Paulo 19/12/2019
Sabine cria uma história que explora a capacidade das pessoas em viver em uma sociedade sem o sentido da visão. Um tema explorado por alguns autores dentre eles o genial José Saramago em seu Ensaio sobre a Cegueira. Logicamente que a narrativa da Sabine vai para uma outra discussão e é algo muito mais intimista envolvendo duas pessoas em uma sociedade distópica. Nesse sentido eu senti falta de uma ambientação mais apurada para eu entender o que está acontecendo nesse mundo. Não precisava ser nada muito elaborado, apenas algo para me localizar e entender. Uma página, talvez uma e meia a mais teria resolvido bem.
Mas, o que chama a atenção no conto é a discussão. Um bom twist em uma velha discussão sobre natureza e criação (nature x nurture). Colocando a visão no centro da narrativa, o objetivo é mostrar o quanto uma das personagens sente falta da sua capacidade de enxergar e deseja comentar a sua amada sobre as belezas do mundo visto. Contudo, para a protagonista, o que está sendo colocado por ela é estranho e alienígena demais. Como ela nasceu sem visão, sua vida se focou em desenvolver os demais sentidos. Ela "enxerga" o mundo através da audição, do tato, do paladar e do olfato. Os valores que sua amada coloca não são compreensíveis para ela. De certa forma, a protagonista acaba cedendo como uma forma de amor; Mais tarde, acontece algo que faz ela entender o ponto de vista de sua amada e isso lhe traz saudades dos momentos em que ela descrevia as coisas com tanta paixão.
Sol Medieval é uma história singela e bonita. Faltam alguns detalhes sobre o mundo onde a narrativa se passa, mas a autora compensa com sentimento e emoção. Vale destacar também a personalidade bem estruturada de ambas as personagens que dá complexidade a ambas. Enfim, é um conto curto, mas que vale a pena a leitura e a sua atenção.
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