Betodepoa 01/03/2023
On the Road
Para curtir o livro, eu acho que é interessante saber um pouco do contexto social e intelectual da primeira metade do século XX nos EUA: os períodos de pós-guerra, a grande depressão econômica de 1929, as correntes literárias, etc. Foi neste cenário que a “Geração Beat” -cujo maior ícone é justamente “On The Road” – começou a ser forjada.
Entre o final dos anos 1930 e os meados dos anos 1950, mais ou menos, o grupo de William Burroughs, Allen Ginsberg e Jack Kerouac criou um movimento que pretendia abolir certos formalismos e “pudores” consagrados pela literatura americana da época – da qual Hemingway (The Sun Also Rises) era um dos expoentes. Os beats, embora compartilhassem com a "Geração Perdida" de Hemingway um claro descontentamento com a realidade em que viviam, desenvolveram um estilo mais transgressor e "americano pop".
Havia no movimento beat um senso crítico e libertário que procurava “oxigenar” o meio intelectual e literário da época através de novas vivências e experimentos literários além de certa dose de misticismo - tudo isso regado com muito álcool, sexo e drogas, ingredientes muito apreciados neste universo criativo e comportamental. O poema “Uivo” de Allen Ginsberg e o livro “On The Road” de Jack Kerouac tornaram-se símbolos desta geração que influenciou também, e fortemente, a geração seguinte, a dos hippies.
“On The Road” (L&PM, 2021) é escrito como um livro de memórias; é uma espécie de coleção de encontros, curtições, reflexões, planos e frustrações. O livro nos remete ao mundo dos boêmios amantes do jazz, dos hipsters, okies e outros tipos que perambulavam pelos dos Estados Unidos de costa a costa em busca de trabalho, curtição ou, simplesmente, de algo com o que se ocupar nas décadas de 1940 e 1950.
A história vai encadeando os eventos de uma forma que parece espontânea, como num diário e, apesar da narrativa não ser sempre linear, a leitura flui muito bem, seja nas resenhas sobre as peripécias e curtições de cada aventura, na descrição das paisagens avistadas da estrada ou nos relatos verborrágicos dos febris concertos de jazz nos recônditos muquifos de San Francisco. Além disto, o fato sabermos que é uma história vivida, com personagens reais nomeados por pseudônimos, torna tudo mais atraente.
A obra está dividida em cinco partes que cobrem quatro grandes jornadas e uma espécie de epílogo. As jornadas sempre começam na descolorida New York e têm como meta a ensolarada e vibrante Califórnia -exceto a última, rumo ao insólito e ancestral México. Denver no Colorado (torrão de Dean) é sempre uma parada obrigatória no meio do caminho, uma espécie de “pouso” onde todos se encontram.
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