Carol 10/10/2022Impressões da CarolLivro: Um inimigo do povo {1882}
Autor: Henrik Ibsen {Noruega, 1828-1906}
Tradução: Leonardo Pinto Silva
Editora: Carambaia
128p.
Entre os dramaturgos mais encenados nos palcos mundo afora, o norueguês Henrik Ibsen só fica atrás de Shakespeare. Há uns anos, assisti a sua peça mais famosa, "Casa de Bonecas", no Teatro Cândido Mendes, aqui no Rio, porém só agora tive a oportunidade de ler um texto dele. E que texto!
"Um inimigo do povo" é assombradamente atual. Na peça, escrita há 140 anos, Dr. Stockmann, médico de uma cidadezinha no interior da Noruega, famosa por seu balneário medicinal (pense nas mineiras Caxambu e São Lourenço), descobre que as águas estão contaminadas por esgotos.
Com a evidência científica em mãos, ele solicita a seu irmão, Intendente da Polícia e presidente do Conselho de Administração do Balneário, que dê o alerta à população.
"Dr. Stockmann: Aquela fonte de água é um veneno, homem! Você está louco? Estamos vivendo imersos em imundície e podridão! Toda a nossa sociedade próspera se apoiando numa mentira!
Intendente: Suposições...Ou talvez coisa ainda pior. Um homem capaz de tecer insinuações tão perniciosas contra sua terra natal só pode ser um inimigo da sociedade." p. 48
Desacreditado por seu irmão, ele vê a imprensa local censurar seus artigos nos jornais. Na versão reaçonária, o verdadeiro inimigo do povo é o médico! Por acaso ele não sabe que as reformas necessárias à superação do problema levariam ao fechamento do balneário por 2 anos? Trariam desemprego, arruinariam os cofres públicos, faria o prefeito perder a eleição, e, ele próprio, o emprego?
Apesar de estar ao lado da verdade e da ciência, Dr. Stockman foi ingênuo ao não entender o jogo de poder e de interesses que o cercavam.
"Um inimigo do povo", de Hernik Ibsen, faz o elogio à ciência, ao livre pensamento e à defesa de causas justas, ainda que essa defesa vá de encontro ao que pensa a maioria do povo, muitas vezes manipulado pelos donos do poder, do dinheiro e da mídia.
Dr. Stockmann e o leitor descobrem, no apagar das luzes ou no fim do livro, que "o homem mais forte do mundo também é o que mais está sozinho." p. 127