Resenhas - Giovanni

Nay__ 08/08/2021

A água sempre presente
Gostei muito do tempo da narrativa, no começo o vai e vem me confundiu, mas depois que David conhece Giovanni, tudo fica lento, os diálogos tão possíveis que vi acontecendo na minha frente (ele mergulha no mar?). . Estava achando o protagonista um boy lixo com daddy issues, que precisava muito de terapia pra se haver com suas questões e não impactar tanto a vida do outro, mas acho que foi porque esqueci que esse livro foi escrito e ambientado em um época muito mais repressiva, opressiva e hipócrita. A história podia ter acontecido ontem, infelizmente.

Bem fluido, cheio de expressões em francês e ousado.

Sugiro pular a introdução do Colm Tóibín, entrega tudo de um jeito mal feito, como um trabalho de faculdade sobre o livro escrito às pressas.

Os escritos finais de Hélio Menezes e Márcio Macedo são muito bons e fazem pensar no contexto histórico e pessoal do autor e do livro. Me fez pensar se o Baldwin se colocou no personagem Giovanni.

jonathanmelo 30/05/2022

Romance primoroso
David e Giovanni são dois errantes que partilham um fardo em comum: a procura por abrigo. Se por um lado Giovanni agia como se completamente liberto de amarras morais em consequência da dor de uma vida precária, David se eximia de confessar a si mesmo que o lar pelo qual ansiava decerto não estava nos EUA, tampouco em Paris, mas no peito de um outro homem.

"Ele me fez pensar na minha casa ? talvez a casa da gente não seja um lugar, e sim simplesmente uma condição irrevogável."

Abrigo que Giovanni estava disposto a ser, esperançoso de que o amor que sentia por David lhe redimisse de todo o sofrimento vivenciado desde a sua aldeia na Itália até ali; embora este, cínico e autocentrado, resistisse em retirar a máscara da própria vulnerabilidade, algo que Giovanni podia enxergar tão facilmente, embora soubesse que jamais voltaria a ser o mesmo de antes.

"Quase não consigo descrever aquele quarto. Ele passou a ser, de certo modo, todos os quartos em que eu já havia estado, e todos os quartos em que eu vier a estar daqui em diante vão me lembrar do quarto de Giovanni."

E é por colocar em palavras todas as nuances de um sentimento atropelado pelos impasses de uma sexualidade marginal, de como é viver à espreita de si, de seu próprio desejo, que o brilhantismo da narrativa se evidencia. Acompanhamos todas as movimentações que levam ambos da excitação à loucura, à insensibilidade e resignação com objetividade e precisão. Um romance primoroso e atual.

Nathan 04/09/2010

Giovanni
Estou estarrecido frente ao livro, nem sei o que dizer. GIOVANNI - realmente vem a se aproximar mais da realidade homossexual. Envolvendo um conflito entre o amor de um homem e de uma linda mulher. A morte dele me deixou perplexo. Acabei o livro e não tinha palavras para dizer. Mas a dúvida fez com que David perdesse a sua amada e o seu verdadeiro amor, Giovanni. Apresentando-se de maneira confusa, o diálogo entre os dois rapazes é cheio de metáforas e insinuações que muitas vezes não têm respostas. As vezes a libertação de Giovanni - de seu corpo imundo, como tratou muitas vezes no livro - venha estar com sua morte. Assim foi, mas o imaginar de David como seria esse triste acontecimento, vem de forma torduosa e sofredora. O recado da morte mesmo que rasgado, sempre voltará e deixará resquícios. O coração se tornará apertado e as palavras custarão a sair, a culpa da perda de uma vida. As vezes nem por isso, mas pelo simples fato de atender a convenções e não amar de verdade a quem merecia ou necessitava de atenção. Muitas vezes se confundindo com um amor, este idealizado e conformado pelo fato de que nunca será alcançado, mas a dor de uma vez causará mais sofrimento e dor. Há marcas que nunca passam, certamente o lamentar de David nunca passará. Difícil é sofrer por algo que não poderá adquirir para si, pois, a confusão de um momento se tornará a dificuldade do pós prazer.

Carol 12/03/2021

Me senti envolvida emocionalmente com os personagens e todas as descrições; comprendi muitas questões e sentimentos não notados antes; Mas, que leitura cansativa e sem muito cativo. Esperava mais!
Ps: a história se passa em Paris! Tudo vale a pena quando tem Paris.

Taissa 13/01/2021

Literatura queer
Um clássico da literatura LGTBQI+, foi a escolha do mês para o clube do livro do qual participo e também para o Desafio Literature-se 2021. Gostei muito do livro e da perspectiva utilizada pelo autor da luta do personagem David para se assumir e se aceitar como homossexual. Não me lembro de ter lido anteriormente um livro dessa temática e me senti tocada pelas angústias e incertezas desse grupo minoritário. Super indico!

Lize 11/08/2022

Arrasada!
Eu sabia desde quando comecei a leitura que esse livro iria me destruir. E aqui estou: destroçada, arrasada, só os cacos. Se forem ler, se preparem!

Joy 29/12/2022

Muito é retirado e um outro tanto é colocado em nós quando ainda somos muito jovens, entender e acolher tudo que aconteceu nos nosso primeiros anos parece ser um trabalho para o resto de nossas vidas.Como uma erva daninha no meio de uma plantação: é necessário tirar uma por uma pelas raízes, de outra forma tornarão a crescer usando os nutrientes das plantas que semeamos com tanta expectativa. No entanto, muitos são aqueles que não chegam sequer a ter uma brecha para enfrentar esta tarefa que de tão óbvia é custosa.
Por isso penso que esta história oferece um tipo de identificação universal. David é um desses obstinados que por não enfrentar essas questões tão fundamentais e íntimas tem a sua vida e os seus relacionamentos guiados pelos sentimentos de medo, culpa e vergonha. Cada um de seus passos é provocado pela vontade irracional da fuga. Até quando encontra um refúgio, o quarto de Giovanni e o próprio amante, pessoa e lugar que lhe ofereceram segurança para ser, a relutância em aceitar o que lhe foi oferecido é um reflexo da resistência de seu próprio ser.
Baldwin fez um trabalho muito interessante na construção das personagens, e o livro em si é carregado emocionalmente por esse narrador errante e vivo, que em meio aos seus conflitos internos se torna misterioso até para aqueles que o leem.

Claudio 19/03/2023

Uma revolução
Um livro escrito há quase 70 anos, abrindo espaço pra histórias LGBTQIA+, de forma muito honesta, com muita intensidade psicológica e personagens muito interessantes.
David, esse americano expatriado em Paris, conhece Giovanni, o dono do quarto do título, e se envolve profundamente, enquanto sua noiva está passando uma temporada na Espanha.
David enfrenta na sua cabeça todos os seus preconceitos e misoginias com as quais ele cresceu, as expectativas sociais de casar com uma mulher e fazer ?família?, se libertando mais profundamente apenas quando está dentro do Quarto.
Em paralelo aos conflitos psicológicos, a trama é envolvente com altas doses de dramaticidade.

Thiago 25/06/2021

Este livro é um monumento...
A passagem que encerra o capítulo dois da segunda parte: "Até o dia da minha morte haverá momentos assim, momentos que parecerão brotar do chão tal como as bruxas de Macbeth, em que o rosto dele surgirá diante de mim, aquele rosto com todas as mudanças por ele sofridas, momentos em que o timbre exato de sua voz e seus maneirismos de fala explodirão em meus ouvidos até quase perfurá-los, em que seu cheiro vai avassalar minhas narinas. Vez por outra, nos dias por vir — que Deus me conceda a graça de vivê-los — , no brilho áspero da manhã cinzenta, com um gosto ruim na boca, as pálpebras irritadas e vermelhas, o cabelo emaranhado e úmido após uma noite intranquila, encarando, com uma xícara de café e um cigarro, o rapaz impenetrável e insignificante da noite anterior, que em breve vai se levantar e desaparecer como fumaça, hei de ver Giovanni de novo, tal como ele estava naquela noite, tão vivo, tão encantador, com toda a luz daquele túnel escuro captada em torno de sua cabeça." Li, reli e releio isto sem parar. Que coisa magnífica!

djoni moraes 13/07/2020

Quem ocupa o quarto de Giovanni?
Comecei esta leitura numa noite, entre outras leituras que estava fazendo, e não pude parar até terminá-la. No entanto, mesmo que instigado, por dizer assim, não posso dizer que foi fácil. O relacionamento de David com as figuras masculinas (inclusive com ele mesmo) dentro da obra me fez lembrar de meu eu jovem (guardadas as proporções, é claro), tão perdido no mundo e desesperado para fugir de um segredo que me maculava. A história é trágica, assim como grande parte das histórias LGBTQ+ retratadas na literatura. Vale a pena conhecer o livro e a vida do autor!

Joao366 12/02/2023

Fugas e reencontros
Como é difícil viver em um mundo sem referências. Fico pensando como era se enxergar dentro de todos os aspectos da sexualidade em 1950, um mundo de LGBTs desorientados com suas questões internas que buscavam na fuga um meio para se manterem vivos. O livro mostra como os jogos de poder e interesses moldavam essas "tentativas" de relações saudáveis. Senti muita raiva em como David - o personagem principal - usou Giovanni ou sua namorada enquanto lhe serviam, mas não deixei de senti pena do mesmo também, e vem uma reflexão: Até que ponto usamos do outro para nos enxergarmos? Nos entendermos como LGBTs? Tentamos fugir de nós mesmos e isso só nos causa feridas mais profundas.

O livro é maravilhoso, leitura limpa, passagens poéticas na medida certa mas é cru, violento, e muito triste. Um ótimo livro para se adaptar ao cinema.

@leitoralbino 02/01/2022

O Quarto e o que fica.
Desejaria não ser tão turvo falar sobre este livro, que eu não sentisse tanto enquanto escrevo.

"'Alguém', disse Jacques, 'o seu pai ou o meu, devia ter nos dito que é muito raro alguém morrer de amor. Mas milhões já morreram, e morrem a cada hora ? e nos lugares mais estranhos! ? de falta de amor.'".

A cidade é Paris, durante a década de 1950. Há locais onde sentir o desejo é proibido por lei, e há lugares com esteriótipos, liberdade, quartos com aconchego e amor. Mas há mentes em que ser menos que um homem é um homem homossexual, e ser menos ainda que o padrão heterornatico é ser uma mulher.

David é um norte-americano que vai com sua noiva a París na busca de uma afirmação de diversas coisas, dentre elas a sua heterossexualidade, uma fuga de si. Mas é quando ele conhece Giovanni, um italiano que está tão longe de casa que já nem o desejo de viver se faz presente, em quê um chamado pela liberdade de sua sexualidade ascende ? porém o quarto de giovanni pode ser esse segredo, uma coisa sem nome, um coisa com muitos nomes, um amor ou uma prisão.

David é alguém que vive com tantas incertezas que não sabe quem é. Alguém que sequer sabe o que sente quando diz que o sente e menos ainda quando não o diz. É um narrador sem confiança, uma pessoa egoísta ao ponto de sequer se ter de forma livre.

"[...] É isso o que você devia fazer com o amor?"

James Baldwin conseguiu causar muitos sentimentos em mim, e boa parte deles gritaram durante o leitura e continuam ecoando ao fim dela. "O Quarto de Giovanni" é algo que perdura pra além das problemáticas postas de formas claras e nas entrelinhas do romance, como a ausência de personagens pretas mesmo o autor sendo um militante ávido do movimento negro.

É impossível pôr em palavras claras e dentro dos limites deste texto tudo que ficou após a leitura, mas talvez um grito ajude a pôr parte pra fora. Então aqui eu termino. E que ecoe.

"[...] E eu trabalhando o dia inteiro, pra fazer este quarto pra você."

Eliza.Beth 24/06/2021

Não funcionou...
Antes de qualquer coisa, David, você é um bosta. Um ser desprezível.
Ufaaa... agora vamos ao livro em si

Personagens ruins e com atitudes ruins não influenciam minha opiniões no quesito gostar ou não do livro. Um livro pode ser genial mesmo tendo personagens com péssimas atitudes.

Nesse livro em especial, não me conectei com os personagens e nem com a história. Achei a história massante em muitos momentos, demorei mais que o meu normal para ler um livro tão pequeno.

David é um cara extremamente egoista, confuso, zero responsabilidade emocional com os outros, interesseiro, mentiroso. Tudo que ele toca, ele destrói. Não é justo com os outros. Precisava primeiramente se resolver consigo mesmo e poupar um pouco aqueles que (talvez) se importavam com ele.

Giovanni tem lá tbm seus defeitos. Mas, comparado com David, achei ele um anjo hahaha

Gostei muito da Hella, talvez minhas partes preferidas tenham sido com ela.

A escrita do Baldwin tem seus momentos de ápice, mas no geral achei uma escrita normal.

De fato, não é meu tipo de leitura, mas qualquer leitura é válida.

Gabriela.Chaves 19/06/2021

Além da dificuldade de aceitação que David tem com a sua sexualidade, o que mais me tocou nesse livro foi as questões de papel de gênero que Hella vive.
Ela percebe que só será totalmente aceita socialmemte se estiver em um relacionamento comum. Aceita se submeter as aparências, para que possa só realizar os seus desejos íntimos. Porque, para ela naquele momento, o fato de ser sozinha é capaz de cancelar os atributos intelectuais.
Então, se submete a um relacionamento para dar veracidade a sua personalidade.

Giovanna 20/06/2021

Estranho
Não sei o que dizer sobre este livro. Sei que é confuso, perturbador, não gosto do David mas compreendo que nem tudo o que ele faz é na intenção de ser ruim ou magoar alguém? afinal, ele mesmo está confuso e muito machucado.

Aliás, Balwin escreve super bem e, em breve, pretendo ler as outras obras dele.

?O quarto de Giovanni não é exatamente sobre homossexualidade, é sobre o que acontece quando se tem medo de amar alguém, o que é muito mais interessante?. - James Baldwin