@luisa 29/03/2024
A humanidade por trás de todas as distopias.
Sistematicamente, sob meu achismo não estudioso, as distopias representam uma realidade que se baseia na realidade que é conhecida, porque não há outra com a qual se possa comparar, seja nos limites sociais atuais, históricos, ou de previsões futuras.
George Orwell não só critica, como expõe e se adequa ao próprio personagem.
Minha primeira experiência, com A revolução dos bichos, foi a pior, eu detestei o livro e achei que a escrita do autor não valia tudo o que era dito. Mas, como qualquer outra prepotência, eu dei de cara com a realidade. A escrita é o fundamento de toda história, e o Orwell detém a escrita, distópica - talvez mais um erro de achismo, me inspiro em minha própria opinião, ele não só foi capaz de trazer um personagem que honre a estória (quase história), como foi capaz de entregar ?A? estória (quase história).
Em um mundo completamente semelhante a qualquer realidade independente do tempo, Winston, distante de si mesmo, se depara com a incompreensão de uma compreensão, que não existe, porque até para entender, não se deve tentar entender, e se deve aceitar isso, tudo se baseia no duplipensar. E apesar de todos os ramos linguísticos, sociais e morais presentes na obra, o livro representa o pensamento de uma forma não vista, a sobrevivência se baseia na aceitação do pensamento de não pensar.
Para não prolongar, trato:
1 - Guerra: é realmente uma guerra? Ou a fantasia de uma guerra? Ou até a fantasia se torna a guerra? Até mesmo ela busca a paz, embora seja prático (para o partido) dizer que uma leva a outra.
2 - Sociedade: sabemos que a ignorância é força, porque não tem como combater algo que não se entende, então não é preciso força, e por isso se tem força, talvez faça sentido, talvez não, não importa. Duplipensar, meus caros.
3 - Camaradas - o que foi isso? Eu não sei dizer, explicar, opinar, me fundamentar para raciocinar sobre isso, eu só aceito.
4 - Língua: normal que se tenha criado outra, apesar de toda língua sempre crescer, e tudo se diminuir, a opinião no apêndice , creio que foi muito certeira, ?quanto menor a gama de escolhas, menor a tentação de refletir?.
5 - Moralidade: de todos os pontos na obra, a moralidade foi uma questão muito grande, porque, como inimigo, a ?t0rtura? se torna correta, no livro, mas quando acontece conosco(o partido) está errado? Somos todos inimigos? E partindo até do duplipensar, e de uma construção social recente, que amor é esse pelo ?Grande irmão?? Baseado na imensa tortura? Na privação? Surge aqui o maior pensamento sobre a moralidade, juntando todos os pontos e por fim o pensamento, eu aceito o incorreto e deixo que isso me leve, e é de fato, isso que leva toda a sociedade e o poder presente no livro.
Para terminar, fica a reflexão, isso vai realmente acontecer (se é que já não acontece minimamente, mas de forma ainda mais óbvia) mesmo os leitores de 1984, sob a escrita de Orwell, serem os leitores de 1984?
Obs: as ilustrações de Rafael Coutinho foram muito importantes e muito representativas do sentimento do personagem e que a estória passava (principalmente nas partes do Ministério do Amor).