Do cavalo-marinho ao beija-flor

Do cavalo-marinho ao beija-flor Carlos Eduardo S. Nascimento




Resenhas - Do cavalo-marinho ao beija-flor


2 encontrados | exibindo 1 a 2


Manuela 29/12/2020

Padre Cadu, como carinhosamente é conhecido o autor, nos traz sua narrativa emotiva e empática sobre seu processo de tratamento da depressão. Padre, filósofo e pós graduado em psicologia clínica, o livro é permeado por referências a filmes, músicas e semblantes teóricos e teológicos que auxiliaram o autor a vivenciar esse processo, além de nos elucidar e desmistificar sobre transtornos psicológicos. Todo o processo é trazido sob o simbolismo de 2 animais: o cavalo marinho, belíssimo animal marinho que vive sob o julgo do medo e o beija-flor, ave leve e de características únicas. O livro leva o leitor a se identificar ou, ao menos, experienciar um pouquinho do que Padre Cadu sentiu durante esses momentos.
Um livro tocante, que me fez pensar sobre inúmeras coisas da vida, um dos livros que mais sinalizei e marquei até hoje. Termino o livro com a vontade de abraçar o autor e agradecê-lo por partilha tão linda.
comentários(0)comente



Miguel 07/08/2019

Depressão - uma problema possível de superação!

Por Lucieni S. Vieira

Gratidão. Essa palavra expressa, com bastante doçura, a possibilidade, que me foi concedida pela vida, de ser companhia, não só durante a construção desse escrito, mas também em grande parte das vivências nele apresentadas.

Agradeço também ao meu irmão Cadu, pela coragem de olhar e partilhar conosco um pouco desse processo experiencial, que revela uma travessia de estimada beleza e profundidade.

Descrever esse movimento do livro não é uma tarefa fácil, pois implica em sintetizar a grandeza de uma experiência que é única.

O autor percorre por um caminho ímpar, em que resolve olhar para as próprias experiências e, nesse olhar, ele percebe-as, não mais como um esbarrão, que acontece em qualquer esquina e nos faz continuar o caminho com indiferença, mas como alguém que deu atenção, deixou-se tocar e foi capaz de as esmiuçar, vendo, nos detalhes, as belezas mais extraordinárias.

Nesse encontrar-se com suas experiências e, mexido com elas, o autor resolve compartilhá-las através do seu livro Do Cavalo-marinho ao Beija-flor.

Mas o que vem a ser experiência? Tomando aqui por empréstimo o conceito de Giussani, o mesmo relata que experiência não significa exclusivamente “provar”, mas “é o juízo dado a respeito do que se prova”, ou seja: "a pessoa é, antes de tudo, consciência. Por isso o que caracteriza experiência não é tanto o fazer, o estabelecer relações com a realidade como fato mecânico; (...) o que caracteriza a experiência é compreender uma coisa, descobrir-lhe o sentido. A experiência implica, pois, a inteligência do sentido das coisas".

Reconhecer o sentido das coisas é colher, ou, ao menos, buscar uma resposta para algumas questões: o que isso tem a ver comigo? Ou ainda: onde isso me toca? Desse modo, estou entrando em contato com a realidade, colho sua provocação, implico-me nela. Dar um juízo sobre o vivido implica em utilizar, como critério, aquele conjunto de exigências e evidências, que compõem a própria estrutura originária, ou seja, qual é o anseio do coração? Felicidade, verdade, justiça, amor, dentre outras, que constituem o motor humano: "nós somos feitos para a verdade, entendendo por verdade a correspondência entre consciência e realidade, que vimos ser a natureza do dinamismo racional. Vale repetir que o verdadeiro problema, no que concerne à busca da verdade sobre os significados últimos da vida, não é o de uma certa inteligência que se faça necessária, ou de um esforço especial, ou de meios excepcionais para alcançá-la. A verdade última é como encontrar uma linda coisa no nosso próprio caminho: só a vemos e reconhecemos se estivermos atentos. O problema, portanto, é essa atenção".

A atenção com aquilo que emerge, é imprescindível, pois a realidade, que se apresenta, traz consigo um convite: que olhemos para tudo e isso inclui que olhemos a dor e, com um movimento, que nos é único, comecemos a buscar outra realidade. Como considera Giussani: “O real me solicita, eu dizia, a buscar alguma outra coisa, além daquela que imediatamente me aparece”.

O interessante é que o caminho percorrido pelo autor é justamente esse, que olha algo e, ao entrar em contato com esse algo, colhe um sentido, que o remete a uma outra realidade. Aí está a travessia Do Cavalo-marinho ao Beija-flor descrita tão brilhantemente. Quando você pára e faz uma certa experiência, olha-a e a acolhe com profundidade e com atenção. Isso gera um movimento, no entanto, somente se estivermos atentos é que a provocação da realidade pode ser vivida com um posicionamento de abertura.

Tomemos como exemplo a experiência de limite. No dicionário limite significa fronteira: linha que, real ou imaginária, delimita e separa um território de outro. O limite só é limite porque delineia, indica que chegamos não ao fim, mas ao ponto em que a etapa seguinte será uma nova possibilidade.

Nesse sentido, a travessia dos medos do cavalo-marinho aos lindos voos do beija-flor expressa que a depressão não é o fim, é apenas a vivencia de uma vírgula, pausa necessária à retomada do olhar. É possível, portanto, ressignificar não só a dor, mas colher dela uma mensagem. O que nos diz a dor? Qual o ponto que ela nos faz valorizar? O importante é olhar para dor sabendo que ela não nos define; ela nos comunica.

A vivência da depressão pode apresentar os caminhos mais variados possíveis. É possível verificar, nessa vivência, a presença de um arquétipo egóico em que o ser volta completamente, ou em grande parte, a si mesmo. Ele se recolhe na própria dor, no próprio problema, na própria impaciência e no próprio mundo. Nesse recolhimento, a vivencia da alteridade fica obscura, produzindo um certo distanciamento e, em muitos casos, um possível isolamento.

Nessa travessia, o livro perpassa não só por um caminho de dor, de solidão, de sofrimentos psíquicos, mas também de autoconhecimento, de profundidade da alma, de busca a si mesmo, de amor à própria verdade, de abertura ao outro, de compaixão e de encontros.

Sendo o Cadu, fundador de um Movimento, cujo eixo fundamental é a fraternidade, edificada sob o pilar da amizade, fica evidente que o ponto central na virada do Cavalo-marinho para o Beija-flor é o relacionamento. Nesse sentido, o resgate nasce da necessidade de se relacionar, de ser um com o outro.

Por ser a escuta um dos caminhos de maior proximidade com a alma humana, o autor vale-se dela ao percorrer o labirinto existencial: escuta a si mesmo e escuta a dor onde ela mais lhe ferira.

Escutando-se, o autor se relaciona consigo mesmo e, percebendo-se, acolhe o sentido de toda uma simbologia em seu entorno. Percebe, então, essa necessidade realizadora de seu ser e possibilita a abertura a novas experiências colocando-se novamente e, aos poucos, em estado de alteridade.

A escuta nasce da atenção. Não se pode ter atenção quando se está distraído. O próprio Cadu diz no livro que o nosso verdadeiro inimigo é o conformismo e a estagnação. Portanto, por mais que todas as forças nos esgotem, ainda assim, lá dentro existe uma voz a dizer que anseia algo diferente. É preciso ouvi-la, porque, desse modo, estaremos dando atenção àquilo que é essencial em nós.

É preciso ouvir o desejo interior, é preciso não paralisarmos o sonho! É preciso mirar o céu, pois, dessa forma, olha- remos para aquilo que está além, no horizonte maior, além do que os pés podem alcançar, mas, ao mesmo tempo, acessível ao olhar, olhar do coração, desejo da alma, um amor àquilo que em nós queremos crer e podemos esperar.

Ter um olhar atento à experiência, convida-nos a adotarmos uma postura ou um desejo de querer acreditar que algo novo é possível.

Como o autor mesmo diz: “a fé encontra outro sentido na experiência de dor e de sofrimento”. O sofrer não pode ser extinto, mas nós podemos decidir olhá-lo com outro olhar.

Caro leitor, esse escrito é um convite a todos nós a fim de que olhemos, com atenção, a própria experiência e colhamos, como o beija-flor, o ponto mais essencial dela.

Essa experiência pode ser comparada com a de uma criança que está aprendendo a andar: ela cai, levanta-se, cai de novo, machuca-se, chora, mas sabe que o seu caminhar carrega, dentro de si, um alcance enorme de possibilidades, de coisas que não se sabe onde o caminhar leva, mas a simples espera do novo faz brotar dentro dela um desejo de continuar.

A travessia, descrita nesse livro, faz-me recordar a metáfora da ostra: a ostra sofre a dor de cada impureza. Ela é capaz de envolver o corpo que lhe penetra, que lhe é alheio e, como não consegue expulsá-lo, ela o envolve camada a camada, como se fosse preciso se recontorcer toda por dentro para que ela consiga lidar com o incômodo, ou espécie de sofrimento, que aquilo lhe provoca e adaptando-se, é capaz de produzir no final uma belíssima e rara pérola.

Que esse livro possa levar você, caro leitor, a entender que é possível um caminho de vida em plenitude com tudo o que temos e esse tudo não exclui o que sentimos ou vivemos. Somos inteiros e completos em todas as nossas dimensões.

O percurso final, proposto pelo Cadu, não é de um encontro com a felicidade, mas de um encontro real com o nosso próprio ser e esse encontro é de uma abertura infinita para o todo e para a própria vida.

É por isso, caríssimo leitor, que eu espero que esse profundo escrito possa ser como uma ponte, conectando a cada um de nós, não com algo externo e alheio, mas conectando a cada um de nós com o melhor de nós, deixando emergir esse amor a tudo, amor à vida que é tudo, que é real, que nos provoca, que nos movimenta, que nos rasga mas também nos alegra e traz serenidade, pois amar à vida e a tudo que ela dá é como admirar a rosa em tudo que ela é, em todas as suas fases, de pequena à viçosa e também com os espinhos.


site: https://www.editoramikelis.com/produto/do-cavalo-marinho-ao-beija-flor/
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR