Gustavo 03/09/2012
Poderia ter sido melhor
O desenvolvimento econômico e social de um país está ligado aos conhecimentos que sua população detém. Seria impossível a produção de processadores de microcomputadores no Vale do Silício se no século passado a IBM não tivesse construído um computador rudimentar com proporções gigantescas. Com o passar dos tempos os conhecimentos vão se ampliando e na economia global que nos encontramos, o conhecimento científico é fonte de poder. Foi o conhecimento científico que viabilizou a exploração da energia contida no núcleo dos átomos, a energia que permite que prótons e nêutrons permaneçam ligados foi utilizada na maior guerra que a humanidade presenciou, mas também foi utilizada para gerar energia com fins pacíficos.
Acredito que essa necessidade de mostrar o mundo da ciência foi o que impulsionou Attico Chassot a escrever o livro. Na apresentação, ele ironiza “Admira, meu filho, a sabedoria divina que fez o rio passar bem perto da cidade.”, alguém que se ponha a questionar, verá que o rio não foi posto divinamente próximo a cidade, mas que gradualmente, as pessoas se estabeleceram próximas ao leito do rio, assim a cidade se formou. A apresentação dá ao leitor uma prévia e também um guia de como encarar o livro e desenvolver sua leitura – “imaginar é fazer imagens”.
Chassot me confunde. Inicialmente ele conta a história da humanidade partindo do evolucionismo, mas no decorrer do livro permite a efervescência cristã vir a tona. É bastante contraditório, levando em consideração os princípios básicos da fé e da ciência. A fé se baseia em dogmas, verdades que não podem ser questionadas, pois se forem, visivelmente não serão verdades. A ciência se baseia em perguntas, ainda que descubra um fato, esse fato levará a questioná-lo e buscar o porquê do mesmo. Como mostrado por Chassot, na Grécia Antiga, surge o conceito de átomo, a partir de pura filosofia, Demócrito de Abdera chega a conclusão de que deve existir uma partícula tão pequena que não poderá ser mais dividida. Exemplificando melhor essas questões, podemos trazer isso para a atualidade, em algo menor do que o átomo. Recentemente, noticiou-se a descoberta da partícula de Deus, a mídia usou e abusou dessa nomenclatura, como se a ciência estivesse se rendendo em uma batalha entre ‘hereges’ e cristãos. O bosón de Higgs, recebeu esse nome do editor do livro de Higgs, quem postulou a teoria. Higgs daria o nome ao seu livro em inglês de ‘The Goddamn Particle’, ou seja, ‘a partícula amaldiçoada’ ou ‘maldita’, dado a dificuldade de encontra-la. O editor do livro sugeriu a alteração no título para ‘The God Particle’, ou seja pura marketing. O conflito entre ciência e fé é constantemente alimentado por esse tipo de ideia.
Indo para o capitulo 4, gostei muito do destaque dado aos outros povos da humanidade, já que em geral ignoramos a existência do oriente e de uma cultura completamente diferente. No entanto, na página 60, Chassot exemplifica os conhecimentos maravilhosos das outras populações com o Pilar de ferro de Delhi, na Índia. Supostamente o pilar não teria sofrido nenhuma oxidação em quinze séculos.
“Pilhar de ferror de Delhi, na Índia, que, sem ferrugem há mais de quinze séculos, evidencia o grande conhecimento hindu da metalurgia.” (p. 60)
Em pesquisas, encontrei algumas informações que contradizem bastante tal ferro inoxidável, a maior parte das pessoas que viajou até a Índia diz que há ferrugem no pilar, marca inquestionável do processo de oxidação, e que o pilar é tratado quimicamente para impedir que o processo se acelere. Ceticismo é algo que cabe aos cientistas e publicar algo sem ter visto com os próprios olhos para um publico que precisa aprender sobre ciência não é uma boa opção.
Mais adiante, o autor explora a alquimia.
Nos dá entender que a transmutação de elementos químicos não só é possível, como também é feita naturalmente por plantas e animais (p. 79). É sabido que elementos podem se transformar em outros, como o N em C na altas camadas da atmosfera, ou mesmo a fusão nuclear em estrelas, ou a fissão nuclear resultante do decaimento radiativo.
Não sei qual era o seu objetivo com isso, talvez tivesse meros objetivos didáticos a fim de estimular a imaginação do leitor.
Pessoalmente, gostei bastante do capítulo 6, onde há a exploração de um período muito importante na humanidade e na retomada de novas culturas: o Renascimento. As citações sobre da Vinci são importantes, acho que poderiam inclusive ter sido melhores exploradas, no mesmo período há também o surgimento da imprensa e das ilustrações de excelência. Essas práticas facilitaram certamente a disseminação de conhecimento e informação. Creio que a forma mais interessante surge na Revolução Industrial, quando há o inicio das enciclopédias, Chassot descreve o processo como algo bastante trabalhoso, valoroso, complexo e de grande qualidade. Os produtores das enciclopédias, iam até a fonte do conhecimento, muitas vezes trabalhavam com as máquinas e gradualmente iam absorvendo o conhecimento para que pudessem escrever, é um marco na pesquisa.
A partir consolidação da ciência, o autor cita peças extremamente importante da Idade Moderna: Darwin, Freud, Galvani, Einstein, Marx e os Curie. Todas as histórias são bastante interessantes, em particular os Curie. Uma família que merece todo o destaque cientifico, Madame Curie foi única recebeu 2 prêmios Nobel.
Todos os outros estudiosos atuaram em ramos diferentes, mas que compõe a cultura ocidental, Darwin dá as provas para a teoria evolucionista, Freud explorar a mente humana, Galvani trabalha com a química, Einstein constrói a teoria da relatividade e Marx trabalha com as ideias do mundo social.
Em última avaliação do livro, creio que faltou ampliar os conhecimentos através de outras explicações, principalmente o uso de imagens, já que estas são formas de texto. O livro poderia trazer noções mais claras sobre a química, a filosofia, sociologia, biologia e ajudar na formação de cidadãos. Se o objetivo do autor era simplesmente fazer mini resumos, o objetivo foi alcançado.