Luíza | ig: @odisseiadelivros 07/02/2021@odisseiadelivros / Resenha: A casa de bonecas, de Henrik IbsenNão é difícil entender por que Nora se tornou um ícone feminista. Nem por que Henrik Ibsen escolheu uma mulher para representar a busca pela liberdade humana.
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O drama em três atos estreou em 1879 no Teatro Real de Copenhague. Da Dinamarca, ganhou o mundo. Foi apresentado em Paris, Bruxelas, Estados Unidos, Rússia... Mas, claro, não sem gerar um grande bafafá na sociedade.
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No século XIX, ser mulher não era uma tarefa fácil. E era uma tarefa. E, nas sociedades burguesas, que vivem de aparências, um papel. Desde quando morava com o pai, o papel desempenhado por Nora era a de uma boneca. Moldada para não ter opinião própria, sem conhecimentos muito aprofundados sobre a vida social e as relações humanas e servindo como enfeite na sala de estar, ao se casar com o advogado Torvald Helmer sua vida praticamente não muda.
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Com Torvald, Nora se torna esposa e mãe, mas continua servindo como enfeite de sala de estar e brinca com seus filhos como se agora eles fossem seus bonecos. Enquanto serve de boneca para seu marido. Deve ser sempre bonita, e gentil enquanto continua a ser tratada com infantilidade. O marido se dirige a ela com uma linguagem infantil, cheia de diminutivos, a qual Nora reforça com seu comportamento de criança.
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Sem a mínima noção do mundo em que vive, vivendo em algo que lhe parece um conto de fadas, Nora desconhece o fato de que não se pode falsificar assinaturas. Mesmo que ela ache que fez a coisa certa para ajudar na recuperação da saúde de seu marido, anos depois a conta chega e o usurário ameaça a sua aparente estabilidade familiar.
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É simbólico o único cenário na peça ser a sala de estar, um local que tem muito a ver com as aparências, o que se pode mostrar, mas que não é realidade de fato. No início, Nora tem uma visão totalmente distorcida da realidade, mas o desenrolar da situação faz com que ela tenha uma nova percepção da sociedade, dos que vivem ao seu redor, principalmente o seu marido, e dela mesma. E a saída que ela vê, a educação, é fundamental para a formação cultural do ser humano e, entrando na visão feminista, das mulheres. Infelizmente, não é um assunto datado.
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Eu só não gostei dos personagens secundários e seus péssimos desenvolvimentos. O desaparecimento do usurário tirado do fundo da cartola foi bem sem-noção. No mais, é uma peça rápida de ler, com um final super dramático que carrega o ponto da peça – o desmoronar do conto de fadas.
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