaria que ela fosse de outra maneira. Gostei do final misterioso de Lucy. Se ela estiver viva, é surpreendente; se estiver morta, ela termina como a cantiga que deu seu nome, desaparecida. Os dois modos são interessantes. E, da forma que é contada, sentimos a adrenalina de Coriolanus. Parece uma correria, uma situação angustiante, suja.
Coriolanus, que é mais sua mãe do que seu pai, termina mais como seu pai. A guerra o ensinou que ele não poderia ser sensível. ("A água do lago tinha reduzido o pó com aroma de rosas da mãe dele a uma pasta nojenta e ele jogou tudo no lixo. (...) Só a bússola sobreviveu à aventura."). No passado de Panem, muito antes de Katniss, os Jogos Vorazes não eram o espetáculo que Katniss sobreviveu e nem chamava tanta atenção, o que faz os distritos não assistirem, porém, acho um erro Collins colocar as pessoas como oblívias aos Vitoriosos. É impressionante em qualquer realidade e contexto uma pessoa sobreviver uma guerra direta com outras 23 pessoas enquanto centenas assistem. Considero um erro os cidadãos do Distrito 12 fazerem pouco caso para Lucy Grey. Eles não a assistiram, mas eles sabiam que ela era uma sobrevivente.
Eu cheguei a prever que Coriolanus tomaria, de alguma forma, o lugar de Sejanus, mas essa forma foi a melhor possível. Esse personagem me lembrou em muitos momentos o Peeta.
Algo que eu não previ, e preferia que não tivesse acontecido, foi a entrada de Coriolanus na arena enquanto os Jogos aconteciam. Achei aquele momento bobo, os Jogos não possuíam o tamanho que Katniss presenciou, mas aquilo era exagero. Havia outras formas de Coriolanus passar pela situação de vida ou morte envolvendo os distritos que não precisasse ser dessa forma.[FIM DO SPOILER]
Não sabemos ainda se teremos uma continuação. Pode ser interessante ter e não ter. Sabemos que teremos um filme, mas tenho muitas dúvidas se será uma boa adaptação.
Indico bastante esse livro, mas não vá esperando um Jogos Vorazes, é um livro bem mais lento com mais contemplação e estudos sobre características humanas, com jogos bem mais primitivos (é, ainda mais!).