Luís Araújo 08/09/2016Mark Haddon é um escritor britânico de livros infantis. O Estranho Caso do Cachorro Morto, que também foi publicado para o publico adulto, é um de seus trabalhos mais premiados.
O livro de 2003 é narrado por Christopher Boone um garoto de 15 anos que tem algum nível de autismo. A história começa com Christopher encontrando o cachorro de sua vizinha Sra. Shears, um grande poodle preto, morto com um garfo de jardinagem (bem ilustrado pela capa do livro). Após uma pequena confusão Christopher decide descobrir quem matou Wellington, o cachorro e incentivado por Siobhan, uma de suas professoras, escrever a historia em um livro, como uma história de mistério (Murder Mystery).
Apesar da proposta de Christopher ser de escrever um mistério, o mistério não dura muito e além de descobrir quem assassinou Wellington, o cachorro, segredos importantes vem a tona. Esses segredos, ou mentiras, causam muito aborrecimento a ele, o que é particularmente problemático por causa de sua condição. Por fim Christopher acaba sendo forçado a sair de sua zona de conforto e acaba com problemas maiores do que parece entender.
O que realmente faz do livro uma ótima leitura é o modo como Haddon consegue trazer o leitor a vida de Christopher. A narrativa segue pela maior parte do tempo uma linha de pensamentos linear e quase sempre ele descreve e/ou explica coisas que não necessitam dessa descrição/explicação.
Christopher pensa de maneira bem peculiar, ele vê realmente as coisas em vez de apenas olhar como a maioria das pessoas, então lugares com muitas coisas acontecendo ou lugares novos são coisas problemáticas e assustadoras. Ele também não entende porque a morte do cachorro é tida como uma coisa menor pelas pessoas com quem convive e apesar de se considerar uma pessoa lógica tem diversas dificuldades com coisas que não são.
No texto Christopher usa constantemente "E" pra conectar as idéias apresentadas, é bom com matemática e gosta de números primos, por isso os capítulos são numerados com eles. Ele também não se dá bem com figuras de linguagem e prefere apresentar desenhos das coisas que fala ao invés de descreve-las. Isso deixa o texto diferente de outras narrativas causando um estranhamento, do bom tipo como em Laranja Mecânica.
A trama também é poderosa, ela descreve as dificuldades que alguém que é diferente tem na vida, as dificuldades que as pessoas que se propõem a cuidar delas tem e como as pessoas conseguem ser muito egoístas.