Mandhz 07/11/2021
Confie e leia
Vamos encarar um fato: não é possível fugir do Darkling. Acredite em mim.
Sim, Alina e Maly tentaram. E fracassaram tragicamente. Não foram nem cinquenta páginas do livro e o vilão já havia encontrado os dois e, não apenas isso, os esperava no quarto da decrépita pensão em que se hospedavam. Não que Alina estivesse completamente satisfeita com a vida que estava levando ? escondendo a si mesma e a seus poderes, a protagonista definhava a cada dia ?, mas pelo menos ela tinha Maly.
Por enquanto.
Então o casal foi capturado, Darkling agora possuía um poder ainda pior e Alina... bem, Alina seguia nutrindo a raiva e a força dentro de si. Mas o que ela poderia fazer? Sozinha, completamente sem aliados, com Maly sendo ameaçado e o Darkling ainda mais poderoso, se eu fosse a Alina só ia sentar e chorar. Porém graças a Deus que não sou!
O Darkling a acorrentara num navio ? do maior pirata, ops, corsário que aquelas terras já viram ? e, ao invés de levá-la de volta para os Alta, ele tem mais uma brilhante ideia de ir atrás do segundo amplificador de Morozova. O cara era burro ou ambicioso? Essa pergunta eu deixo pra você, leitor. Quero dizer, obviamente a primeira vez não havia dado certo e o homem vai lá e ?ai, acho que vou atrás de uma serpente do mar gigante que ninguém sabe se existe.? Mas como o completamente incapaz Darkling costuma já fazer, usa Maly para caçar o Açoite do Mar.
E sabe qual o problema do Darkling? Ele é muito prepotente e supõe que o medo e o temor a ele supere tudo. Esse é o problema do medo ? ele é facilmente sobrepujado pela fé. Com as reviravoltas emocionantes que acontecem a partir daí ? e você, leitor, terá que abrir esta história para saber (e vai adorar!) ?, Alina realmente retorna para os Alta, porém desta vez não como prisioneira. Nossa protagonista encontra um aliado poderoso e, ao longo da trama, terá que lidar não apenas com inimigos reais, mas também com os próprios pesadelos e ambição.
Será que ela seria tão melhor que o Darkling?
Esta é uma pergunta, caro leitor, que irritou muitos daqueles que se aventuraram por essas páginas. Sejamos sinceros, Alina não é uma protagonista simpática, ok? Porém você o seria se tivesse perdido seus pais logo na primeira infância, não tivesse qualquer perspectiva de futuro além de ingressar no exército de um país constantemente em guerra e depois se vê como protagonista dessa guerra e alvo principal do maior vilão e do cara mais poderoso que qualquer terra já viu? Não, né? Tem coisa com a qual não dá para fazer piada. Então em boa parte desse enredo, nossa protagonista confronta a si mesma, redescobrindo-se e testando suas habilidades para confiar e perdoar.
Vejo várias críticas negativas sobre este livro, por isso logo aviso: ele é muito bom! É preciso analisar todas as suas nuances, não se apegando a uma qualidade ou defeito de um personagem. Pense assim: todos nós somos construídos a partir das nossas experiências, sejam elas boas ou ruins. Um personagem rico ? o que enriquece também uma narrativa ? não é necessariamente bom ou ruim, mas possui os dois lados da moeda. E é assim que a maioria dos personagens são retratados no Grishaverso.
Particularmente, essa é uma característica genial que poucos escritores conseguem conceber. É mais fácil ? ou mais bem aceito, a depender do público ? escrever um herói altruísta que sempre faz as escolhas certas. Porém descrever um herói que faz muitas merdas? Cujos planos nunca saberemos se darão certo ou errado? É corajoso e realista. É o que se espera de um mundo em guerra: perdas, decisões ruins, reviravoltas inesperadas. Então, sim, eu amei a escrita de Leigh Bardugo e estou ansiosa para ler Six of Crows ? já ciente de que, óbvio, será melhor, porque escritores evoluem com a prática.
Na continuação de Sombras e Ossos, vemos o crescimento de muitos personagens. Observamos, claro que sob a perspectiva de Alina, o desenvolvimento de vínculos e confiança, inclusive de pessoas que você jamais imaginaria. O leitor passa de amor a ódio em questão de algumas páginas, de forma muito bem guiada.
Sobre o romance entre Maly e Alina, devo destacar mais uma vez: este não é um livro de amor. É um livro sobre guerra, sobre dever e sobre escolhas. Há um bom desenvolvimento deles enquanto casal ? confie em mim, tudo aquilo é estritamente necessário para o que vem a seguir.
Portanto, sim, eu recomendo muito esse livro. A autora não deixa pontas soltas, a história é guiada de forma fluida e fácil e o leitor se empolga em ler.
Leiam, sério! E prestem atenção aos detalhes. Analisem os personagens. Todos eles são profundos e peças chave na história.