O homem sem talento

O homem sem talento Yoshiharu Tsuge




Resenhas - O homem sem talento


56 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4


Rafael Mussolini 26/04/2024

O homem sem talento
"O homem sem talento" do Yoshiharu Tsuge (Editora Veneta, 2019) originalmente publicado no Japão em 1985, é um mangá clássico japonês ricamente ilustrado por seu esmero pelo traço simples (que diz muito sobre a história). O mangá nos apresenta a uma narrativa quase filosófica, devido às inúmeras maneiras com que discute as nuances da existência. O protagonista escolhe caminhos que o levam a um fracasso quase programado e que o colocam à margem da sociedade. O tema forte do mangá é esse fracasso pungente, que nos incomoda enquanto leitores, mas que também é o mesmo sentimento que nos faz seguir adiante com a leitura. Yoshigaru Tsuge consegue tratar do tema com uma beleza e lirismo que nos convida a olhar para a miséria por um olhar clandestino, pois existe uma intencionalidade do personagem em se aproximar da miséria e do fracasso que simplesmente não compreendemos.

A história se ancora em um gênero de mangá conhecido como “Watakushi”, que seria algo como “quadrinho do eu”. É uma nomenclatura dada aos mangás que possuem um traço autobiográfico. Ainda que não seja totalmente inspirado na vida do próprio autor, em muitos pontos, a história de Yoshiharu Tsuge serviu de inspiração para alguns acontecimentos e características do personagem principal.

O protagonista da história, chamado Sukezo Sukegawa, abandona a carreira de mangaká (termo usado para definir uma pessoa que faz, desenha ou cria histórias para mangás), aparentemente por não querer se submeter a certas normas e regras que precisaria obedecer para conseguir publicar. Ele então vai para um caminho pouco usual e que gera o espanto de todos a sua volta: a venda de pedras. Sukegawa passa a coletar pedras na beira de um rio próximo à sua cidade para vender em uma banca, que é claro, não é frequentada por ninguém. Para Sukezo, aquelas pedras tem um valor inestimável, enquanto para os demais populares não passam de algo que pode ser adquirido de graça por qualquer um.

Essa premissa abre possibilidades para diversas interpretações. Literariamente, a figura de um homem que coleta pedras comuns para vender é excitante. Essa excitação só aumenta ao passo de não conseguirmos entender porque ele faz isso. Sukegawa não vive por si só, tem uma esposa e um filho e ainda que a miséria esteja sempre batendo à sua porta, o homem sem talento não desvia do seu caminho. Ainda que o trabalho com o mangá pudesse lhe dar uma vida um pouco melhor, ele decide que não quer mais criar e que vai vender pedras e logo depois máquinas fotográficas estragadas que coleta por aí.

Dentre as muitas interpretações que podemos explorar estão as ideias que estabelecemos para definir a arte. O que define o que é arte? Como deve viver um artista? Quem decide o que está agregado de valor ou não? Sukezo Sukegawa demonstra ter perdido completamente o interesse nesses ditames e deseja viver por uma outra ordem, onde o olhar e as expectativas alheias já não são definidores dos seus passos. Ao mesmo tempo que o personagem tem um posicionamento quase apático perante a realidade, consegue também ser provocador, pelo simples fato de não fazer o que se espera dele.

"Uma pedra perfeita exprime a montanha e nos mostra o vale, sugere a nuvem e o vento... revela o universo".

Uma outra interpretação possível está no roteiro que precisamos seguir na vida assim que somos classificados como adultos. Uma fase onde sonho e sobrevivência nem sempre conseguem caminhar lado a lado. Em certo ponto da obra Sukegawa interage com alguns personagens, que assim como ele, fizeram escolhas fora da curva e que possuem um propósito que não é muito claro para quem os observa. É como se fossem pessoas que já não acreditam mais no roteiro e começaram a escrever algo diferente.

site: https://rafamussolini.blogspot.com/2023/05/o-homem-sem-talento-do-yoshiharu-tsuge.html
comentários(0)comente



Luís Gustavo 14/04/2024

Sem talento talentoso
O autor, nesse quadrinho de certa forma autobiográfico, explora questões da miséria, do azar, da falta de apoio e do desamparo.

A história tem um protagonista que deixa sua profissão de mangaka e passa a tentar outras formas de conseguir renda, desde a revenda de máquinas fotográficas consertadas até venda de pedras - dentro do Suiseki, a arte japonesa de contemplação de pedras. Ele é acompanhado de sua mulher e de seu filho que exercem papéis diferentes na narrativa.

Um dos pontos que me lembrou um outro livro que li esse ano (Diante da Dor dos Outros, da Susan Sontag) foi a forma que o autor/protagonista busca enxergar miséria e ?fracasso? (com todas as aspas possíveis) nos outros como forma de se reconfortar. A todo momento isso aparece de forma direta ou indireta.

Quadrinho bom!
comentários(0)comente



henyasan 31/01/2024

Fiquei de birra mas bão
Bão demais. não desconfiei do assassino e fiquei de birra mas não posso deixar de dar 5 estrelas por birra. é bão demais
henyasan 31/01/2024minha estante
eu fiz a resenha do livro errado me perdoem




Robremir 22/01/2024

Escalada de miséria
O mangá tem seis partes, e o que lemos durante o mesmo é uma escalada de miséria, com algumas cenas bastante chocantes.

Não sei se é um texto sobre a falta de talento. Ele tem talento como mangaká, tem talento para consertar máquinas, a coleção de pedras é bonita, ele tem boas ideias, falta oportunidade para ter sucesso. O mangá é sobre isto, a oportunidade de sucesso, e sobre como se lida com isso

Marcelo Quintanilha citou a miséria de Vidas Secas no Prefácio. Durante o quarto e o sexto capítulo eu fiquei com A Pomba do Patrick Süskind na cabeça.

Ainda estou refletindo sobre o final. Qual a importância de se descobrir que os miseráveis têm pares. Diminui a solidão? Diminui a sensação de que só você é azarado, amaldiçoado ou esquecido por Deus? O quanto da tua miséria é repassada para você pelas outras pessoas? Conhecer alguém mais miserável diminui o peso da tua?

Enfim... Este é um mangá para pensar e reler no futuro
comentários(0)comente



mcnmelo 13/01/2024

O caminho do abismo
E então... Finalmente li o "Homem Sem Talento", mangá que já há algum tempo me enchia de curiosidade. Sukegawa é um mangaká que abandona seu ofício de mangaká para vender... pedras.

Inevitavelmente, o negócio se mostra sem futuro, já q não há interesse de ngm em adquirir pedras.
Essa história mostra q às vezes é possível se por no caminho de falha de modo consciente - mto a se refletir sobre essa "consciência".
Tudo em volta é contaminado de um silencioso desespero.

Chama a atenção a mulher de Sukegawa que a princípio, está sempre de costas p/ele.

A mim, parece ser um símbolo claro de um mundo q vira as costas qdo vc não tem a serventia esperada.
Destaco tbm o seu filho pequeno, Sansuke, q parece salvar Sukegawa de errar outras vezes.
O caminho é perpetuado por perdas, seja de pessoas, seja de bens materiais, seja de dignidade...

Mas nunca são perdas que não trazem dor junto. E a dor maior, é a da consciência - ou resignação de estar indo para o caminho do precipício, e não conseguir fazer nada, a não ser seguir direto rumo ao abismo.

Um grande quadrinho. Amargo, e grandioso.

(Originalmente escrito em: 18/07/2022)
comentários(0)comente



Gabriel.Diniz 10/01/2024

A Implacável Sede de Águar.
Esse livro mexeu muitíssimo comigo... o gênero dele é Watakushi (um mangá autobiográfico mais auto-filosófico).

Tsuge cria uma narrativa densa e pesada sobre o constante fracasso e desprezo de um homem que decide vender pedras na beira de um rio lotado de pedras para sobreviver tendo uma esposa sempre exausta e um filho sempre doente.

Entre as dezenas de reflexões e introspecções sobre desprezo, miséria, etc., nada mexeu mais comigo do que a constante crítica ao aceleramento social que destrói as finíssimas artes da contemplação.
essa narrativa sublime e subliminar constantemente traça essa disputa, a sensibilidade sobre contemplar o mínimo com encanto e respeito, e à hiperatividade que inutiliza a arte e o tempo "não-útil".

Acho que passei grande parte da minha vida me sentindo como um vendedor de pedras. Tendo a oferecer para o mundo um total de nada que o mundo considere de valor. A arte e a poesia sempre foram minha vida durante minha juventude e adolescência. Tudo que mais sabia fazer, mais amava fazer, mais me dava alegria de viver, era nada além do que existe enquanto ?distração? para muitos.

Acho que o livro, entre muitas coisas que me atraiu, me chamou a lembrar a importância de questionar, como Krenak diz, se a vida tem utilidade. Porque sinto que isso é uma redução tão imensa da vida? fazê-la ser útil. Além de me despertar novamente a certeza que preciso aprender a contemplar mais e melhor.
comentários(0)comente



Garoto em Verso 29/12/2023

Minha Pequena Obsessão Vazia
Fascinado com esse título desde que me deparei com o mesmo em um canal literário aleatório, não sabia exatamente o que imaginar pelos leves spoilers que tomei. Imaginei uma história trágica, porém, o que recebi foi uma boa dose para reflexões interiores. 

O Homem sem Talento, de Yoshiharu Tsuge, conta a história de um homem que vende pedras à margem de um rio, sua trajetória com sua esposa e filho por momentos de miséria e sua busca por absolutamente nada.

Temos um protagonista egoísta e cabeça dura, sonhador e ambicioso, ou melhor, que acredita ser, temos uma família caindo aos pedaços, colada junta pela necessidade de sobrevivência e uma pletora de personagens secundários, cada qual com seu pequeno projeto vazio. 

É uma história desconfortável de ler, creio que o autor sabia bem que estava causando esse desconforto. Existe algo inegavelmente falho em Sukezou e suas "ambições" egoístas, porém não deixa de ser real, são muito mais comuns sonhos de enriquecimento do que milhonarios.

Esse miserável livro sobre a miséria da alma e o "nada" é sensacional, uma das melhores leituras do ano, porém com certeza não deve ser lido quando se está numa baixa profissional. Admito, eu mesmo já quis jogar meu talento fora e vender.pedras.na beira de um rio. 
comentários(0)comente



Gilson.Lopes 27/08/2023


Uma obra profundamente emotiva que explora o significado que conferimos tanto às nossas próprias experiências quanto aos objetos que nos cercam. Esta narrativa levanta questionamentos essenciais: Qual é a verdadeira natureza da utilidade e do talento? De que maneira podemos avaliar o genuíno valor da arte? O critério para discernir entre o relevante e o dispensável revela-se um desafio intrigante.
comentários(0)comente



Yuri93 03/07/2023

?Se não vende nada, significa que não fez nada?
Uma fantástica abordagem e visão crítica do capitalismo moderno, o mangá a todo momento questiona a lógica de produção.

Será que um pessoa que nasce sem talento e sem conseguir produzir algo de valor para a sociedade, deve ser destinada a miséria? Mesmo se esforçando tanto?

Obra profunda e bem atual.
comentários(0)comente



luke - among the living. 08/06/2023

´´Tudo o que você faz é sempre sem sentido.´´

´´O homem sem talento´´ consegue ser, ao mesmo tempo, uma leitura breve e profunda. Carrega algumas divagações que tocam na alma e chegaram a fazer os pelos do meu braço eriçarem.


O humor aqui não é gratuito. Nos leva a refletir sobre o que de fato faz sentido nesse mundo em que vivemos.


Como o simples ato de vender pedras.
comentários(0)comente



Pão 04/05/2023

A miséria
Ler sobre a miséria é sempre tão desconfortável e um soco no estômago, que nem tenho muito o falar sobre esse mangá, apenas sentir ?
comentários(0)comente



Paulo.Vitor 13/04/2023

"Tenho medo, sabe? Você sempre se empurra para a desgraça."
O Mangá conta basicamente sobre algumas experiências vividas pelo autor, mesmo que não sejam 100% verídicas. Definitivamente não é uma obra legal de se ler, que vai nos tirar sorrisos e gargalhadas, muito pelo contrário, conta a história de um homem que basicamente, toma atitudes que, propositalmente ou não, o distanciam de ser "bem sucedido" de acordo com as normas atuais.
É bem triste ler que todos ao seu redor o consideram um estorvo, ou um inválido, quando na verdade, por estarmos "dentro" da cabeça dele, entendemos, e com clareza, as intenções e motivações que influenciam e determinam as ações do mesmo.
Creio que vemos durante o Mangá diversas "versões" dele mesmo, e ao final deste, resinificamos a afirmação que compõe o título do Mangá, e que para alcançar tal significado novo, deve-se ler o Mangá.
Ademais, fora as simbologias, que pra mim, são o alicerce principal da obra, temos um relato bem interessante sobre como era a vida marginalizada do Japão nos anos 80.

Comprei faz mais de 1 ano, e só fui ler agora, paguei 35 reais na época, e apesar da leitura rápida (cerca de 3h) vale muito a pena, é capa dura e tem uma ótima qualidade.
comentários(0)comente



Suênya 26/03/2023

O cotidiano da miséria, não a miséria do cotidiano.
É interessante porque é isso mesmo. Essa história descreve muitos comportamentos comuns presentes na miséria. Logo na contracapa lemos que o mangá é uma ode ao fracasso. E o é porque graças ao seu orgulho e arrogância, o protagonista se dirige com entusiasmo ao fracasso, arrastando sua família consigo.

Ele se põe a margem. É evidente que a própria sociedade tem sua parcela de culpa nisso, mas a pretensa superioridade moral dele também. É um homem que passa a considerar sua própria arte inútil, porque os outros não veem a profundidade que ele enxerga. Assim como não veem a importância de nada que ele considera importante, pois em algum momento ?pararam com as coisas inúteis?.

Como vi certas pessoas dizerem, essa é uma história 8 ou 80. Ou você gosta ou não gosta nada. E à princípio você pode sequer entender qual é a graça de um homem simples vendendo pedras. Porém, entremeadas em meio as camadas da narrativa, há certos pontos que merecem observação, sendo o principal deles a questão sobre o propósito da arte.

Aparentemente, mesmo uma boa arte pode conter alguma dose de relativismo. Talvez não para mim ou para você, mas a um outro alguém. É por isso que no ambiente artístico há sempre a discussão do que é arte. Existe, por exemplo, enorme dúvida quanto à mangás serem arte ou não, como é bem mostrado nesta história em que o próprio personagem rejeita suas obras. Isso ocorre pois em parte tratamos arte como um produto a ser consumido.

Durante as páginas, Tsuge vai nos mostrar que não é bem assim. Em sua história, elementos naturais, paisagens virgens e salas são sempre desenhadas de forma mais aconchegante e bela, enquanto os personagens levam características mais grosseiras. De uma maneira ou de outra, isso nos diz que há uma arte que o toque humano não alcança e que não pode ser apreciada apenas como mercado. Uma arte etérea, que está além dos nossos sentidos.

É proposital essa nuance nas linhas dos desenhos, que valorizam mais a natureza que os homens, porque para os japoneses há um grande valor e vida na natureza intocada, merecedora de cultos. Isso chama também a atenção de Marcello Quintanilha, que prefaciou a obra. Para ele, o que lhe voltou os olhos ao mangá de Tsuge, que oscila o ?registro entre realismo e caricatura?, foi justamente a ausência de senso de proporção.

Essa falta de senso de proporção serve à própria expressão do artista. Como observa Quintanilha, há uma interpretação de padrões morais evidentes nos traços de Tsuge. As hierarquias morais dos indivíduos dentro da miséria são estabelecidas conforme seus desenhos: uns são mais trabalhados, outros mais caricatos, e por aí vai.

Para além disso, há o fato de este ser um mangá considerado o precursor do tipo ?Watakusha?, conhecidos como quadrinhos do ?eu?, uma espécie de autobiografia, embora há quem diga que associar detalhes de uma vida pessoal a uma história não quer dizer que necessariamente esteja o autor parafraseando sua vida.
comentários(0)comente



Emerz 10/03/2023

Na obra acompanhamos a precariedade da vida humana e miséria que lhe acompanha, nos colocando sobre o olhar de uma família e nos enquadrando no homem dessa família, nesse pai e marido. Onde deveríamos ter uma figura sólida e de apoio a família, mas aqui nos acompanhamos a sua ruína.

A longo da obra vamos vendo a degradação desse personagem e como a cada momento de sua vida ele escolhe por um caminho que lhe suga mais e mais, lhe fazendo cair cada vez mais e desgraçada, levando a sua família junto.

Vamos vendo ele se deparar com outros personagens que acabaram por tomar por vias erradas e deixa que isso o faça seguir por as mesmas vias. E mais e mais vamos vendo, homens e mais homens sucumbirem a sua própria miséria. Seguindo o ciclo precário que é existir.
comentários(0)comente



56 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR