Fernanda631 05/07/2023
À Espera de um Milagre
À Espera de um Milagre foi escrito por Stephen King e publicado em 29 de agosto de 1996.
“À Espera de um Milagre” traz a história do condenado John Coffrey e sua relação com o guarda penitenciário Paul Edgecombe. Edgecombe já viu muitas coisas bizarras durante a carreira, mas John Coffrey é uma das figuras mais estranhas que já conheceu. Acusado de estuprar e matar brutalmente duas garotas, seria o homem a encarnação do mal? Ou algo completamente diferente? O guarda está prestes a descobrir verdades terríveis e assombrosas que desafiam todas as suas crenças.
À Espera de um Milagre nos leva a Penitenciária Cold Moutain, um lugar assolado por assassinos e estupradores que aguardam a sua caminhada final pelo Corredor Verde (corredor da morte) até à cadeira elétrica, ou como ela é conhecida, a Fagulha. É nesse local em que eles refletem sobre os erros que cometeram e se preparam para encarar o ponto final que eles escolheram. Mas, e se por acaso, algum deles está ali de maneira injusta, como por exemplo, pelo fato de estar no lugar errado na hora errada, ou de ser negro em 1930, época em que os Estados Unidos viviam um momento de desespero e de muito racismo.
Originalmente, 'À Espera de Um Milagre' foi dividido em seis partes lançadas uma em cada mês. Stephen King quando criança, consumia este tipo de literatura e queria testar se este formato ainda era viável para época, além disto, o autor justificou a escolha declarando que, deste modo, não seria possível bisbilhotar o final da obra e com isso aumentaria o suspense da trama.
A história começa com o ex-guarda penitenciário, Paul Edgecombe escrevendo suas memórias da época que as coisas começaram a ficar bizarras na penitenciária. O responsável por esses eventos é John Coffey, um negro com 2 metros de altura, muito musculoso e cheio de cicatrizes, que está ali acusado de estuprar e assassinar duas jovens irmãs. Como esse monstro foi capaz de tamanha crueldade? Acredito, e assim espero, que você ao ler qualquer notícia sobre um assunto desses, fique revoltado. Paul com o tempo acaba percebendo que esse mesmo homem, um ser humano ingênuo, com alguns medos infantis como o medo do escuro, e que possui um dom especial, o que faria? Não sei qual a sua resposta, mas a de Edgecombe foi ir a fundo no caso e perceber que haviam coisas erradas nele.
A história é narrada em primeira pessoa por Paul Edgecombe, um idoso que vive em um asilo. Paul escreve suas memórias e experiências como chefe dos guardas no corredor da morte da penitenciária de Cold Mountain. Edgecombe se debate em um conflito moral entre o cumprimento de seu dever e a consciência de que um dos prisioneiros poderia ser inocente no crime pelo qual foi condenado.
King intercala a história entre o passado, na prisão e o presente no asilo em que o velho Paul se encontra. Paul Edgecombe, nem sempre segue uma linearidade ou a ordem cronológica dos acontecimentos. É frequente que Paul fale sobre fatos que aconteceram antes da chegada do prisioneiro Coffey ao Corredor e que logo em seguida acrescente informações sobre o que ocorreu após sua passagem por lá. A escolha narrativa não atrapalha o desenvolvimento da história e nem a deixa confusa.
A escrita do autor é tão fascinante, que nesse livro existiram momentos que eu fiquei até com pena da situação de alguns prisioneiros. O personagem Paul entrega algumas situações antes mesmo delas acontecerem, mas isso não estraga a experiência da leitura, pelo contrário, a forma como Stephen King desenvolve todos os assuntos e situações, deixa a obra muito envolvente.
Eu não considero 'À Espera de um Milagre' um livro de terror, ainda assim esperava que houvesse algo gênero presente na trama. Isto acabou não acontecendo, mas não me decepcionei com a obra. Para quem conhece Stephen King pelas obras mais voltadas para o terror, se surpreenderá ao ver ele entregando algo tão dramático. Eu achei o livro longo, porém não cansativo. A escrita é fluída, a narrativa interessante e os personagens cativantes que prendem a sua atenção.
Paul Edgecombe é um personagem paciente e bondoso, que faz o possível para que os seus colegas de trabalho não maltratem os condenados à morte. Em contrapartida, temos o Percy Wetmore, servindo como uma espécie de antagonista. Ele é aquele tipo de vilão que todo mundo detesta: mesquinho, ignorante, e sempre tentando se dar bem. Outros personagens também são ótimos, como Brutus Howell, melhor amigo de Paul, e o ratinho domesticado, Sr. Guizos.
A obra é composta por personagens carismáticos e muito marcantes. Em “À Espera de um Milagre” o autor trouxe em particular mais sensibilidade em seus personagens ao descrevê-los com um lado emocional e psicológico melhor explorado, se compararmos com outras obras dele. Porém isso é feito sem diminuir o suspense e até mesmo a brutalidade de algumas situações.
A obra de King também traz temas desconfortáveis, como nepotismo, doenças terminais, a vida em um asilo, o dilema moral dos agentes penitenciários e tudo isso dentro do cenário da Grande Depressão como pano de fundo da história. Para coroar a crítica ao sistema, o racismo estrutural norte-americano é abordado de forma magistral, tanto no livro quanto no filme.
John Coffey é negro e o principal hóspede do corredor da morte. Corpulento e iletrado, foi o único apontado como perpetrador dos crimes acusados. Mesmo sem precedentes, jurando ser inocente, Coffey é sentenciado à morte. Durante a leitura sabemos que ele é inocente, mas mesmo assim, ele termina sua vida no Corredor, porque ele é negro.
A leitura de 'À Espera de um Milagre' traz um certo desconforto proposital, é emocionante, intrigante e alguns momentos e até divertida. Os seus personagens cativantes compõem essa trama trazendo tristeza, angústia e dor. A obra é um livro que não deixa dúvidas da maestria autoral de Stephen King.