Chama e cinzas

Chama e cinzas Carolina Nabuco




Resenhas - Chama e cinzas


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Tuca 25/06/2020

Ao iniciar Chama e cinzas me deu uma dor no coração que Carolina Nabuco só houvesse nos deixado dois romances, pois sua escrita objetiva, simples e gostosa foi uma ótima surpresa para mim. É como entrar em uma novela de época e se perder no meio da vida das quatro filhas de Álvaro Galhardo, em especial, na de Nica (não é à toa que ambos os seus romances foram adaptados pela Globo como novelas. “Chama e cinzas” inspirou “Bambolê” transmitida entre 1987 e 1988, em que Nica foi interpretada por Myrian Rios, e “A sucessora” ganhou adaptação com o mesmo nome entre 1978 e 1979).Ganhadora do prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo conjunto de sua obra, Carolina Nabuco era filha do diplomata, deputado federal, abolucionista e um dos cofundadores da ABL, Joaquim Nabuco, e seu primeiro trabalho como escritora foi a biografia do pai.

Em Chama e cinzas, ela escancara uma noção de propriedade patriarcal bastante comum ao período (o romance foi escrito em 1947) em sua divisão em duas partes que destaca a mudança de custódia de Nica da casa de seu pai para a de seu marido. Nela é possível acompanhar a formação da menina de jovem apaixonada para uma mulher independente e mais forte, mesmo com todas as dores que são colocadas em seu caminho. Após uma grande decepção amorosa, Nica decide que se casar por amor não era algo destinado a ela, e assim resolve escolher um marido racionalmente, na medida em que se é possível agir de tal forma quando se está ferida.

O nome Chama e cinzas remete a uma noção de opostos, o que não é arbitrário. Realmente é um enredo de contrastes óbvios, principalmente nos núcleos relacionados a Nica e a sua irmã, Iolanda. Enquanto a primeira nunca teve uma beleza chamativa, sendo mais conhecida por sua personalidade, a última era a mais bonita entre as meninas Galhardo. Seus maridos eram completamente antagonistas. Um mais velho, burguês rico, que carinhosamente cuida de todas as necessidade de Nica e lhe possibilita totais liberdades e acima de tudo, leal aos Galhardo. O outro, jovem, bonito, anticapitalista, machista e desonesto, colocando seus interesses pessoais acima da família apenas com interesse de se envaidecer. A meu ver as distâncias das características das duas irmãs, principalmente na antítese esposa submissa (Iolanda) versus a emancipada (Nica) deixava claro o que a pesquisadora Lúcia Ozana Zolin comenta acerca desse livro sobre seu caráter transicional entre a fase feminina e feminista dentro do caminho da literatura feminina brasileira. Iolanda replica padrões, Nica os subverte, porém com certos privilégios e limites de sua classe social.

Longe de ser um romance romântico a meu ver, a construção de quem Nica torna-se é chama e cinzas. Da faísca de uma menina impulsiva e apaixonada, ao despojos da dor e da perda, da destruição do seu mundo. Mas como toda mulher é assim forjada na força de suas cinzas, Nica na iminência renascer em seu final de contrastes, talvez estivesse encontrando o seu início.


site: IG: https://www.instagram.com/tracinhadelivros/
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